O Vigário Episcopal para a Região de Brasilândia, bispo auxiliar Dom Milton Kenan Junior, faz uma importante reflexão sobre a situação das crianças no Brasil, muitas delas privadas de seus direitos e necessidades básicas e ressalta o trabalho das pastorais na busca de mais qualidade de vida.
No último dia 27 de agosto, em diversas partes do Brasil foram lembrados e reverenciados dois grandes bispos: Dom Hélder Câmara e Dom Luciano Mendes de Almeida; cujos nomes estão intimamente ligados à luta pela democracia e a defesa da justiça, em tempos difíceis, nas terras brasileiras.
Dom Luciano, por muitos anos Bispo Auxiliar de São Paulo e depois Arcebispo de Mariana-MG, deixou à Igreja do Brasil um enorme legado de fé, de compromisso com os mais pobres e testemunho de esperança. Viveu seu episcopado na esteira dos grandes padres da Igreja, que souberam unir a transmissão da fé, a defesa da Verdade e a paixão pela Justiça!
Entretanto, é sempre importante ressaltar que entre as muitas causas que Dom Luciano abraçou, com amor de pai e pastor foi a causa das crianças e adolescentes em situação de desamparo e risco, vítimas indefesas de um mundo frio e desigual, incapaz de reconhecer e respeitar a vida que nasce.
Ao iniciar o mês de outubro, há um grande movimento para a comemoração do Dia da Criança, que coincidentemente (ou providencialmente) ocorre no Dia da Padroeira do Brasil. É tempo de nos perguntarmos: onde estão as nossas crianças? Mais do que deixar-se arrastar pela onda avassaladora da propaganda comercial que visa a cada ano superar metas e bater recordes de venda, é momento de olhar para as crianças e adolescentes colocados em situação de risco, expostos à opinião pública muitas vezes manipulada pelas notícias rápidas dos telejornais que, se não distorcem a verdade dos fatos, nem sempre dizem toda a verdade.
Hoje, não é difícil ler nas entrelinhas das notícias o clamor de centenas de milhares de jovens, crianças e adolescentes, vítimas da violência, do tráfico, do crime organizado, sem acesso à escola com qualidade, ao lazer e divertimento, vivendo em condições precárias, muitos deles obrigados a enveredar pelo caminho do crime e da prostituição como forma de superar a fome e ludibriar a aflição de suas famílias desprovidas de tudo. O Documento de Aparecida alerta: “A situação precária e a violência familiar com frequência obriga muitos meninos e meninas a procurarem recursos econômicos na rua para sua sobrevivência pessoal e familiar, expondo-se, também, a graves riscos morais e humanos” (Dap 409).
No clamor silencioso e angustiante em que vivem centenas de milhares de meninos e meninas que cumprem medidas socioeducativas, privados de liberdade em instituições educacionais - muitos deles vítimas de maus tratos, espancamentos, esquecidos nos abrigos; outros, ainda, expostos pela mídia à condenação da opinião pública, como foi o caso das meninas da Vila Mariana, noticiado nestes últimos meses - está a voz do Cristo que sofre nos pequeninos.
É em vista da difícil realidade que vivem estas crianças e adolescentes que as ações da Pastoral da Criança e da Pastoral do Menor, tendo como referência necessária e absoluta o Estatuto da Criança e do Adolescente (neste ano comemora-se os 20 anos da sua aprovação), nos enchem de esperança.
Na busca da transformação dessa realidade e com o objetivo de garantir o Direito da Criança e do Adolescente, vale ressaltar a iniciativa de toda a Arquidiocese de São Paulo no processo de eleição para os Conselhos Tutelares, que se realizará no próximo dia 16 de outubro, na cidade de São Paulo, e que nos leva a vislumbrar um novo horizonte para as nossas crianças!
Graças ao apoio da Equipe de Articulação em Defesa da Criança e Adolescente, constituída por membros do CLASP, e das Pastorais da Criança, do Menor, da Juventude, e Fé e Política; em parceria com a Diocese de Santo Amaro, foram realizados, nestes últimos meses: encontros com pré-candidatos; fórum de debate e discussão com a sociedade civil; folder explicativo; o encaminhamento das listas de locais de votação e candidatos classificados por regiões episcopais, para todas as paróquias da Arquidiocese, a fim de facilitar o acesso aos locais e a identificação dos candidatos ligados às comunidades católicas. Todas essas articulações revelam o compromisso efetivo da Igreja que acredita no futuro para as crianças do Brasil!
Na cidade de São Paulo, neste ano de 2011, o Dia da Criança desdobra-se no dia 12, com todas as suas comemorações e, no dia 16, com a eleição dos membros dos Conselhos Tutelares, compromisso de todos com as crianças e adolescentes, os mais expostos e frágeis, necessitados do socorro da sociedade.
Destaco, ainda, a iniciativa da Cáritas e da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo com a Campanha “Solidariedade África – O Amor não tem fronteiras”. Uma campanha que visa a educação para a solidariedade, em que as crianças paulistanas das comunidades, escolas católicas e entidades sociais de nossas paróquias demonstram sua sensibilidade para com as crianças da Somália e países da Região Noroeste da África, assolados pela seca e pela fome, onde milhares de pessoas morrem diariamente.
Gestos como esses demonstram que a comemoração do Dia da Criança, para muitos, não se limita numa única data, mas sim a todos os dias do ano, através de gestos pequenos à primeira vista, mas carregados de significado e consequências.
Vamos comemorar sim o Dia da Criança! Lembrando que milhares de crianças esperam por nossa solidariedade, e nosso compromisso em construir um mundo de justiça e paz.
Dom Milton Kenan Junior
Bispo Auxiliar de São Paulo , Vigário Episcopal para a Região Brasilândia