Um estudo internacional conduzido pelos pesquisadores Abdul Khaleque e Ronald P. Rohner, da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, avaliou os efeitos da aceitação e da ausência da figura paterna para a formação da personalidade dos filhos. Depois de muitos anos de análise, considerando levantamentos de diversas partes do mundo, envolvendo mais de 10.000 participantes, da infância até a idade adulta, a certeza a que se chegou é que o amor do pai é determinante para o desenvolvimento de uma pessoa.

Segundo a pesquisa, o amor de pai contribuiu tanto, ou até mais, para o desenvolvimento de uma criança quanto o amor de mãe. Assim como a experiência de rejeição por parte do pai também é marcante. "Em meio século de pesquisas internacionais, nós não descobrimos nenhuma outra classe de experiências que tenha um efeito tão forte e tão consistente sobre a personalidade e o desenvolvimento da personalidade quanto a experiência da rejeição, sobretudo a rejeição dos pais na infância", relata Dr. Rohner. De acordo com a pesquisa, o impacto da rejeição paterna é ainda maior do que uma rejeição materna.

Consequências da rejeição

Além da falta dos cuidados durante a criação das crianças, período que exige mais atenção, a ausência de um pai ou de uma mãe tem consequências a longo prazo, pelo exemplo traumático que fica. "Crianças e adultos em todo o mundo – independentemente de diferenças de raça, cultura e gênero – tendem a responder exatamente da mesma forma quando percebem que estão sendo rejeitados pelos pais ou pelas pessoas que cuidam deles", alertam os pesquisadores. Neste contexto, as crianças demonstram mais ansiedade, insegurança, hostilidade e agressividade – sentimentos que acabam dificultando também a construção de outros relacionamentos firmes e de confiança ao longo da vida, com seus parceiros futuros.

Uma das explicações para a magnitude do impacto causado por uma rejeição é que essa experiência ativa as mesmas áreas do cérebro que são acionadas quando a pessoa é exposta à dor física. Mas a diferença é que, ao contrário da dor física, que é passageira, a dor emocional pode ser sentida várias vezes, por anos e anos.

Ensinamentos

A responsabilidade de ser pai impõe a dedicação de tempo para o cuidado e o convívio harmonioso com a criança, e momentos intensos de afeto. Estes momentos ficarão marcados nas lembranças da criança, avalia Clóvis Boufleur, gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança. Pesquisas como estas conduzidas por Ronald P. Rohner reforçam as evidências de que a criança necessita do pai como uma referência de amor para aumentar a autoestima, a coragem e a segurança. Esses sentimentos servem como antídotos da violência. “Como previsto no Marco Legal da Primeira Infância, a presença paterna é um direito que começa na gestação e no nascimento, e se perpetua ao longo da vida”, conclui Clóvis.

Fonte:
A. Khaleque, R. P. Rohner. Transnational Relations Between Perceived Parental Acceptance and Personality Dispositions of Children and Adults: A Meta-Analytic Review. Personality and Social Psychology Review, 2011; 16 (2): 103 DOI: 10.1177/1088868311418986.