A Universidade Católica de Pernambuco recebeu, nesta segunda-feira (17), o coordenador estadual da Pastoral da Criança, Agenaldo Lessa, que há 17 anos atua no movimento. Ele falou da história e da atuação do movimento, na promoção à saúde das crianças brasileiras. Estavam presentes também voluntários da Pastoral, alunos e professores da Unicap e a coordenadora arquidiocesana da entidade, Maria do Socorro Aguiar.
O movimento foi fundado em1982 pela médica pediatra Zilda Arns, que morreu em janeiro deste ano, vítima do terremoto no Haiti. Drª Zilda era irmã do então Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. Durante reunião com membros da Unicef (órgão das Nações Unidas para a Infância), o religioso recebeu um pedido para que a Igreja Católica no Brasil desenvolvesse ações para a diminuição da mortalidade infantil. Dom Paulo pediu o apoio da irmã e, no ano seguinte, a Pastoral da Criança começava suas atividades, no estado do Paraná. Atualmente o movimento, que tem a aprovação da Igreja Católica, conta com cerca de 300 mil voluntários, sendo 11 mil em Pernambuco.
O lema da instituição é “eu vim para que todos tenham vida”, baseado num trecho do evangelho de São João. As atividades consistem em visitas dos voluntários às famílias assistidas, cerca de 15 por agente. Nessas ocasiões, não se faz apenas verificação de indicadores como peso e altura, mas também um trabalho de evangelização, que envolve todos que vivem na casa. “Para a Pastoral da Criança, é fundamental atingir a família”, lembra Agenaldo. Outra atividade é a chamada “Celebração da Vida”, ocasião em que a comunidade se reúne num local público para debater assuntos de interesse da comunidades.
Um dos grandes trunfos da Pastoral é redução da mortalidade infantil, que aconteceu, entre outras causas, por conta da desnutrição. Para enfrentar esta moléstia, foi desenvolvida a multimistura, que tem entre seus componentes, casca de ovo e farinha de milho. O composto ajudou a salvar vidas, mas atualmente seu uso vem diminuindo, após trabalhos científicos demontrarem que o maior problema para as crianças de hoje não é a desnutrição, mas a anemia, que pode ser agravada pela multimistura, de acordo com explicação do coordenador estadual.
Todo voluntário tem uma história par contar sobre crianças salvas da morte. Um dos casos é o de um menino de um ano e oito meses, da cidade de São Lourenço, cuja família havia sido desenganada pelos médicos. Após três meses de acompanhamento, ele se recuperou e hoje tem cinco anos.
Embora seja um movimento Católico, a Pastoral também conta com voluntários de outras denominações religiosas, e atende famílias não católicas, sem nenhum tipo de conflito por conta das diferentes profissões de fé. A dinâmica da Pastoral se assemelha ao modo de trabalho, dos agentes comunitários de saúde, programa inspirado na organização católica. É comum até que vountários da Pastoral sejam agentes de saúde nos bairros onde vivem.
Coordenador da Pastoral, em palestra na Católica
Após a palestra de Agenaldo Lessa, o público fez perguntas e observações. Um dos participantes ressaltou a necessidade da população olhar para crianças abandonadas, quando muitos estrangeiros vêm fazendo esse trabalho sem nem ao menos conhecerem as pessoas assistidas. Uma pergunta se referia às principais dificuldades para que a Pastoral da Criança atinja mais famílias. O maior empecilho, de acordo com os organizadores da entidade, é a falta de voluntários.
A mortalidade infantil em 1982, ano de fundação da Pastoral da Criança, atingia cerca de 64 crianças menores de um ano para cada mil nascidas vivas. Em 2006 essa taxa era de 20 para cada mil nascidos vivos, de acordo com o Ministério da Saúde. Muito da redução se deve às ações deste movimento.