
Alguns profissionais de saúde estão erradamente recomendando que as mães parem de amamentar se forem infectadas pelo coronavírus, afirma Dr. Cesar Victora em artigo publicado pela Revista Lancet.
Artigo publicado recentemente na revista científica Lancet, uma das mais conceituadas do mundo, apresenta evidências para contribuir na decisão de políticas públicas relacionadas à amamentação e infecção por Covid-19.
O texto, de autoria do Dr. Cesar Victora, médico brasileiro e uma das maiores autoridades do mundo sobre amamentação, aborda as evidências disponíveis em relação aos benefícios de manter a amamentação quando a mãe apresenta infecção por COVID-19. O artigo reforça que já há evidências de alta qualidade que mostram os benefícios do aleitamento materno exclusivo, do contato pele a pele logo na primeira hora de vida, do cuidado responsivo na sobrevivência, saúde e desenvolvimento infantil.
Mesmo assumindo que existem altas taxas de transmissão de mãe para filho de SARS-CoV-2 por contato e através do leite materno, as mortes adicionais entre bebês recém-nascidos e bebês em países de baixa e média renda que fossem separados das mães e não amamentados seria aproximadamente 67 vezes maior do que o número de bebês recém-nascidos e bebês com probabilidade de morrer por conta de COVID-19.
Segundo o autor, a presença de moléculas de RNA SARS-CoV-2 no leite materno é uma observação importante, mas não justifica uma decisão de saúde pública baseada apenas neste achado. Dr. Cesar Victora ainda reforça que "não há nenhum caso comprovado de transmissão do coronavírus pelo leite materno e, mesmo que houvesse uma transmissão, o risco de morte devido a não amamentar seria quase 70 vezes superior ao eventual risco de uma criança após contrair COVID-19 pelo leite materno. Apesar disso, há profissionais de saúde que estão erradamente recomendando que as mães parem de amamentar se forem infectadas pelo coronavírus".
Como reforço dessa questão, o artigo cita que o contato com a mãe ou a amamentação não são as únicas maneiras dos bebês se contaminarem pela COVID-19. Em pesquisa nacional brasileira, 13 (35%) dos 37 familiares de participantes com teste positivo para anticorpos SARS-CoV-2 também testaram positivo, ou seja, a transmissão também pode ocorrer por exposição a cuidadores infectados, mas assintomáticos, em casa, em unidades de saúde ou na comunidade. Dessa forma, para se ter a proteção completa do bebê, este deveria ser removido de sua própria casa, o que é irreal.
Para o Dr. Nelson Arns Neumann, Coordenador Internacional da Pastoral da Criança e Doutor em Saúde Pública; "deve-se apoiar que as mães contaminadas pela COVID-19 tenham contato e continuem amamentando seus filhos, procurando manter as medidas de prevenção de transmissão, como lavar as mãos e usar máscaras faciais. Os benefícios da amamentação sobre a sobrevivência infantil superam todas as outras causas de morte que a falta dessa possa levar. A mensagem dos profissionais de saúde para as famílias sobre o apoio à amamentação deve ser clara".
Pastoral da Criança, há mais de 37 anos, vem apoiando a amamentação acreditando que é dever de toda a comunidade criar condições para as mães amamentarem e promover o aleitamento materno. Hoje, por meio do Aplicativo Visita Domiciliar e Nutrição, todos os voluntários e famílias acompanhadas recebem informações confiáveis e alertas sobre qualquer atualização sobre a pandemia no "e-Combate ao Coronavírus", com base nas informações da Organização Mundial da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria, Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e protocolos do Ministério da Saúde.
No link abaixo é possível acessar dados sobre a atuação da Pastoral da Criança em defesa do aleitamento, números e demais informações sobre todas as ações realizadas:
Relatório Anual da Pastoral da Criança 2020
O artigo completo da Revista Lancet pode ser encontrado em:
https://www.thelancet.com/journals/langlo/article/PIIS2214-109X(20)30538-6/fulltext