Foto: Studio Cl Art
Louça para lavar, criança para cuidar, casa para limpar. Uma mãe se identificaria facilmente com as tarefas citadas. Mas muitas crianças também estão tendo, como parte de suas rotinas, compromissos que deveriam ser assumidos por um adulto. O problema é que geralmente são os próprios pais que não se dão conta de que a criança está assumindo obrigações não compatíveis com a idade dela.
Um exemplo desse aconteceu em Santo André, São Paulo. Uma mãe obrigava a filha de 9 anos a assumir as responsabilidades com os irmãos menores - eram 5 filhos - e ela ia para o castigo se recusasse. A líder Graça Ribeiro, da Paróquia São Geraldo Magella, que acompanhou o caso, conta que as líderes locais tentaram conversar com a mãe e mostrar que não era justo sobrecarregar aquela criança com tantas responsabilidades. “Em todas as visitas, procuramos trabalhar a importância de toda a família participar das atividades domésticas, mas a principal responsabilidade recai sobre os pais”, lembra. Mas a mãe argumentava que a garota era uma mulher e tinha que ter obrigações.
Dra. Zilda
“Precisam ter a oportunidade de nascer com saúde, ter acesso a uma educação para a fé e cidadania”
Papa Francisco
“A família é a comunidade de amor em que cada pessoa aprende a se relacionar com os outros e com o mundo”.
Segundo a líder, depois de várias conversas, a situação melhorou na família, mas ainda não é o ideal. “Ainda estamos monitorando essa família, a mãe hoje está mais receptiva aos nossos argumentos, mas acho que ainda não conseguimos libertar aquela mãe de seus próprios preconceitos, porque foi assim com ela e isso ela passa para os filhos”, explica.
Quando é preciso falar “não”
Quando falamos de crianças assumindo compromissos de adultos, além das obrigações de casa, há um outro lado: o das crianças que decidem tudo, e dos pais que aceitam as decisões sem questionar. Alguns pais não percebem que algumas decisões são responsabilidades deles, e não deve ser levada em conta somente a vontade dos pequenos.
“Vejo isso bem presente na maioria das crianças da nossa região, não na questão de muitas atividades para elas, mais sim na questão de vestimentas e maquiagem”, relata José Gomes, multiplicador da ação de comunicação popular e coordenador de área da Pastoral da Criança na Diocese de Afogados da Ingazeira, em Pernambuco. Ele percebe que muitas famílias não sabem lidar muito bem com este aspecto, fazendo as vontades das crianças: "meu filho quer ser assim, quer usar, vou comprar".
Essa realidade, que se repete em casas de várias cidades pelo Brasil e no mundo, é algo que chama a atenção dos líderes e os faz conversar ainda mais com os pais. “A cada Celebração da Vida da Pastoral da Criança, lembramos sempre as famílias da grande importância de cada fase para criança, falamos que tudo tem o tempo certo”, afirma José.
Outra questão preocupante apontada pelo coordenador é o envolvimento cada vez maior das crianças com a tecnologia: “computadores, celulares e jogos estão tomando conta da infância de nossas crianças, elas já não brincam como antigamente”, observa.
Para um desenvolvimento saudável, a criança deve assumir o papel dela na família, de pessoa em desenvolvimento: que precisa, sim, aprender, mas que precisa também da orientação de adultos; de “sim” e "não” vindos de alguém responsável pelo seu bem estar. Bom senso e carinho são sempre as melhores ferramentas quando falamos sobre a criação dos pequenos.