A atualização do estudo “Esgotamento Sanitário Inadequado e Impactos na Saúde da População”, divulgado pelo Instituto Trata Brasil (26 de fevereiro) revela que, após dois anos, continua forte a associação entre o saneamento básico precário, pobreza e índices de internação por diarreia. Um dos principais resultados do estudo realizado pela pesquisadora Denise Maria Penna Kronemberger mostra como o saneamento básico inadequado atinge as crianças entre zero a 5 anos.
A pesquisa contemplou os 100 maiores municípios brasileiros em população no período de 2008 a 2011 Ao analisar os índices de atendimento de coleta de esgoto em 2010 (com base nos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS), o estudo apontou que em 60 das 100 cidades os baixos índices de coleta de esgoto resultaram em altas taxas de internação por diarreias. O dado mais preocupante, porém, diz respeito à participação das crianças menores de 5 anos nesse quadro de internações, que representaram 53% das internações por diarreia nas cidades.
“O saneamento básico é fator essencial para a prevenção de doenças e melhoria da qualidade de vida da população”, diz o gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança, Clóvis Boufleur. “Internar pessoas por diarreia nos dias de hoje revela a omissão do poder público e mostra o quanto o país precisa avançar para atingir a meta de universalização do saneamento no país”.
Entidade que atua nas comunidades mais carentes em todos os estados do país, a Pastoral da Criança confirma em seus indicadores as consequências da falta de esgotamento sanitário. Dados do 3º trimestre de 2012 registram que das cerca de 1,4 milhão de crianças acompanhadas pelas líderes voluntárias, 5,3% tiveram diarreia. E que 92% dessas crianças tomaram o soro caseiro como medida preventiva.
“Em favelas, a população convive com esgoto a céu aberto, em contato direto com dejetos na porta de suas casas”, diz Boufleur. “Em muitos lugares, os urubus fazem parte da paisagem”. Além das doenças, a falta de saneamento causa outros prejuízos às famílias e principalmente às crianças, observa ele. Doente, o adulto falta ao trabalho. As crianças perdem dias de aulas, ficam privadas do convívio e das brincadeiras com outras crianças.
Nas entidades pastorais da Igreja, “pesquisas como esta do Trata Brasil são proféticas”, frisa Boufleur. “Retratam o fracasso do poder público e a inércia da população em relação aos seus direitos de cidadania”. Ele defende a mobilização da sociedade na defesa de melhor qualidade de vida. “Organizada, a população tem mais força para cobrar a atenção do governo sobre as condições do saneamento”, diz Boufleur.
Destaques da pesquisa do Trata Brasil
. Em 2011, 396.048 pessoas foram internadas por diarreia no Brasil. Cerca de 14% destas internações, mais especificamente 54.339 pessoas, ocorreram nas 100 maiores cidades.
. Em 2011, no Brasil, os gastos do SUS (Sistema Único de Saúde) com internações por diarreia foi de R$ 140 milhões. Nas 100 maiores cidades este gasto foi de R$ 23 milhões, ou seja, 16,4% do total.
. Aproximadamente 20 mil internações – 35% do número nas 100 cidades e 5% das internações por diarreia do país – ocorreram nos 10 municípios que em 2011 apresentaram as piores taxas de internação por diarreia. Foram eles Ananindeua, Belford Roxo, Anápolis, Belém, Várzea Grande, Vitoria da Conquista, Campina Grande, Santarém, João Pessoa e Maceió.
. Desses, Ananindeua, Anápolis, Belém, Belford Roxo, Campina Grande, João Pessoa e Vitória da Conquista se encontram entre os 10 piores no ranking de todos os anos do período analisado. João Pessoa e Santarém têm conseguido reduzir suas taxas.
. Já nas 10 melhores cidades em 2011 foram internadas 1.100 pessoas (2% das 100 cidades e 0,27% no país). Os melhores foram Taubaté, Praia Grande, São Bernardo do Campo, Suzano, Rio de Janeiro, Bauru, Caxias do Sul, Campinas, Montes Claros e Betim, sendo que Caxias do Sul, Rio de Janeiro, Jundiaí e Santos também têm aparecido constantemente entre os melhores no país.
Unicef: diarreia é segunda maior causa de mortes em crianças menores de 5 anos
A Organização Mundial de Saúde (OMS) menciona o saneamento básico precário como uma grave ameaça à saúde humana. Apesar de disseminada no mundo, a falta de saneamento básico ainda é muito associada à pobreza afetando principalmente a população de baixa renda, mais vulnerável devido à subnutrição e muitas vezes pela higiene inadequada. Doenças relacionadas a sistemas de água e esgoto inadequados e as deficiências com a higiene causam a morte de milhões de pessoas todos os anos, com prevalência nos países de baixa renda.
Do total de mortes por diarreias no mundo, 88% têm como causa o saneamento inadequado. Destas mortes, aproximadamente 84% são de crianças (Organização Mundial da Saúde, 2009), sendo, segundo Unicef (2009), a segunda maior causa de mortes em crianças menores de 5 anos de idade. Estima-se que 1,5 milhão de crianças nesta idade morrram a cada ano vítimas de doenças diarreicas, sobretudo em países em desenvolvimento.
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