Onde ainda é possível navegar, líderes usam lanchas pequenas para conseguir chegar às comunidadesOnde ainda é possível navegar, líderes usam lanchas pequenas para conseguir chegar às comunidades

Para enfrentar a desidratação, Pastoral da Criança recorre a velhos aliados: o soro caseiro e a colher medidora

 

Em meio à uma das piores secas da história, que já atinge 770 mil pessoas, os líderes voluntários fazem o possível e o impossível para manter as ações da Pastoral da Criança no Amazonas. Além dos transtornos enfrentados pelas famílias acompanhadas, principalmente aquelas que moram em comunidades mais distantes e mais vulneráveis, os próprios líderes convivem com as consequências da falta de chuva e do excesso de fumaça.

"A gente está passando por um momento difícil. Estamos sem água e os poços estão cheios de peixes apodrecendo”.

O relato é da líder Rosângela, da comunidade São Paulo do Coraci. Além de ficarem sem peixe, que é a base alimentar do ribeirinho, a pouca água que resta não pode ser utilizada para beber, tomar banho ou lavar roupa.

“As pessoas procuram poços mais profundos do rio seco para lavar roupa e panelas. Nos demais locais, só podridão e cheiro de peixe podre. Estamos aparando água da chuva para beber, pois dos lagos e rios é impossível de beber. A gente torce para chover para aparar água”, conta Rosângela.

Já na comunidade Ipecaçu, o poço ainda funciona. Mas os moradores estão com medo que a água seque ou perca a qualidade. “A água da chuva que é aparada está com uma coloração escura, como se tivesse passado por carvão”, explica Marly Oliveira, uma das líderes da comunidade.

As duas comunidades ficam no município de Tefé, a 520 km de Manaus, na bacia do Rio Solimões. Tanto o Solimões quanto o Rio Negro atingiram em 2024 os menores níveis da história.

Foto: Ricardo Stuckert/PRFoto: Ricardo Stuckert/PR

Locomoção e acesso às comunidades

Além da falta de água e do apodrecimento dos peixes, as comunidades passaram a conviver com uma outra dificuldade: o isolamento. A coordenadora estadual da Pastoral da Criança Alriani da Silva Santos conta que os líderes não conseguem fazer as visitas, porque na maioria dos casos é preciso chegar de barco. O baixo nível dos rios impede a navegação.

“O barco fica atolado, então não tem como sair. Nossos líderes não conseguem chegar até muitas comunidades. E para as famílias é pior, pois elas não conseguem sair. Elas ficam sem socorro, porque a maioria desses municípios não tem hospital. Então se acontece alguma coisa, a população fica sem atendimento”, conta a coordenadora.

Tefé é um dos municípios que tem várias comunidades isoladas. Para apoiar as famílias em dificuldade, a Igreja está arrecadando água e procurando meios alternativos para fazer a distribuição. A Cáritas Diocesana e a Pastoral da Criança estão engajadas na campanha.

Alriani conta que os moradores estão acostumados com a falta de chuva, mas que nos últimos anos a seca tem sido mais longa e mais intensa.

“Geralmente a gente tinha seca entre outubro e novembro. Este ano já começou em agosto. Estamos preocupados que até novembro piore ainda mais”.

Veja no vídeo a seguir alguns dos efeitos da seca, a partir dos relatos dos líderes da Pastoral da Criança

Fumaça, soro caseiro e colher medidora

Os líderes da Pastoral da Criança também estão orientando as comunidades para os riscos da baixa qualidade do ar, causada pela seca e pelo excesso de fumaça. A temperatura tem beirado os 40°C com frequência e a sensação térmica já chegou a 49ºC em parte do estado.

O calor, a sensação de abafamento e a falta de água tem causado aumento no número de atendimentos médicos. Além da falta de ar, muita gente sofre com a desidratação.

Por causa desse cenário, uma velha aliada dos líderes da Pastoral da Criança voltou a ser protagonista: a colher medidora. Os voluntários têm aumentado a distribuição da colher e incentivado as famílias a fazerem o soro caseiro, garantindo assim a hidratação, principalmente das crianças.

“Os líderes estão dando bastante orientações específicas para a população por causa das queimadas e da seca. Estamos usando muito a colher medidora para fazer o soro, para manter a hidratação”, conta a coordenadora Alriani.

Foto: Ricardo Stuckert/PRFoto: Ricardo Stuckert/PR 

Orientações

De acordo com o Ministério da Saúde, as orientações para a população são: aumentar a ingestão de água e procurar locais frescos; evitar atividades físicas em áreas abertas; não ficar próximo dos focos de queimadas e procurar atendimento médico em caso de náuseas, vômitos, febres, falta de ar, tontura, confusão mental ou dores intensas de cabeça, no peito ou abdômen.

Há aumento do risco de infecções respiratórias para crianças de até 2 anos, idosos com 65 anos ou mais e pessoas com doenças metabólicas e cardiovasculares, e imunocomprometidas. Nesses casos, além da hidratação, é recomendável o uso de máscaras; permanecer o maior tempo possível no interior das casas e com as janelas fechadas; além de evitar atividades físicas.

O soro caseiro ajuda a garantir a hidratação. Clique aqui para saber como preparar.
A colher medidora pode ser encontrada com um líder da Pastoral da Criança.