No mês em que celebramos o Dia Internacional da Mulher, o autor e jornalista Ernesto Rodrigues, responsável pelo best-seller Ayrton, o herói relevado (Editora Objetiva), lança sua mais nova obra: Zilda Arns – uma biografia (Editora Rocco).
Confira a entrevista do Ernesto Rodrigues para a Pastoral da Criança.
Descrita pelo autor como: “um exemplo raro de generosidade, fé, empreendedorismo e coragem”, a médica pediatra e sanitarista, Zilda Arns Neumann, é responsável e mundialmente conhecida pela redução da mortalidade infantil no Brasil e pela melhoria da condição de vida de milhares de crianças e gestantes em vários países do mundo.
A biografia escrita por Rodrigues narra a trajetória completa de Zilda, de sua infância em Forquilhinha (SC), aspectos de sua vida pessoal e os bastidores das diversas iniciativas as quais a fundadora da Pastoral da Criança e Pastoral da Pessoa Idosa se dedicou durante toda a sua vida.
A biografia, lançada em Curitiba no dia 15 de março de 2018, estará disponível para venda nas livrarias de todo o Brasil e no site da Livrarias Saraiva, por R$ 34,90.
Leia agora a entrevista com Ernesto Rodrigues, autor da Biografia Zilda Arns:
Como foi para você pesquisar sobre a vida e obra da Dra Zilda Arns Neumann? O que mais te surpreendeu?
Para mim, foi uma experiência muito gratificante e também surpreendente. Antes, como jornalista e leitor, eu tinha uma visão incompleta dela. Eu via apenas a admirável militante católica que era irmã do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e que se dedicava às crianças. À medida que fui pesquisando e entrevistando as pessoas, fui descobrindo a médica sanitarista revolucionária, a líder carismática de milhares de voluntários e capacitadores, a gestora espetacular, a empreendedora cidadã e a formadora de opinião coerente e absolutamente firme na defesa de suas posições sobre temas importantes para a sociedade brasileira. E, claro, além disso, conheci a belíssima história da família dela, suas origens e os dramas e perdas pessoais que sofreu ao longo da vida. No final, acho que cumpri o objetivo de fazer uma biografia correta, fiel e capaz de dar aos leitores a intimidade que todos procuram quando leem um livro desse tipo.
Percebemos que, muitas vezes, há diversas informações diferentes dependendo de onde se lê. Por exemplo, em alguns lugares citam que ela teve 6 filhos, em outro 5 e é possível encontrar até quem divulgue 4. Porque isso acontece? (Foi divulgado na imprensa que a Dra. Zilda tinha 6, 5 e 4 filhos. Ocorre que quando ela faleceu, ela tinha 4 filhos vivos. Ela teve 6 filhos, mas como o primogênito morreu com poucos dias de vida, ela andava sempre com seus 5 filhos.)
Esse tipo de erro ou imprecisão acontece porque alguns jornalistas às vezes, por preguiça ou falta de tempo, em vez de ler o livro, escrevem baseados apenas em conversas ou entrevistas com o autor cujos registros são feitos na hora, às pressas, sem checagem, no meio de uma ligação telefônica, num bloco de anotações. Daí resultam erros - nas reportagens - como os que você menciona em relação ao número de filhos e irmãos da doutora Zilda, quantos irmãos se tornaram religiosos e as datas certas dos acontecimentos da vida dela. Isso falar de interpretações às vezes exageradas ou distorcidas de episódios da vida dela contatos na biografia. A solução para essas confusões é uma só: ir direto ao livro e conferir o que está escrito nele. Aproveito para esclarecer a questão da quantidade de religiosos: ela teve três irmãs de sangue religiosas e dois religiosos, um deles o cardeal Arns. Mas fazia sempre questão de lembrar que, entre seus dois irmãos de criação, uma se tornou religiosa, totalizando, portanto, seis religiosos.
Uma vez que o espaço de um livro é restrito, imaginamos que nem tudo que você reuniu em sua ampla pesquisa foi utilizado. O que ficou de fora que você gostaria de ter inserido?
O mestre e poeta Carlos Drummond de Andrade já dizia: "Escrever bem é cortar palavras". Ou seja, um jornalista ou biógrafo tem que hierarquizar as informações, sintetizar explicações, encurtar histórias e procurar sempre fazer um texto atraente que prenda a atenção do leitor. Até porque o grau de interesse dos leitores por assuntos ou pessoas varia e muito. O que um biógrafo clássico procura, diferentemente de autores especialistas como um sanitarista, um cientista, um executivo do Terceiro Setor, um teólogo ou um administrador, é um denominador comum de leitores. Daí a necessidade de às vezes resumir, enxugar e sintetizar certas passagens da vida do biografado. Certamente muitas histórias e informações dessas áreas que citei ficaram de fora da biografia da doutora Zilda, mas acho que este é um preço justo em nome do objetivo de despertar o interesse do maior número de leitores possível.
Porque uma pessoa deveria ler a biografia da Dra. Zilda Arns Neumann?
Porque ela foi um exemplo raro e mais do que nunca necessário de cidadania, empreendedorismo, espírito público, competência e coerência religiosa. E por ter transformado radicalmente o cenário de saúde pública no Brasil, além de ter sido uma referência no trato do dinheiro público, no relacionamento com os poderosos, na defesa libertária dos despossuídos e na gestão de ONGs. E por ter feito isso tudo sem exigir contrapartidas de qualquer espécie, incluindo as religiosas.