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O nosso ambiente está ameaçado pelo modelo de vida e de desenvolvimento que adotamos nos últimos tempos, baseados no consumo desenfreado, no individualismo do merecimento, no descaso pela natureza como ser vivo, tratando-a como objeto de consumo. “A criação inteira geme...” (Rom 8). Ela geme e grita, porque está submetida, oprimida, coisificada. Há um modelo de sociedade que é responsável por essa situação (Gn 3). São gritos públicos (das pessoas e da natureza). Mas esses gritos não são ouvidos ou são ignorados, ou censurados. Até mesmo silenciados. Ficou “normal”. Mas, é normal devastar a floresta amazônica em nome do desenvolvimento e do capital financeiro? É normal jogar lixo nas ruas e deixar a torneira jorrando água? É por essa norma da violência e do desperdício que queremos continuar vivendo?
Esse ano é muito importante, porque começamos com o desafio de implementar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, compromisso assinado por nosso governo, junto com outros chefes de estado, no ano de 2015. Importante mencionar que as religiões têm um papel fundamental no desenvolvimento dessas temáticas e na implementação das ações. “Venha o teu Reino Senhor”. O que eles chamam de desenvolvimento sustentável, nós, crentes, chamamos de Missio Dei: continuar a missão de Deus no mundo, que seu Reino seja revelado (já está, mas foi sequestrado por grupos opressores), que seu amor cresça e seja o critério último de relações entre as pessoas e com a natureza.
Nossa vocação é amar e sermos pessoas missionárias, ou seja, pastorear. As pessoas batizadas são chamadas a serem pastores (Ez 34, Lc 15, Jo 10), não ovelhas. No batismo, somos revestidos com o Cristo (Rm 6). Somos o povo do cuidado, carinho e atenção para com as pessoas e ambientes vulneráveis e em situação de carência (qualquer carência). Mover-se em direção a essas situações tem sido exigência do fogo do Espírito que nos é concedido diariamente pela misericórdia de Deus: sair de si, tomar atitudes (não apenas discursos), assumir a singularidade da nossa espiritualidade (é para fora, não para dentro). Isso fará ir ao encontro do outro, porque ele é outro e não eu espelhado (Lc 15); cuidar como princípio máximo e fundante da existência cristã; prestar atenção a quem precisa de ajuda, aproximar-se, abaixar-se ao seu nível (querer relacionar-se onde a pessoa está), tocar nela, demonstrar compaixão, gastar dinheiro/recursos, hospitalizar, providenciar espaços seguros de cura e recuperação, voltar para saber se está tudo bem (Lc 10), dizer palavras poderosas de empoderamento e reconhecimento, que fazem a gente mudar de ideia e de rumos (Lc 24).
Que Deus nos ajude, agora e sempre, neste caminho.
Paulo Ueti
Assessor da Pastoral da Criança
Este texto foi publicado na quinta edição da Revista Pastoral da Criança.