Foto: Lúcia Schuster
Quem faz parte da Pastoral da Criança sabe que 12 de outubro (Dia de Nossa Senhora Aparecida, no qual se comemora também o Dia das Crianças) não é apenas uma data para presentes e feriados. Muito pelo contrário. É mais uma oportunidade para pautar discussões sobre o presente e o futuro dos pequenos, daqueles que já nasceram e dos que ainda estão por vir. Neste ano, a proposta é refletir sobre um aspecto determinante para as condições de vida na infância e que ainda atinge aproximadamente um bilhão de crianças em todo o mundo, de acordo com as Nações Unidas: a pobreza – lembrada a cada dia 17 de outubro (Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza).
De acordo com um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil ainda está entre os 12 países mais desiguais do mundo – fato que impacta muitos outros indicadores, como acesso à educação, moradia de qualidade, segurança e alimentação adequada. Considerando que a pobreza não é uma questão apenas de renda, mas também envolve esses outros aspectos, ainda há muito a se fazer para combatê-la.
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Erradicar a pobreza: compromisso de todos
O que podemos fazer para acabar com a pobreza que afeta as crianças? (
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança – assinada em Brasília, no último dia 5 de agosto, em reunião do Conselho Nacional de Saúde – foi um primeiro passo para dedicar um olhar prioritário para as populações consideradas mais vulneráveis – crianças com diferenças no funcionamento de seu organismo, de comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas e em situação de rua. A Pastoral da Criança estava presente na ocasião e já vem fazendo sua parte no cuidado destas crianças – contando com o apoio e o reconhecimento da CNBB, como demonstra o texto de Dom Murilo S.R. Krieger, por conta da data comemorativa.
Crianças indígenas: entre a valorização da cultura e a luta por direitos
De acordo com o sistema de informação, a Pastoral da Criança acompanha cerca de 7500 famílias indígenas, em 241 comunidades, de 94 municípios (dados de 2014). Os líderes que vão até as aldeias se deparam com uma realidade preocupante de mortalidade infantil e, com dedicação, vão compartilhando informações e experiências para mudar estes números.
Dra. Zilda
“A gente não pode estar feliz enquanto não acompanharmos a todas as crianças pobres. Que bom se você pudesse nos ajudar a alcançar essa meta de 100% das crianças pobres do Brasil serem acompanhadas, com este trabalho de fé, de vida, de dedicação e de amor, para que todas as crianças possam ter vida e vida em abundância”.
Papa Francisco
“Vocês que vivem dando sempre e acreditam não precisar de nada, sabem que também vocês são pobres? Sabem que estão na pobreza e que precisam ser evangelizados pelos pobres, pelos doentes, por aqueles que vocês ajudam? Isso é o que vos ajuda a amadurecer no vosso empenho e querer ajudar os outros”.
“Os assuntos tratados são alimentação saudável, higiene, importância de lavar as mãos, importância de preservarem a sua roça de toco, onde cultivam os alimentos tradicionais” – explica Lúcia Schuster, coordenadora estadual da Pastoral da Criança no Mato Grosso, que no contato com aldeias de índios Xavantes, percebeu a presença de alimentos industrializados, em especial do refrigerante.
“Tudo é mais lento, mas já podemos perceber a acolhida das crianças e das mulheres, principalmente na Celebração da Vida, o cuidado com as crianças vem melhorando dia após dia. Na hora das brincadeiras, também percebemos que as crianças adoram brincar com coisas muito simples, como pular corda, subir e descer em árvores, corrida, brincar com caixas de papelão...”, descreve a coordenadora.
Se por um lado, as orientações estão chegando através dos líderes, no dia a dia de diversas aldeias, por outro, o exemplo dos indígenas traz à tona uma discussão que vai além. Neste ano de comemorações dos 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente, cabe o questionamento: até que ponto os direitos das crianças indígenas estão sendo respeitados? Para Lúcia, “é difícil falar porque eles não têm acesso e nem conhecimento dos direitos básicos de saúde, educação, nutrição e cidadania”. Um exemplo do resultado do diálogo frequente com a Pastoral da Criança é que agora as mães estão confiando mais e levando seus filhos para tomar as vacinas. E, aos poucos, as gestantes indígenas estão fazendo o pré-natal. “A maioria das mulheres só falam que estão grávidas quando aparece a barriga”, conta.
Lúcia acredita que é preciso fazer parcerias com os órgãos de saúde e outras entidades: “Só unindo forças poderemos diminuir as mortes por desnutrição, desidratação e pneumonia”. Mas ela também destaca que o acompanhamento acontece na base do respeito e do aprendizado com as diferenças. “Nós procuramos sempre respeitar a cultura, incentivar a espiritualidade, fortalecer a comunidade indígena com ações que realmente ajudarão a comunidade. Acredito que a Pastoral da Criança pode fazer a diferença”, afirma. E com certeza ela não é a única que acredita.