"Mobilização de recursos baseados na fé para o fim da pobreza infantil" é a nova iniciativa inter-religiosa lançada no IV Fórum da Rede Global de Religiões pela Criança (GNRC), realizado de 16 a 18 de junho, em Dar es Salaam, na Tânzania (África Oriental). O encontro reuniu 400 pessoas de 64 países, entre líderes religiosos, defensores dos direitos das crianças, funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU) e representantes da sociedade civil de todo o mundo. Do Brasil participaram do encontro, o gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança Clóvis Boufleur, coordenador do comitê gestor da GNRC no país, e Antonio Henrique de Moura Rodrigues, jovem estudante de Brasília (DF).

 

As discussões do fórum ficaram concentradas em três áreas consideradas as principais causas da pobreza: a corrupção e má governança, guerra e violência e distribuição desigual de recursos. "As crianças estão entre os grupos mais vulneráveis e sofrem profundamente com a pobreza. Portanto, devem estar no centro de qualquer esforço ou estratégia para combater a pobreza", disse Boufleur. Ao final do encontro foi aprovada a Carta de Dar es Salaam na qual os participantes consideram a pobreza como a mais grave injustiça global, o pior e a forma mais extensa de violência.

 

Jovens pedem menos promessas e mais ações

O encontro em Dar es Salaam contou com a participação de 50 jovens. Reunidos dois dias antes do evento prepararam suas propostas expressadas com clareza: o jovens desejam mais ações e menos promessas. Através de encenações, cartazes e músicas, o grupo juvenil apresentou suas ideias e soluções para o enfrentamento da pobreza.

"Um sentimento de responsabilidade global nos contagiou durante o encontro, e pudemos conhecer a partir do testemunho de quem vive a realidade dos países, os desafios que existem para diminuir a pobreza. E são muitos", ponderou Clóvis Boufleur: "compreender quais movimentos as religiões podem fazer de maneira articulada certamente é um desses desafios". Um orfanato na cidade de Dar es Salaam esteve na agenda de visitas dos participantes brasileiros. O lugar abriga dezenas de crianças, muitas delas com menos de cinco anos de idade. Ficam na instituição até completar 18 anos. Raramente são adotadas. "O lugar não tem cor, pinturas ou flores. Falamos às crianças sobre o motivo de nossa vinda ao país", contou Boufleur. Os jovens da comitiva visitante encontraram uma forma de interação com as crianças. "Brincamos juntando todos em uma grande roda", comentou Antonio Henrique.

Declaração de Dar es Salaam da Rede Global de Religiões pelas Crianças

Acabar com a pobreza, enriquecer as crianças. INSPIRAR. AGIR. MUDAR.
Somos líderes religiosos, membros de diferentes tradições espirituais e comunidades de fé, educadores ativos dentro e fora das nossas comunidades, organizações da sociedade civil, jovens e crianças de 64 países reunidos em Dar es Salaam, Tanzânia, 16-18 junho 2012, no IV Fórum da Rede Global de Religiões pelas Crianças.

Acreditamos que todos são igualmente dignos irmãs e irmãos em uma família humana, cujo destino inseparável é o bem-estar de cada criança.

Vemos a pobreza como a mais grave injustiça global, o pior e a forma mais extensa de violência. A realidade das crianças em situação de pobreza nos reuniu para discutir: distribuição desigual de recursos, a guerra e a violência, a corrupção e a má governança. Os valores sobre os quais nossas tradições religiosas são construídas nos obrigam a responder ao desafio da pobreza infantil.

Nós somos obrigados a tratar não apenas as causas sistêmicas e estruturais da pobreza, mas também as suas raízes no coração humano - ódio, ignorância, ganância, medo - para encontrar soluções duradouras. Desafiados pela presença, perguntas e ideias das crianças entre nós, nós nos comprometemos a orar e trabalhar com as crianças e jovens.

Vamos agir através de três iniciativas globais, cada uma das quais aproveita a cooperação inter-religiosa para combater a pobreza infantil, e quando coordenadas e combinadas, podem gerar sinergias. Ao fazer isso, vamos trabalhar dentro de nossas tradições religiosas individuais, cooperar em projetos inter-religiosos, e parcerias com organizações da sociedade civil, agências das Nações Unidas, educadores, governos, bancos de desenvolvimento, negócios, mídia e pessoas de boa vontade.

Aprender a Viver Juntos: Um Programa Intercultural e Inter-religioso de Educação de Ética

Vamos aumentar nossos esforços para implementar e disseminar o Aprender a Viver Juntos, um método curricular que envolve crianças em um processo de aprendizagem autodirigida que explora valores como o respeito, empatia, responsabilidade, reconciliação. A educação ética dá às crianças uma oportunidade para mudar o legado de pobreza e privação.

O Dia Mundial de Oração e Ação pelas Crianças

Vamos expandir o Dia Mundial de Oração e Ação pelas Crianças, uma iniciativa global que mobiliza as comunidades religiosas para promover os direitos das crianças. Ao comemorarmos o Dia Mundial todos os anos, vamos abordar a pobreza infantil, adotando medidas contra todas as formas de violência e práticas nocivas para as crianças dentro das nossas comunidades e além.

Mobilizar Recursos Baseados na Fé para acabar com a Pobreza Infantil

Hoje lançamos uma terceira iniciativa global que conclama o despertar espiritual para enfrentar as causas profundas da pobreza e desafia a distribuição desigual de recursos, guerra e violência, a má governança e corrupção. Ela irá utilizar processos inter-religiosos de comunicação e diálogo (advocacy) e ações de base comunitária para superar a pobreza.

Com a visão de um mundo onde nenhuma criança vai viver na pobreza, nós vamos ativamente envolver as crianças como participantes de pleno direito e atores como defendemos e, ao mesmo tempo, agir em todos os níveis para construir e promover políticas de combate às injustiças contra as crianças. Desta maneira, vamos reafirmar a dignidade humana e tratar de influenciar a agenda de desenvolvimento global para além de 2015.

Finalmente, na comunhão da nossa rede de inter-religiosos, agradecemos a Arigatou Internacional e outros parceiros que apoiaram este Fórum por permitir unir e renovar a nossa promessa às crianças.

Dar Es Salaam, Tanzânia, 18 junho de 2012