A Pastoral da Criança tem sua atuação voltada ao bem estar da criança desde o ventre da mãe. Mas as ações não param nos pequenos, elas se estendem à família: a importância da paz no lar é pregada diariamente por líderes para que todas as crianças possam ter um ambiente favorável para um crescimento saudável. E as mulheres têm papel essencial neste trabalho. Tanto a mãe, que cuida do filho durante toda a sua gravidez e depois do parto, como a líder que a acompanha, tira dúvidas, dá dicas e compartilha, com a família atendida, o cuidado da casa.
A Pastoral da Criança desde seu início tem na mulher uma força para desenvolver suas ações. Historicamente, a instituição foi, talvez quase sem querer, um espaço de descoberta e empoderamento para muitas das mulheres que atuam na instituição. Fundada por uma mulher, Dra. Zilda Arns Neumann, a Pastoral da Criança tem em Maria, mãe de Jesus, o exemplo de dedicação e cuidado com seu filho e também com aqueles que o seguem (Jo 19,26-27). Os números indicam que entre os líderes, 91% são mulheres. “Eu aprendi a pintar para que eu pudesse ajudar. Já fiz dois trabalhos voluntários em áreas quilombolas distantes da minha casa, de onde eu moro, com o intuito de ajudar as mães da Pastoral a ter uma fonte de renda”, conta Maria Neci Alves de Oliveira, de São Luís do Maranhão (veja o vídeo completo abaixo).
O próprio Papa Francisco reconhece o fundamental papel da mulher na sociedade atual: por diversas vezes em seus discursos ele toca o tema, e ainda na Exortação Apostólica cita que “as revindicações dos legítimos direitos das mulheres, a partir da firme convicção de que o homem e a mulher têm a mesma dignidade, trazem para a Igreja questões profundas que a desafiam e que não podem ser encaradas superficialmente” (EG, 104).
Dra. Zilda
“Para mim, as mulheres da Pastoral da Criança são como as mulheres da Bíblia: Maria, a mãe de Jesus, que visitou sua prima Izabel, que estava grávida, e foi acendido o primeiro fogo de São João; Maria Madalena, a prostituta arrependida, pela qual Jesus nos ensinou a olhar primeiro se nós cumprimos com nosso dever, antes de jogar pedras nos outros; Ruth, Esther e tantas outras que ajudaram de forma tão humilde e inteligente a salvar o seu povo do domínio dos opressores”.
Papa Francisco
“As mulheres têm muito a nos dizer na sociedade atual. Às vezes, nós, os homens, somos muito ‘machistas’. Não damos espaço às mulheres, mas elas são capazes de ver as coisas por um ângulo diferente do nosso, com um olhar diferente. As mulheres são capazes de fazer perguntas que nós, os homens, não conseguimos entender”.
Na Bíblia não são poucos os exemplos de mulheres fortes e corajosas. Desde Eva – confundida ao longo da história como uma mulher sedutora e não como a mãe de todos os seres vivos – até Maria Madalena, o livro descreve diversas vezes as mulheres como fortes, sábias, rainhas e juízas, apesar de viver em um tempo de opressão. O encontro de Jesus com algumas mulheres mostra a força delas em deixar tudo para trás e seguí-lo: a transformação de suas vidas.
Engajamento contínuo
E isso continua acontecendo nos dias atuais. Assim como ocorreu com Maria Neci, centenas de outras mulheres entram na entidade e vão além do que imaginavam ser possível para ajudar o próximo. O resultado? Mudar a própria vida. “A Pastoral da Criança me fez outra outra Ana Lúcia, eu tenho a maior felicidade em pertencer hoje a Pastoral da Criança”, comenta a coordenadora do Setor Olinda e Recife - Região Episcopal Rural, Ana Lúcia de Lira Silva.
Para Carmem Lúcia Costa dos Santos, do Pará, conhecer a Pastoral da Criança foi um divisor de águas. Ela iniciou sua caminhada na instituição em 2001, quando ainda era catequista. Em 2003, passou a se dedicar ainda mais à Pastoral da Criança, até se tornar coordenadora de setor, três anos depois. Foi quando ela foi incentivada a voltar a estudar, e escolheu o curso de Serviço Social. Até então, Lúcia, como é conhecida, era formada em Magistério, mas estava desempregada. “Todo meu conhecimento; voltar a estudar; a vivência com as famílias, os testemunhos, foram adquiridos dentro da Pastoral da Criança. Ela foi o suporte para a transformação do que eu sou hoje”, afirma a assistente social.
Mas as mudanças não pararam por aí. Ela que sempre sentiu a vontade de envolver-se mais profundamente - levando o trabalho pastoral onde as pessoas mais necessitavam - foi convidada em 2012 a tornar-se missionária leiga. Os três filhos entenderam e apoiaram a mãe. “Eles foram se adaptando quando eu era coordenadora diocesana, e sempre estava visitando as paróquias”, lembra. “Além disso, sempre tive o apoio da minha mãe e irmãos. Tinha a segurança de deixar eles com a minha família”, conta.
Ao contar sua trajetória, uma frase é recorrente: “o principal motivo de tanta mudança foi a Pastoral”. E ela não é a única. Não há números, mas as histórias contam que outras dezenas de Lúcias e Anas também foram transformadas durante os mais de 30 anos de atuação da entidade. Que outras centenas possam ter a mesma oportunidade nos próximos anos.
Leia também