No município de Japaratuba, no interior de Sergipe, alimentos produzidos em uma área de reforma agrária conquistam, toda semana, destaque cada vez maior na mesa de centenas de famílias. São verduras, legumes, ervas e temperos que dão mais sabor a diversos pratos e, também, à vida de um pequeno grupo de mulheres.

 

 

 

Criado no assentamento Treze de Maio, o grupo de nove agricultoras, batizado de “Lutar para Vencer”, nasceu em março deste ano, a partir da aposta em um novo projeto. A ideia era aproveitar a vocação para o trabalho com a terra, para juntas, contribuírem de forma ainda mais decisiva na composição da renda familiar.

Contando com o apoio de entidades ligadas à Igreja Católica, as trabalhadoras investiram em capacitação e, depois de participarem de diversas oficinas e cursos, implantaram, em maio deste ano, um projeto que ainda é pouco difundido em áreas de assentamento do estado.

Munidas de sementes e equipamentos doados pela Diocese do município de Propriá (SE), as agricultoras deram início a um trabalho com horticultura, visando à produção de alimentos e medicamentos naturais. “A gente decidiu aproveitar a terra, que é muito boa, para produzir o máximo possível. Montamos hortas nos quintais das nossas casas e nos lotes e temos, também, um espaço de trabalho que é comunitário”, explicou Gisélia Brito Fortuna, de 43 anos, uma das líderes do grupo.

O trabalho, realizado em sua maior parte de forma coletiva, não demorou a apresentar bons resultados. Vendidos de porta em porta e em feiras semanais realizadas na sede do município, os alimentos, produzidos sem o uso de agrotóxicos, caíram no gosto dos moradores de Japaratuba. “Nossos produtos nunca voltam. Tudo o que a gente leva para vender, o povo compra. Estamos fazendo muito sucesso”, contou empolgada Maria Madalena Santos, de 38 anos, integrante do grupo.

Os bons resultados alcançados logo nas primeiras vendas estimularam ainda mais a união do grupo, que, desde então, vem ampliando suas áreas de plantio e a renda obtida com as hortas. “Nós estamos plantando cada vez mais. Cada uma está tendo o seu dinheirinho. E esse trabalho também está deixando o grupo cada vez mais unido. As coisas estão melhorando bastante”, afirmou Gisélia.

O sucesso nas vendas e a importância cada vez maior dos lucros obtidos com a horticultura na renda das famílias fez com que o grupo conquistasse até a admiração e o apoio dos homens do assentamento. “Eles estão apoiando o grupo. Nossos maridos já estão ajudando nas roças e sempre podemos contar com todos quando precisamos”, contou a agricultora.

Futuro promissor

Contando nesses primeiros meses do projeto com o auxílio da Diocese de Propriá, que segue fornecendo sementes e promovendo cursos para as agricultoras, o grupo de mulheres do Treze de Maio começa a trilhar seus próprios caminhos, para adquirir autonomia e independência. “Nós já começamos a montar um bom banco de sementes para termos o que plantar sempre, sem precisarmos de doações. Com isso, vamos ganhar mais independência e produzir cada vez mais”, analisou Gisélia.

Para assegurarem a expansão da horticultura no assentamento e dar oportunidade aos mais jovens, as agricultoras também projetam o início de uma nova etapa do trabalho. “Nós somos mães e nos preocupamos com os mais jovens. Perguntei ao meu filho se ele queria aprender a trabalhar nas hortas e ele me respondeu que sim. Então, vamos montar um grupo com os jovens interessados e ensinar para eles como se trabalha com horta. Assim, eles também vão ter uma atividade para começar a vida”, explicou a assentada.

Outro fator que promete estimular o crescimento da horticultura no assentamento é o desejo do grupo de se integrar a programas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e da Prefeitura local, a fim de contribuírem com o fornecimento dos alimentos que compõem a merenda nas escolas do município. “Já estou fazendo contato com a Conab para ver a possibilidade de vendermos a produção. Além disso, vamos aproveitar a lei (Lei nº 11.947) e tentar fornecer o que é produzido aqui para a Prefeitura distribuir nas escolas”, contou Josenildes Oliveira Menezes, extensionista rural ligada à Pastoral da Terra e à Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), que auxiliou na formação do grupo e presta assistência técnica às agricultoras.

Segundo ela, as projeções para o futuro do trabalho das mulheres são as melhores. “Elas têm muita força de vontade e tudo o que aprendem aplicam nos lotes. É um grupo muito bom e o trabalho só tende a ficar melhor”, analisou.

Outra atividade

Outra aposta das agricultoras para a ampliação da renda familiar e a melhoria da qualidade de vida no assentamento está na produção de cosméticos e medicamentos caseiros. Capacitadas em oficinas promovidas pela Pastoral da Criança, elas aprenderam a transformar ervas – como a citronela, a carqueja e a arnica –, em chás e “poderosas” pomadas, capazes de aliviarem dores musculares, alergias e diversos problemas respiratórios e estomacais.

Os medicamentos e os sabonetes, também produzidos à base de ervas, fazem sucesso em todo o assentamento e, em breve, deverão ganhar um espaço especial. “A gente quer montar uma farmácia com medicamentos caseiros. Assim, todos os assentados vão poder ter acesso a esses produtos quando precisarem”, afirmou Maria Amélia Ramos, de 57 anos, agricultora assentada em outra área, mas que presta assistência às mulheres do Treze de Maio.

Apoio importante

Além do apoio para iniciarem as hortas, as trabalhadoras do Treze de Maio contam também com um auxílio fundamental, que vem garantindo maior tranquilidade a todas elas. Por meio de Maria Amélia e de outras voluntárias, a Pastoral da Criança, ligada à Diocese de Propriá, realiza no assentamento um trabalho contínuo, que visa à promoção da segurança alimentar e da saúde entre gestantes e crianças de 0 a 6 anos de idade.

“Nós fazemos uma visita mensal às casas. Lá é feita a pesagem da criança e o acompanhamento da gestante. As mulheres também participam de diversos cursos, que ensinam a enriquecer o leite e outros alimentos’, contou a voluntária. O trabalho realizado pela Pastoral, que recebe o apoio do Banco do Estado de Sergipe (Banese), vem reduzindo os problemas nutricionais registrados entre as crianças do assentamento.

Além da promoção da segurança alimentar, a Pastoral da Criança também organizou no local um curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA). O curso será encerrado no início deste mês. Todo o trabalho foi financiado com recursos do programa “Criança Esperança”, fruto de uma parceria entre a Rede Globo de Televisão e o Unicef – agência da ONU que apoia técnica e financeiramente projetos e ações pela sobrevivência, desenvolvimento e proteção de crianças e adolescentes.

Fonte: Portal do Ministério do Desenvolvimento Agrário.01/09/2009. Disponível em:<http://www.mda.gov.br/portal/index/show/index/cod/134/codInterno/22175>.