Pesquisadores das universidades federais de Rio Grande, Pelotas e Santa Maria e da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança avaliam os efeitos das visitas domiciliares sobre a assistência pré-natal
Cerca de 15% das mães brasileiras não fazem sequer uma consulta de pré-natal e pelo menos um terço delas só inicia o pré-natal quando já não é mais possível prevenir uma série de doenças. Por outro lado, estima-se que, se as mulheres fizessem, durante a gestação, um mínimo de seis consultas médicas, além dos exames clínicos e laboratoriais, o número de óbitos infantis poderia ter uma queda de 10%. Somam-se a isso várias pesquisas que apontam os cuidados em nível domiciliar como uma importante estratégia para a melhoria dos indicadores básicos de saúde. A partir dessas constatações, pesquisadores das universidades federais de Rio Grande, Pelotas e Santa Maria e da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança decidiram avaliar os efeitos das visitas domiciliares sobre a assistência pré-natal. Os resultados do trabalho, desenvolvido na cidade de Rio Grande (RS), foram publicados recentemente na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico da Fiocruz.
Os pesquisadores compararam os impactos de três tipos de visitas domiciliares: as feitas por agentes comunitários de saúde capacitados para a assistência a gestante, as conduzidas por líderes da Pastoral da Criança também treinados para esse serviço e as feitas por líderes da Pastoral da Criança que não receberam nenhum tipo de orientação sobre os cuidados na gestação. As mulheres visitadas por esses três grupos foram entrevistadas no início da gravidez (até a 16ª semana) e no pós-parto.
Participaram do estudo cerca de 360 mulheres. Elas tinham, em média, 24 anos de idade; a maioria tinha até cinco anos de estudos e, para 60% delas, a renda familiar não ultrapassava dois salários-mínimos. As mulheres com maior nível de escolaridade e as visitadas pelos agentes comunitários de saúde foram as que alcançaram os melhores indicadores em assistência pré-natal, seguidas por aquelas visitadas pelos líderes da Pastoral da Criança que receberam capacitação. Os resultados menos satisfatórios foram os dos líderes não treinados.
As gestantes visitadas pelos agentes comunitários de saúde começaram o pré-natal mais cedo: 60,9% delas iniciaram as consultas ainda no primeiro trimestre da gravidez, enquanto, nos outros dois grupos, esse percentual não chegou a 50%. Além disso, no grupo dos agentes de saúde, 53% das mulheres fizeram nove ou mais consultas, contra cerca de 26% nos outros grupos. “Em média, gestantes visitadas pelos agentes comunitários de saúde realizaram cerca de duas consultas a mais em relação àquelas visitadas pelos outros dois grupos”, dizem no artigo o epidemiologista Juraci A. Cesar e co-autores.
Tanto os exames laboratoriais (urina, sangue, HIV e sífilis) quanto os clínicos (aferição de pressão arterial, ausculta cárdio-fetal e medição de peso) também foram mais freqüentes entre as mulheres visitadas pelos agentes de saúde. Além disso, as agentes pertencentes ao grupo dos agentes de saúde receberam com maior freqüência orientação sobre como amamentar ao seio e foram mais comumente suplementadas com sulfato ferroso, substância indicada no combate à anemia. Por outro lado, a realização de exame ginecológico, inclusive o Papanicolau, e a participação de familiares durante as consultas de pré-natal ocorreram, sobretudo, nos grupos visitados pelos líderes da Pastoral da Criança.
Embora os indicadores, no geral, tenham sido melhores entre as mulheres visitadas pelos agentes comunitários de saúde, os pesquisadores lembram que as duas estratégias de cuidados em nível domiciliar – os agentes e a Pastoral da Criança – são importantes e devem ser fortalecidas. “O estudo mostra claramente que eles têm enorme potencial para atuar na assistência à gestação. No entanto, há necessidade de capacitá-los adequadamente, oferecer suporte contínuo e melhorar sua integração com as equipes locais de saúde”, destacam os autores.
Segundo os pesquisadores, os melhores resultados alcançados pelos agentes de saúde podem ser explicados pela alta freqüência de visitas domiciliares realizadas por estes trabalhadores, que fazem parte da equipe da unidade local de saúde e são os profissionais de saúde de mais fácil acesso para as famílias. “A baixa freqüência de visitas domiciliares por parte dos líderes da Pastoral da Criança parece ser um dos principais limitantes ao impacto da sua ação”, argumentam. Cesar e co-autores lembram também as limitações da comparação entre agentes de saúde e líderes da Pastoral, pois os primeiros são trabalhadores remunerados, com jornadas semanais de 40 horas, e os segundos, voluntários que trabalham dois dias por mês. “A melhoria dos indicadores de saúde infantil depende da extensão dos cuidados em nível domiciliar. Esta expansão passa, pelo menos no Brasil, pelos agentes comunitários de saúde e pelos líderes da Pastoral da Criança”, concluem os pesquisadores no artigo.
Publicado em: 20/02/09Fonte: Agência Fiocruz Online