Cerca de 800 pessoas assistiram nesta segunda-feira, na Catedral da Sé, no centro de São Paulo, a missa de 7ª dia da morte da médica e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, do chefe-adjunto civil da missão da ONU no Haiti, Luiz Carlos da Costa, e dos brasileiros mortos no terremoto de magnitude 7 que atingiu o Haiti na última terça-feira (12).



A celebração, que foi presidida pelo vigário-geral de São Paulo, dom Tomé Ferreira da Silva, contou a presença de autoridades como o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), a vice-prefeita, Alda Marco Antônio (PMDB), a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), o secretário de Gestão do Estado de São Paulo, Sidney Beraldo, e o secretário municipal de Transportes, Alexandre de Moraes.

Com presença de voluntários da Pastoral da Criança e da Pessoa Idosa, ambas fundadas por Zilda, a missa teve o momento de maior emoção na benção dos símbolos do trabalho da médica, como a colher para medir soro, e das publicações da entidade. O dinheiro arrecadado na missa, que durou mais de duas horas, será enviado ao Haiti.

Em discurso durante a missa, Kassab falou da parceria que Zilda tinha com o Prefeitura de São Paulo nos "desafios no campo social". Para ele, "a Pastoral da Criança irá preservar a memória de Zilda". O prefeito ainda expressou, em nome dos paulistanos, o sentimento de pesar com a morte da médica.

Já Erundina, que era amiga pessoal de Zilda, destacou que a médica foi um exemplo de liderança feminina. "Seu trabalho ia além da ação imediata", afirmou. Para ela, Zilda trouxe uma nova expressão de política pública.

Durante o sermão, o bispo da Diocese de Franca (SP), dom Pedro Luiz Stringhini, que até dezembro passado era o responsável pelas pastorais sociais na arquidiocese de São Paulo, afirmou que Zilda Arns é uma referência insubstituível. "A Igreja Católica reconhece a grandeza de sua pessoa".

Stringhini ainda destacou a extensão do trabalho da Pastoral da Criança, que já chegou a 20 países. "Há anos, ela vinha dizendo que era preciso ir ao Haiti. Ela chegou adiar a viagem algumas vezes e infelizmente foi atingida nessa última missão", afirmou o bispo.

Em viagem, o arcebispo Metropolitano de São Paulo, dom Odilo Scherer, deixou uma mensagem para ser lida na missa. "A morte trágica de doutora Zilda colheu a todos de surpresa. De repente, no Brasil todo, e não só aqui, muitas pessoas tiveram a sensação de terem perdido alguém importante da família, da irmã ou da própria mãe", afirmou. Para ele, o exemplo de Zilda irá inspirar outros cristãos, "vivendo com convicção e alegria a própria fé, colocar os dons recebidos a serviço da vida e da esperança do próximo".

Na missa, Maria do Rosário Gazzola de Souza, coordenadora da Pastoral da Criança na Arquidiocese de São Paulo, também falou da luta de Zilda na defesa da cidadania. "Nossa mãezinha era do tipo de pessoa que se vislumbra a alma com o olhar", afirmou.

O corpo de Zilda foi enterrado por volta das 17h de sábado no cemitério Água Verde, em Curitiba. A cerimônia do enterro foi restrita aos familiares. Durante o cortejo pelas ruas de Curitiba, o corpo da médica foi aplaudido.

Pessoas estenderam faixas durante o trajeto de sete quilômetros do Palácio das Araucárias ao cemitério. Escoltado por 20 batedores, o cortejo levou meia hora para chegar ao local do sepultamento.

Um dos filhos da médica, Nelson Arns, coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança, disse que ela sempre dizia que precisava preparar filhos, netos e colaboradores para dar continuidade a seu trabalho.

"Ela vivia cada dia como se fosse o último, estruturando todas as áreas de sua vida de forma a ter continuidade em sua ausência. É isso que dá agora continuidade a tudo", afirmou.

Durante missa de corpo presente, antes do enterro, a família fez uma homenagem a Zilda, apresentando o último vídeo gravado por ela no Natal. Nele, ela agradece a todos os que acreditam na pastoral, apela para que a obra continue, dá graças a Deus pela vida e pelo trabalho e diz que é muito feliz, desejando a todos um feliz 2010.

"O mundo não será melhor se todos ficarem ricos, mas será melhor se todas as pessoas crescerem em igualdade", diz a médica, ao final da gravação.

Tragédia

O terremoto aconteceu às 16h53 desta terça-feira (19h53 no horário de Brasília) e teve epicentro a 15 quilômetros de Porto Príncipe, a capital do país.

Ainda não há um dado preciso sobre o número de mortos. A Organização Pan-americana de Saúde, ligada à ONU, diz que pode ter morrido cerca de 100 mil pessoas. Já o Cruz Vermelha estima o número de mortos entre 45 mil e 50 mil. Nesta sexta-feira, governo do Haiti afirmou estimar em 140 mil o total de vítimas.

Mais de 25 mil corpos de vítimas já foram enterrados, declarou neste sábado o primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive. "Vinte mil corpos foram oficialmente retirados pelo Estado, sem contar aqueles retirados pela Minustah [missão de paz da ONU no Haiti], pelas ONGs e pelos voluntários, que somam por volta de 5.000 a 6.000."

Segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, 17 brasileiros morreram no país --14 militares e mais três civis, entre eles Zilda e Arns e Luiz Carlos da Costa. O corpo de Costa foi encontrado no sábado.

Mais 16 militares brasileiros ficaram feridos no terremoto. Eles chegaram ao Brasil na sexta-feira, e desde então estão internados no Hospital Geral do Exército, em São Paulo, para um período de quarentena.

 

 

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u681290.shtml
DANIEL RONCAGLIA - colaboração para a Folha Online