Romaria reúne mais de 15 mil voluntários, que são convidados a dobrar o número de líderes

Por Cristiane Reimberg

“Não desanimem nunca. Vocês têm um tesouro, que precisam passar a diante. A nossa Pastoral da Criança é missão de vida”. Essa foi uma das frases da fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Dra. Zilda Arns, que emocionou mais de 15 mil voluntários na praça da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo. Foi assim, com uma romaria de 350 ônibus, que o estado paulista comemorou os 25 anos da Pastoral da Criança no Brasil. “São 25 anos espalhando vida e vida em plenitude. Confio muito em Deus, na providência e no serviço humilde, singelo e discreto de cada um de vocês, líderes da Pastoral da Criança”, disse a coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Ir. Vera Lúcia Altoé.
A festa também serviu para um pedido: dobrar a liderança. O intuito é fazer isso em dois anos. A receita para se alcançar êxito é que cada líder traga mais uma pessoa para atuar na Pastoral da Criança. Os 15 mil voluntários presentes em Aparecida aceitaram o desafio que foi proposto por Irmã Vera.
Já Dra. Zilda acrescentou que o convite deve se estender aos jovens. “Vamos fazer uma forcinha para atrair a juventude para a Pastoral. Ela dá vida nova para a Pastoral da Criança, e a Pastoral também ensina muito. Esses jovens, quando casarem, saberão cuidar muito melhor das crianças. Os jovens precisam de ocupação e como voluntário semeiam a paz na comunidade, no Brasil e no mundo”, avalia Dra. Zilda Arns.
A comemoração, no dia 20 de setembro, reuniu representantes das 46 dioceses do estado. Além das coordenadoras nacional e internacional, a missa também contou com a presença do coordenador estadual, José de Anchieta, assim como de dez bispos, 40 padres e demais coordenações regionais da Pastoral da Criança. Em 2007, o índice de mortalidade infantil entre as crianças brasileiras acompanhadas pela Pastoral da Criança foi de 11 por mil. Já a média entre todas as crianças do Brasil é de 21,2 por mil.
“A gente tem muito a agradecer pelo bem que a Pastoral da Criança faz a todas as famílias que são assistidas por tantos líderes e tantas líderes no Brasil inteiro. Hoje é um dia para dar graças a Deus e dar o parabéns não só a Dra. Zilda, mas a todos aqueles que estão a frente do trabalho da Pastoral da Criança em suas comunidades. Estão a serviço da esperança, sendo discípulos e missionários de Jesus Cristo para que todos tenham vida”, acredita o bispo da Diocese de São José do Rio Preto, Dom Paulo Mendes Peixoto.
Na ocasião, também se falou da Pastoral da Pessoa Idosa, coordenada pela Dra. Zilda Arns. “São as duas pontas da vida. A criança que está nascendo e é frágil, e a pessoa idosa, que já cansou um pouquinho, fica frágil também. Através dessas duas pontas, a gente vai atingir a família toda”, afirma o bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo - Região Episcopal Belém, Dom Pedro Luiz Stringhini.

Emoção foi marca do encontro
Ao olhar para o rosto das diferentes pessoas de cada canto de São Paulo uma marca era comum: a emoção. Todos voluntários mostravam o amor pelo seu trabalho. Esses “paulistas” também eram de diferentes regiões do país. Havia até mesmo a presença de uma das primeiras líderes em Florestópolis (PR), cidade onde foi fundada a Pastoral da Criança.
“Como líder estou emocionada. Quando a Dra. Zilda plantou a semente em Florestópolis, não podíamos imaginar que essa árvore cresceria e daria tantos frutos e tantas sementes. A cada líder eu digo: vale a pena ser líder da Pastoral da Criança porque a primeira pessoa beneficiada é a líder, que estuda, faz capacitações, aprende. A primeira promoção humana é nossa para depois a gente multiplicar”, disse a voluntária de Florestópolis, Eunice Vicente Cardoso.
Histórias interessantes também não faltaram. O casal Mauro e Isaura, de São Carlos, se emocionaram ao ver que Dra. Zilda Arns usava um lenço que ganhou na cidade deles. Verde e com símbolo da Pastoral, o lenço é usado pelos voluntários da região para mostrar que levam a Pastoral da Criança no coração.
Já o voluntário Tadeu Antonio Mayoral Brunatti estava fazendo a cobertura jornalística do evento para a rádio comunitária de sua cidade: Palmital. Desde 2002, ele transmite mensagens diárias da Pastoral da Criança, e o programa Viva a Vida semanalmente. “A pessoa se esclarece ouvindo o programa. Todas as rádios deviam transmitir esse material produzido pela Pastoral da Criança em suas cidades”, recomenda Brunatti.
“Não é possível que as nossas crianças continuem morrendo injustamente por falta da nossa ação de missionário. Para isso, nós precisamos ter essa ação que renove o estado de São Paulo. Eu conto com cada um de vocês. Temos que fazer a diferença entre a multidão, entre aqueles que choram porque estão marginalizados”, conclui o coordenador estadual da Pastoral da Criança, José de Anchieta.

