As gêmeas participam de todas as atividades da Pastoral da Criança na comunidade. Na imagem, elas levam o banner.
A dislexia é um transtorno específico de aprendizagem e é percebida normalmente quando a criança chega no período de alfabetização. Geralmente os professores notam uma dificuldade pouco maior do que o habitual no desenvolvimento considerado normal para a idade, como foi o caso das gêmeas Bruna e Brena, de Santo Antônio de Jesus, na Bahia. Foi na escola e na catequese que a dificuldade das meninas foi percebida. Onde moram, na zona rural do município, é grande o número de semi-analfabetos, e entre eles estavam os pais das meninas, “por isso não foi percebido pela família”, conta Vanildes Amparo, líder que acompanhou as gêmeas.
Segundo a líder, mesmo após completarem a idade do acompanhamento, as meninas continuaram a participar da Pastoral da Criança. “Elas estão com 10 anos, e agora são apoio da Pastoral da Criança. Isso só aumenta a autoestima delas e com certeza essa dificuldade será vencida”, comenta. Ela relata ainda que as líderes levam materiais como revistas e o jornal da Pastoral da Criança para estimular a leitura.
Diferencial
A líder Vanildes recebeu o título de Cidadã Santantoniense pelos serviços prestados às comunidades através da Pastoral da Criança, as gêmeas estavam entre as crianças que entregaram a premiação. |
Vanildes acredita que o carinho e a dedicação da equipe local em buscar a garantia dos direitos das crianças e de suas famílias é o grande diferencial da Pastoral. Por conta do número de semi-analfabetos, por exemplo, as voluntárias da Pastoral da Criança no município conseguiram sensibilizar a Secretaria de Educação da região para desenvolver um programa de alfabetização para adultos. “Acho que esse vínculo de amor ficará eternamente. Lutamos muito para que os gestores públicos também façam o melhor para que as famílias que moram nesse lugar possam viver dignamente”, afirma.
Acompanhamento estendido
A Pastoral da Criança acompanha prioritariamente as crianças entre zero e seis anos. Após este período, muitas crianças acabam tendo um “acompanhamento paralelo”, já que muitos deles têm irmãos mais novos que continuam a participar; e também porque muitos pais e mães continuam a seguir as orientações adquiridas durante o acompanhamento. Destas famílias, há aquelas que continuam próximas, e acabam retribuindo, tornando-se líderes e dedicando-se a outras famílias. Mas entre acompanhados e ex-acompanhados, a certeza que segue é que, em muitas situações, a Pastoral da Criança é uma referência e um porto-seguro para dúvidas e incertezas.
Sendo a dislexia um transtorno que se percebe em especial durante a alfabetização – após os sete anos, ou seja, quando as crianças já saíram da Pastoral da Criança – há familiares que confiam nos voluntários para buscar ajuda, mesmo que a doença não esteja no escopo da entidade. “Surgiu um caso de um menino que já tinha saído da Pastoral da Criança, mas a mãe preocupada, correu e pediu ajuda a uma das líderes perguntando se conhecíamos algum profissional que tratasse sem cobrar. Como em nossa Paróquia não conhecíamos ninguém, lembramos da visita de uma psicóloga da prefeitura que veio em uma reunião”, lembra Eunice Koga Carvalho, líder em Taubaté, no estado de São Paulo.
Dra. Zilda
“A solidariedade é a grande alavanca para a paz”.
Papa Francisco
“Crianças crescem nos seus valores, nos altos ideais e na genuína preocupação pelos outros”.
Segundo a líder, a mãe tinha dificuldade em lidar com a atitude do filho e ficava nervosa. “Ela não queria bater, mas falava alto e de forma ríspida”, lembra. A família foi encaminhada para ser ajudada pela psicóloga e, hoje, quando a líder encontra mãe e filho, ela consegue ver a diferença. “Noto que ele e a mãe estão melhores. Ela porque soube controlar sua maneira de tratá-lo, e ele, mudou o comportamento”, relata. Muitas vezes, é essa esperança das famílias – a maioria com condições menos abastadas – que faz com que a instituição seja uma referência de atendimento e busca da garantia de direitos.
Alguns comportamentos tendem a denunciar o transtorno antes mesmo do período escolar. Por este motivo, as mães e líderes devem ficar atentas se a criança é dispersa demais; tem um atraso incomum para desenvolver a fala e a linguagem; não consegue aprender rimas e canções com facilidade, ou tem um fraco desenvolvimento da coordenação motora. Estes são alguns dos sinais, mas somente profissionais qualificados são capazes de identificar o problema e dar a solução correta para cada situação. Lembre-se sempre disso e procure ajuda adequada se desconfia de algum caso de transtorno na sua comunidade.