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Você já parou para pensar na maneira pela qual as crianças e adolescentes são representados nos programas de rádio e TV? Quantas vezes eles aparecem? Quanto da programação é dedicada a eles ou feita com a participação deles? Eles se interessam pelos conteúdos ofertados?

Neste domingo (1º de março), comemora-se o Dia Internacional da Criança no Rádio e na TV – uma época oportuna para discutir essas questões. Esta é uma data oficial, celebrada todo ano no primeiro domingo de março. Trata-se de uma iniciativa conjunta entre a Unicef e a Academia Internacional de Artes e Ciências de Televisão, instituída em 1994, com a finalidade de chamar a atenção para a necessidade de democratização do conteúdo das emissoras, incluindo o olhar e a voz da criança.

Incluir os interesses da criança

Em mais de 100 países, milhares de emissoras participam deste dia, promovendo uma programação especial, envolvendo crianças e jovens como repórteres e apresentadores, por exemplo, e permitindo a participação deles nos processos de produção. A proposta tem o objetivo de retratar seus sonhos, preocupações e esperanças.

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Clóvis Boufler - Gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança

Mais do que comemorar apenas um dia diferente, lamentar a diminuição do tempo de desenhos veiculados pelos grandes canais ou lembrar dos pequenos que ganham notoriedade em novelas e séries destinadas ao público adulto, a ideia é estimular uma reflexão mais ampla sobre a relação entre as crianças e os meios de comunicação, que, aos poucos, possa promover mudanças no cenário radiofônico e televisivo.

Crianças e os meios de comunicação

Sobre esta temática, confira a seguir a entrevista com o gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança, Clóvis Boufler.

A Rede Nacional Primeira Infância entregou ao governo e à sociedade brasileira o Plano Nacional pela Primeira Infância, que traz diversas conclusões. O que mais chamou a sua atenção?

As crianças em certas faixas etárias passam mais horas em frente à televisão ou monitores de jogos do que brincam ou vão para a escola. A exposição precoce e o tempo excessivo podem prejudicar o desenvolvimento da criança, especialmente nos primeiros anos de vida.

O que é possível fazer em relação a isso? De quem é a responsabilidade?

O compromisso de zelar pela vida de nossas crianças e adolescentes é dever dos pais e familiares, do Estado e de toda a sociedade. Certamente as famílias são favoráveis à existência de diretrizes e recomendações que orientem a regulação dos conteúdos audiovisuais produzidos para o público infantil. É desejável que tenhamos uma política pública de classificação indicativa do que é transmitido, seja na programação televisiva e nas rádios, seja na publicidade ou nos filmes.

Mas o Estado não pode assumir a tarefa que é da família em relação aos filhos. Os veículos de comunicação por seu alcance e gratuidade, como instrumento de entretenimento, formação e educação não se chocam com a necessidade de criar mecanismos de informação e orientação que permitam que os pais escolham o que é mais apropriado para seus filhos, cumprindo seu dever e seu direito de cuidar da formação das suas crianças.

O controle unilateral de conteúdos artísticos ou jornalísticos, por parte de órgãos do governo, é proibido pela Constituição Brasileira. O caminho é conciliar responsabilidade social com a liberdade de expressão. O ideal é que cada veículo de comunicação elabore e divulgue com clareza seu próprio código de ética e os critérios que usam na construção de sua programação.

Como equilibrar o contato com os meios de comunicação e o desenvolvimento infantil?

As crianças podem aprender com o uso de televisão e rádio, mas com tempo, programação adequada e participação dos pais e professores. As crianças precisam de espaços para brincar, exercitar o corpo, a imaginação e compartilhar modos de ser e fazer, entre tantos outros aspectos do desenvolvimento infantil.

A Pastoral da Criança sempre aborda a questão do brincar, não só por ser uma necessidade para o desenvolvimento da criança, mas também porque é um momento de estar junto de seus pais, fazendo atividades com eles. Conversar ouvindo a criança e argumentando com ela vai estreitar a convivência entre mães, pais e filhos e tem mais chance de ser agradável para todos.

Nos dias de hoje, o brincar livre da criança – oportunidade única para ela testar seu corpo e sua mente, inventar, experimentar, se socializar com seus pares – está cada vez mais restrito e monitorado. A brincadeira é a única atividade em que a criança pode fazer livremente suas escolhas, por isso o brincar é uma atividade fundamental para a formação da vontade, da autonomia. Brincando, elas desenvolvem sociabilidade, solidariedade, competitividade, alegria na vitória e tolerância à perda. Na brincadeira de faz de conta, a criança imita a vida dos adultos e procura entender o significado do que eles fazem, aprende a aceitar regras, a imaginar e formar um pensamento apoiado nas ideias que irá ajudá-la nas aprendizagens formais na escola.