A história da Pastoral da Criança no Brasil se confunde com a vida da médica Zilda Arns Neumann. Tudo começou na cidade de Florestópolis, na Diocese de Londrina, em 1982. Lá, o índice de mortalidade infantil chegava a 127 mortes a cada mil crianças. Após um ano de atividade, o índice recuou para 28 mortes a cada mil nascimentos.

 

No Sudoeste, na Diocese de Palmas e Francisco Beltrão, a pastoral completou 25 anos de existência. A programação começou na sexta-feira, 10, com jantar na Churrascaria Marabá. O encontro reuniu autoridades da região e coordenadores estaduais e nacionais da Pastoral da Criança. Mas o ponto alto da comemoração aconteceu no sábado, 11, quando as caravanas das paróquias se reuniram no calçadão da praça central. A pé, levando cartazes e cantando, cerca de duas mil pessoas, entre líderes e voluntários, foram em caminhada até o centro de eventos, no Parque de Exposições Jayme Canet Júnior.

Após a missa celebrada pelo bispo diocesano dom José Antônio Peruzzo, com a presença de vários padres, a coordenadora regional Jurandi Oliveira falou sobre a importância do trabalho das líderes. “Vocês sabem, queridas líderes, que são as pessoas mais importantes da Pastoral da Criança. São vocês que visitam as famílias todos os dias, vocês fazem o trabalho mais árduo. A festa é nossa, da coordenação regional, estadual, internacional, mas principalmente de vocês.” Jurandi agradeceu também o apoio dos prefeitos, que não medem esforços para que as líderes tenham seu trabalho reconhecido nos municípios. “As administrações públicas não medem esforços para o sucesso da Pastoral da Criança”, frisou. A coordenadora se emocionou ao lembrar a idealizadora do projeto, dra. Zilda Arns, dizendo que “se estivesse viva, estaria aqui”.

Pastoral salvando vidas Até sua morte no terremoto do Haiti, em janeiro deste ano, Zilda coordenava cerca de 155 mil voluntários, presentes em mais de 32 mil comunidades em bolsões de pobreza em mais de 3.500 cidades brasileiras. A pastoral estima que cerca de dois milhões de crianças e mais de 80 mil gestantes sejam acompanhadas todos os meses pela entidade em ações básicas de saúde. Atualmente, a pastoral está atuando em 20 países, com cerca de 300 mil voluntários. Num breve relato histórico da entidade, lembrou-se que são cerca de três mil voluntários na região Sudoeste, que já atenderam 11.500 crianças. “Começamos bastante preocupados com a desnutrição e, hoje, estamos cuidando da subnutrição”, afirmou a coordenadora estadual Clarisse Siqueira. Para ela, o resultado positivo da pastoral começa com o trabalho das líderes. “O projeto é da dra. Zilda, mas quem ficou para executar fomos nós. Sem a líder, não existe pastoral. Se a líder não chegar até a família, não temos resultado. São vocês que têm essa bela missão. Parabéns.”

Casal em missão pelo país: nova pastoral a caminho

Faz algum tempo que as líderes da Pastoral da Criança não são apenas do sexo feminino. Homens estão cada vez mais atuantes, e muitos casais voluntários estão ganhando força. É o caso de Alcides Santini, 51 anos, e Erli Santini, 52, que trabalham há seis anos na Pastoral da Criança de Dois Vizinhos, na Paróquia Imaculada Conceição. Erli e Alcides: em 2011 a missão é no Norte do país. Casados há 32 anos e com quatro filhos criados — a filha mais nova completou 18 anos —, eles vão continuar o trabalho da pastoral no Norte do país. O nome da cidade ainda é uma surpresa, mas de uma coisa eles têm certeza: “É nossa missão”. Segundo Alcides, o trabalho da pastoral em Dois Vizinhos mudou a realidade de muitas crianças. “Nós orientamos as gestantes, antes e depois do parto, encaminhamos ao hospital e fazemos o acompanhamento até quando a criança completar seis anos”, explica o voluntário.

Depois de ajudar crianças do Sudoeste, o casal vai seguir para um novo desafio: implantar a Pastoral da Criança numa cidade do Norte do país. Tudo começou em um treinamento em São Luís do Maranhão (MA) durante 13 dias; depois veio o convite, que foi prontamente atendido. “Vamos viajar dia 15 de janeiro de 2011 e ficar nesse lugar até dia 15 de dezembro; será um ano de trabalho numa cidade diferente. Ainda é surpresa pra gente”, comenta Alcides. Dona Erli sabe que o trabalho não será fácil, mas diz que a recompensa é a maior motivação para enfrentar os desafios. “Sabemos que o Brasil é muito grande e existem estados que estão muitos necessitados de uma política pública que venha de acordo com a necessidade dos mais carentes. Vamos para um lugar onde o índice de mortalidade infantil é muito grande, então vamos para implantar a Pastoral da Criança para resolver este problema”, declarou.

O casal, que entrou na pastoral com uma expectativa, disse que na realidade o trabalho é bem diferente. Para Erli, foi Deus que fez o chamado; eles aceitaram a missão. Deixar a família vai ser difícil, mas agora é hora de trilhar novos caminhos, salientou Alcides. “Criamos nossos filhos e entregamos na mãos de Deus, agora vamos cuidar dos outros. Sentiremos muitas saudades, mas o trabalho faz parte, não podemos ficar fechados apenas no nosso mundo. Nossos filhos nos apoiam, estão felizes.” Emoção e reconhecimento Duas das primeiras líderes da pastoral na Diocese de Palmas e Francisco Beltrão, Julieta e Dileta conduziram até o altar, após a celebração, uma foto da dra. Zilda Arns. À frente, veio também a primeira criança atendida pela pastoral, na cidade de Capanema. Hoje, Derli Patrícia Pires Machado não é mais uma criança, tem 21 anos e já é mãe do pequeno João Henrique, 6. “Fui acompanhada desde a gestação da minha mãe, depois sempre fui pesada na pastoral. Hoje meu filho é atendido pelas líderes. A pastoral me ajudou muito; de repente, sem esse atendimento, minha vida teria ganhado outro rumo.”

A coordenadora regional lembrou que Zilda ficou viúva muito nova, e apesar disso, foi um exemplo de mãe. Para ajudar crianças e mães carentes, renunciou a sua própria família. Depois da celebração, o evento continuou na tarde de sábado, com atividades entre as líderes e demais participantes.  


Fonte: Jornal de Beltrão Online- 14/09/2010