Só quem é mãe – especialmente quando se tem o primeiro filho – sabe como pode ser emocionante e preocupante os primeiros dias do bebê em casa. Há o medo de machucar o filho, de não saber pegar direito, de deixá-lo passar fome, de não saber dar banho... Quando a família está presente, identificando as necessidades e colaborando com a mãe, é muito mais fácil. Porém, essa nem sempre é a realidade de todas as casas. “Não são todos os casos, mas há um número significativo de mães que não têm com quem contar”, indica Nádia Aparecida Vidiga, coordenadora da Pastoral da Criança na Paróquia Imaculada Conceição, em Conceição das Alagoas, Minas Gerais. Ela conta que essas mães não têm quem as ajude em casa, e mesmo quando o companheiro chega, ele fica com a criança para que as mulheres façam os serviços domésticos.
Para além das ações diárias, é importante que as mães sejam auxiliadas com informações corretas sobre a melhor forma de cuidar dos filhos. “Os primeiros dias são aqueles em que o líder deve dar mais atenção às mães, especialmente àquelas que não têm um companheiro, que são adolescentes, e que têm sempre a ação da avó falando: 'ah, no meu tempo não precisava disso...'”, lembra a coordenadora da região Norte do Piauí, Bernarda Marques de Lima. Para ela, essas indicações de pessoas mais velhas são importantes, mas nem sempre contam com o conhecimento correto e podem acabar prejudicando a saúde do bebê. “A líder não vai ensinar, mas vai orientar que quando a avó cuidou de seus filhos, era outro tempo. O líder tem o papel muito importante, não de vigiar, mas de orientar”, explica.
Amamentação exclusiva
A orientação das líderes são essenciais em muitas casas. Em Conceição do Alagoas, por exemplo, Nádia conta que se deparou com um caso assim: a mãe foi orientada pela avó da criança a dar leite de lata com um cereal infantil - indicado para crianças somente a partir do oitavo mês - porque seu leite era fraco, já que a mãe era magra. A cada visita, a voluntária percebia que a criança estava acima do peso, mas a mãe afirmava que só dava o leite materno, como ela orientava. O engano foi descoberto quando o pai da criança chegou em casa durante a visita das líderes e contou sobre a indicação da avó. Com a atuação da Pastoral da Criança, “ela concordou em ficar só com o leite do peito e a se alimentar melhor”. E o pai foi o grande diferencial para que as orientações fossem seguidas, afirma Nádia. “Ele é quem mais gosta de seguir as orientações, aceita conversar e tem um carinho muito grande pela Pastoral da Criança. Foi ele que nos ajudou a convencer a mãe a parar de dar o leite da lata”, diz.
Dra. Zilda
“O carinho que a mãe faz no bebê aumenta a capacidade dele amar e se dar melhor com as pessoas para o resto da sua vida”.
Papa Francisco
“Precisamos ver cada criança como um presente a ser saudado, acarinhado e protegido”.
Tido com um dos principais pontos dos primeiros 1000 dias para garantir uma saúde estável desde a infância, a amamentação exclusiva com leite materno até os seis meses ainda gera dúvidas para muitas mães. A coordenadora mineira conta que algumas mulheres ainda são resistentes às orientações da Pastoral da Criança. Entretanto, a maioria acolhe as dicas e passa a utilizá-las.
O problema no local, no entanto, não é apenas com as mães, mas com dois médicos que têm incentivado as mães a dar leite industrializado no lugar do leite materno. Segundo ela, algumas famílias são muito pobres e estão gastando o que não têm pra dar o leite, porque o médico indicou. “Alguns médicos já entregam a receita do leite quando a mãe sai do hospital com o bebê, mesmo a mãe tendo muito leite e a criança já conseguindo fazer uma pega boa”, diz.
“Encontramos uma mãe muito pobre, com a receita na mão, pedindo doação para comprar o leite em lata – apesar de ter muito leite no peito. Explicamos que não era necessário, mas ela não acreditou porque o médico havia indicado”, relata. Este tipo de caso tem aumentado tanto que uma Conselheira de Saúde foi procurada para tentar solucionar o problema. Mesmo sem participar da Pastoral da Criança, a conselheira se disponibilizou a conversar com as mães e gestantes e prometeu uma reunião com a Secretaria de Saúde do município, para mostrar o trabalho pastoral e realizar uma parceria local.
Trabalho recente
Apesar de várias histórias, a Pastoral da Criança no município mineiro retomou as atividades a pouco tempo: menos de oito meses. Quando foi reativada, em setembro de 2014, em três comunidades, o número de famílias foi de 10 para 80, que atualmente possuem mais de 90 crianças acompanhadas. “Mas a nossa meta é maior”, indica a coordenadora paroquial já pensando nas próximas ações.
“Com o fim da capacitação de novos líderes, saímos para fazer visitas. Eles estão muito animados e conseguimos cadastrar novas gestantes e crianças”, conta. Que a dedicação dos mineiros sirva de estímulo e inspiração a todos os líderes que desejam contribuir com a missão de vida plena a todas as crianças, garantindo isso desde seus primeiros dias de vida.
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