“A fé é movimento de libertação e de busca. Só encontra quem sai de casa para buscar, quem sai do seu conforto e de sua zona de segurança”.

“Deus chama a gente para um momento novo”. Essa canção, muito popular entre gente de Igreja, é uma lembrança cotidiana de que Deus nos chama em primeiro lugar. Vocação não é habilidade nem talento para algo, é um chamado para fazer algo que, quem sabe, você não saiba nem esteja preparado para. É um chamado para andar junto, para fazer missão. Por isso, a Leitura Bíblica e a Celebração Eucarística são aspectos altos da espiritualidade cristã.

 

No mês de setembro, sempre celebramos mais fortemente a Bíblia. É o chamado mês da Bíblia, em parte homenageando a festa de São Jerônimo, dia 30 de setembro. A leitura bíblica deve ser algo precioso para a vida de oração, espiritualidade e ação pastoral da Igreja, povo de Deus. O tema desse é o discipulado, a partir do evangelho de Mateus.

 

O Evangelho de Marcos é o primeiro a ser escrito. O Evangelho de Mateus conhece o evangelho de Marcos todo e o inseriu no seu livro. A comunidade achou Marcos muito importante, tanto que o inseriu todo no seu evangelho, mas também pensou que seria importante desenvolver outras reflexões a mais.

Um dos aspectos importantes era (e é) responder a pergunta: o que significa ser discípulo de Jesus? O que significa ser alguém “do caminho”, do caminho de Jesus, aquele de Nazaré e de Belém. Que significa trilhar os passos da profecia e da liderança para a libertação?

Perguntas difíceis em tempos difíceis para uma comunidade em crise e em busca de respostas que mantivesse a fé e a esperança vivas e em movimento.  Ser discípulo de Jesus significa seguir seus passos e aprender do caminho. Vamos olhar o texto da mulher cananeia ou siro-fenícia do capítulo 15 deste evangelho, começando pelo verso 21.

Ela é um modelo muito importante para a comunidade de como seguir Jesus no caminho da Cruz e da Esperança. Aprendemos dela muitas coisas. Infelizmente, não podemos dizer o mesmo dos discípulos, que tiveram uma atitude não muito agradável ou acolhedora. Mas vamos olhar para essa mulher, modelo de discipulado.

A partir de seu contexto e de sua realidade ela busca ajuda. A sua necessidade faz com que ela se movimente e não fique parada esperando que as coisas aconteçam. A fé é movimento de libertação e de busca. Só encontra quem sai de casa para buscar, quem sai do seu conforto e de sua zona de segurança. Quem arrisca. Essa mulher, por causa de sua filha doente, vai em busca de cura, ajuda, palavra, acolhimento e pertença.

Mesmo com a dificuldade de se aproximar de Jesus ela permanece firme. Ela sabe que essa relação pode salvar sua filha e mudar a vida de muita gente. Ela entende que só através de relações de comunhão e partilha a vida pode prevalecer. Ela permanece. Permanecer no caminho, mesmo com adversidades é um desafio cotidiano do discipulado. Ela enfrentou os discípulos e até Jesus.

Ela dialoga com Jesus e Jesus dialoga com ela. Há um processo de escuta de ambas as partes. Escutar-se mutuamente. E, por fim, é nesse processo que tudo muda. A vida da filha dela mudou, a vida dela mudou, a ideia de que primeiro vem as ovelhas perdidas de Israel mudou, considerando uma mulher estrangeira como digna e portadora de direitos de participar da mesa e da comunidade.

O discipulado é um processo de mudança contínua e de abertura a mudanças. Exige sair do seu lugar comum, entender a necessidade das pessoas mais vulneráveis, as vezes você mesmo, e ir buscar alguma solução, se dar conta de que em comunidade a ressurreição acontece, e não sozinha, é fundamental. Como Jesus, e essa mulher, é importante dar valor e construir relações de amor, escuta e solidariedade. Por isso, a eucaristia é tão importante e por isso a leitura bíblica em comunidade é edificante. Ali, o Espirito sopra e, além de fazer nova todas as coisas, tira essas coisas do seu lugar. Desacomoda. Que Deus nos dê a graça do desacomodar-se e desacomodar a sociedade.

Paulo Ueti
Assessor da Pastoral da Criança

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