Foto: David Castillo Dominici
Quando acompanhou a filha grávida do primeiro filho em uma consulta, Lucileide de Araújo saiu dali com uma certeza: o neto também seria surdo. Por ter mãe e pai que cresceram sem ouvir e falar, o médico disse à avó que era “100% de certeza do bebê também ser”. Mas não foi o que aconteceu com Gabriel, o primeiro filho de Rebeca e Gleidson Araújo. Ao descobrir que estava esperando Lucas, dois anos depois do primeiro filho, a indicação era a mesma. Entretanto, novamente, a previsão médica não se confirmou. “Sabemos que existe um risco ao crescerem, caso eles sofram uma queda, por exemplo. Mas se Deus quiser, não vai acontecer nada com meus netos”, afirma a avó.
Gabriel, atualmente com 6 anos, e Lucas, de 4 anos, tiveram o desenvolvimento conforme esperado para qualquer criança, e há um ano - desde que a Vila Mariana, onde vivem em São Luís do Maranhão, passou a contar com a Pastoral da Criança - o cuidado com os pequenos aumentou. Agora, a líder Rosilene de Jesus Ribeiro mensalmente visita a família e orienta os pais e a avó sobre o desenvolvimento dos meninos.
Cuidado especial
Apesar de conhecer as crianças desde pequenas, estar presente na casa da família como líder é diferente. Para Rosilene, a única dificuldade enfrentada foi a comunicação. Mas isso foi passageiro: durante o acompanhamento, ela passou a aprender a conversar com a mãe através da linguagem de sinais. “A Rebeca está me ensinando”, conta. E essa dedicação faz a diferença para a família. Dessa forma, a líder consegue repassar todas as orientações para a mãe. “Por conta dessa possibilidade [de desenvolver a surdez], estamos sempre observando os meninos. E a Pastoral tem um cuidado especial nesse ponto”, revela a avó.
Dra. Zilda
“O melhor resultado para a paz nas famílias é cuidar bem das crianças, para que elas tenham oportunidade de se desenvolver, tenham saúde, alegria de viver e fé em Deus.”
Papa Francisco
“Precisamos ver cada criança como um presente a ser saudado, acarinhado e protegido”.
Segundo a líder, os pais cuidam muito bem dos filhos, e quando não podem avaliar algum indicador – os relacionados à fala, por exemplo – a avó assume este papel. “Meus netos foram acompanhados pelos médicos até os seis meses para identificar algo relacionado à surdez e à fala”, lembra. É principalmente ela quem leva os meninos para as atividades promovidas pela Pastoral da Criança na comunidade, como nas Celebrações da Vida.
Como não desenvolveram nenhuma dificuldade, agora são eles que ajudam os pais. Segundo a avó, Gabriel começou a aprender com os pais a Língua Brasileira de Sinais (Libras) aos 4 anos, e hoje se comunica muito bem com eles. “Quando eles saem e estão em perigo, é ele quem mostra os riscos e os avisa. Ele é muito prestativo”, relata a avó. Agora é a vez de Lucas, o mais novo, começar a aprender também.
Para a Irmã Veroni Medeiros, da equipe técnica da coordenação nacional da Pastoral da Criança, essa troca é extremamente importante para os pequenos. “A criança é sensível ao outro, aprende a conviver e ajudar o outro no que precisa”, afirma. A família Araújo é exemplo disso: o que poderia ser uma dificuldade para pais e filhos, nessa família, transformou-se em cooperação, conhecimento e mais amor.