Zika 01A edição de hoje da revista inglesa Lancet apresenta um artigo que pode trazer um pouco mais de tranquilidade aos pais que estão esperando o nascimento de seus filhos, cheios de dúvidas sobre a microcefalia e os riscos do vírus zika. De autoria do Dr. Cesar Victora – pesquisador, professor da Universidade Federal de Pelotas e parceiro da Pastoral da Criança – o texto "Microcephaly in Brazil: how to interpret reported numbers?" demonstra que as estimativas de casos de microcefalia poderiam variar de 600.000 a apenas 3.000, se o ponto de corte fosse reconsiderado. O critério que se está usando, hoje em dia, superestimaria, ao menos, em 20.000 o número de casos em potencial.

Dr. Cesar faz um alerta. Considerando os encaminhamentos à investigação pelos critérios do Ministério da Saúde, ele destaca que a maior parte das suspeitas não estão sendo confirmadas. E que isso não resolve o problema de que a grande maioria dos casos suspeitos serão crianças normais, as quais receberão a radiação de uma tomografia.

Dr. Nelson Arns Neumann, coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança, acredita que a publicação também traz à tona um aspecto muito importante para a discussão desta questão de saúde pública: o estado emocional dos pais que estão sendo bombardeados por boatos e novos casos descobertos a cada dia, além da dificuldade dos serviços de saúde darem conta deste tema que é tão recente. "Considerando que o SUS não está dando conta do excesso de demanda, haverão muitos pais extremamente preocupados, por muitos meses, sem qualquer razão, caso se utilizasse um critério de seleção mais exato. 'Primum non nocere' (primeiro, não prejudicar): há risco de danos ao cérebro durante a tomografia cerebral que é 100 vezes maior que um Raio X de pulmão, por exemplo. Assim, o critério mais elástico atualmente usado pode expor, sem necessidade, muitas crianças a este risco", afirma.

Confira o artigo publicado, em inglês (Revista Lancet, Volume 387, Número 10019, p. 621-624, de fevereiro de 2016).

Oportunidade inesperada

Outro artigo, publicado na mesma edição desta revista, traz mais uma provocação, ao afirmar que são os governos, e não os médicos, que derrotam as epidemias, visto que é responsabilidade dos líderes políticos proteger a saúde de suas populações. E isso depende da organização da sociedade, como um todo. Para Richard Horton, autor do artigo, o vírus zika veio como uma oportunidade inesperada para o Brasil e não deve ser perdida, no sentido de exigir e promover melhorias no sistema de saúde que devem ficar a longo prazo.

 

Mobilização nacional contra o Aedes Aegypti

O vírus da zika, que é uma das causas da microcefalia, é transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, o mesmo transmissor da dengue e da febre chikungunya. Para se prevenir, o primeiro passo é cuidar do meio ambiente, evitando deixar água parada em locais em que o inseto possa depositar suas larvas e se reproduzir.

Neste sábado (13 de fevereiro), há um compromisso sério marcado na agenda de todos os estados brasileiros: uma mobilização nacional que terá a participação de 220 mil militares do Exército, Marinha e Aeronáutica. “Junto com profissionais dos estados e municípios, eles vão às ruas orientar a população sobre o combate aos criadouros do mosquito”, afirma a notícia do Ministério da Saúde. A campanha #ZicaZero será realizada em 353 municípios e contará com a distribuição de cerca de 4 milhões de panfletos informativos. Confira os números de militares por unidade da federação e a lista dos municípios que serão visitados.

Outra medida preventiva, possível de se ter em casa e que dura até três meses, é o uso de mosquiteiros impregnados com o inseticida Piretróide (Deltametrina). Para isso, basta diluir em água a quantidade recomendada do produto, agitar, aplicar na rede de proteção e deixar secar na sombra. Manter peixes em reservatórios de água também é uma alternativa. Essas opções estão demonstradas, inclusive, na nova exposição do Museu da Vida, que fica junto à sede da coordenação nacional da Pastoral da Criança, em Curitiba.

Mais ação do que desesperança

Mesmo com tanto ainda a se estudar e esclarecer sobre o vírus da zika, vale lembrar que o desespero não é o melhor remédio. Cada família pode avaliar que ações de proteção estão ao seu alcance e também exigir das autoridades as medidas necessárias para enfrentar este dilema público, sem deixar a preocupação ser maior do que a beleza de quem está gerarando uma nova vida.  

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Estudo colaborativo latino-americano de malformações congênitas (site em espanhol) 
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