Dra. Zilda Arns conta história da Pastoral em SP
A médica pediatra e sanitarista, Dra. Zilda Arns Neumann, tem 74 anos e foi a fundadora da Pastoral da Criança, em setembro de 1983, juntamente com Dom Geraldo Majella Agnello, atual arcebispo primaz do Brasil e de Salvador. A cidade escolhida para o início do projeto foi Florestópolis, no Paraná. O lema escolhido: “Para que todas as crianças tenham vida e vida em abundância”. Nessa entrevista, a hoje coordenadora internacional da entidade conta como a Pastoral da Criança chegou a São Paulo.

Como foi o início da Pastoral da Criança no estado de São Paulo?
Eu estava no Centro Cultura Missionário, onde eu me hospedava sempre que ia para Brasília. O local dava formação para missionários do exterior. O escritório da Pastoral da Criança também ficava lá. A irmã Piarret, que veio da França e ia para a cidade de Bragança Paulista (SP), se entusiasmou com o trabalho da Pastoral da Criança. Já em um outro episódio, o Dom Luciano pediu que eu fosse fazer uma palestra no bairro do Belém, na capital. O padre Júlio Lancelotti estava presente e me levou para conhecer umas favelas, onde ele foi rezar missa, para começarmos a Pastoral. A Alice Yano, enfermeira, que era do Ipiranga também se interessou. A Alice e a Irmã Piarret foram as primeiras capacitadoras de São Paulo, elas formaram as primeiras líderes comunitárias. Então, começou no Ipiranga, em Bragança Paulista e nas favelas do padre Júlio e depois foi se expandindo. A irmã Ruth Cardoso e a irmã Judith Lupo, que trabalhavam com a Pastoral do Menor também se interessaram e passaram a ajudar a Pastoral da Criança.

Quais eram as principais dificuldades desse começo?
Quando a gente muda de rumo sempre há resistência. Por exemplo, a Igreja não estava acostumada a ter voluntariado permanente, a pesar criança, a recuperar desnutridos, ao soro caseiro, mas eu diria até que as resistências não foram tão fortes aqui em São Paulo. Eu me hospedava na casa de Dom Paulo e me convidavam para dar palestras nas regiões para padres. Então não foi tão difícil. Já nas favelas, em todo o país, não só em São Paulo, a migração é muito grande. As pessoas mudam de um lugar para outro. Então quando já estava organizado, as pessoas mudavam e tínhamos que organizar de novo.

Como a senhora avalia a Pastoral da Criança hoje no estado?
A Pastoral da Criança está muito bem no estado de São Paulo. O pessoal está muito entusiasmado. O governador do estado, José Serra, também está ajudando a manter a Pastoral da Criança através de recursos. Também tem o recurso que vem do Ministério da Saúde, por meio de convênio com a Coordenação Nacional. O negócio é ter boas equipes de capacitação e motivar as paróquias. Como na parábola do bom semeador, precisamos preparar o terreno para que a planta realmente nasça. Precisamos preparar os padres e as irmãs da comunidade. Ver o que já existe para não criar resistência. Depois capacitar os líderes e acompanhar mensalmente porque a missão não termina com a capacitação. A Pastoral da Criança está formando capacitadores nas próprias comunidades porque quando migra uma líder, a capacitadora já forma outra. É muito importante a descentralização e que haja muita união de esforços para que sempre se amplie o trabalho, porque a Pastoral da Criança veio para que todas as Crianças tenham vida. A criança da Pastoral tem mais capacidade, perde menos anos de estudo, é mais desenvolvida por causa do aleitamento materno e de todas atividades da Pastoral da Criança.

Ir. Vera acredita que devemos somar
Ir. Vera Lúcia Altoé tem 51 anos e é formada em pedagogia, pós-graduada em alfabetização e em ensino religioso. Começou seu trabalho na Pastoral da Criança quando foi morar na favela situada no Jardim Vitória, em Cuiabá (MT), no ano de 1997. Passados quase 12 anos, assumiu a coordenação nacional da Pastoral da Criança. Sua missão de coordenar o trabalho de quase 270 mil voluntários é vista por ela como uma oportunidade de gerar vida onde há mais fragilidade. Nessa entrevista, a coordenadora nacional fala dos desafios da Pastoral da Criança.

O que a senhora espera das líderes do estado de São Paulo?
Eu espero que elas continuem aprofundando o que é realmente ser Pastoral da Criança. E nessa motivação profunda, que elas encontrem as respostas necessárias para nós continuarmos avançando cada dia mais. A Pastoral da Criança, de uma maneira geral, já se encontra organizada. Não só no estado de São Paulo como nos outros lugares também. Mas uma das coisas que precisamos fazer é avançar para águas mais profundas. Isso significa consolidar bem aquilo que já fazemos e ter Pastoral da Criança em outros lugares. Espero que possamos nos motivar mutuamente para avançarmos.

Quais seriam os maiores desafios?
Um deles, como podemos constatar, é ampliar o número de lideranças. Precisamos convidar corpo a corpo as pessoas, as lideranças de nossas paróquias e nossas comunidades, as nossas mães. Nessa semana de comemoração, em uma visita no Belém, na cidade de São Paulo, convidamos quatro mães a participar. Está faltando nos imbuirmos desse espírito e dessa convicção de que se estamos fazendo algo maravilhoso, precisamos convidar outras pessoas a somar conosco. Somar é bem melhor que subtrair.