
O uso excessivo de telas tem gerado sérias consequências para a saúde física, emocional e mental de crianças e adolescentes. Em março de 2025, o Governo Federal lançou o guia “Crianças, Adolescentes e Telas: Guia sobre Uso de Dispositivos Digitais”. O material, construído com base em estudos científicos e na escuta de crianças e adolescentes de todo o Brasil, orienta sobre limites seguros de tempo de tela, riscos à saúde e estratégias de proteção no ambiente digital. Entre as recomendações estão:
- zero tela até os 2 anos de idade;
- limite de uma hora de tela por dia dos dois aos cinco anos;
- duas horas de cinco a dez anos
- limite de até 3 horas diárias até os 17 anos;
- não concessão de celular próprio antes dos 12 anos.
Clique aqui para acessar o guia completo.
Essas orientações estão totalmente alinhadas com o novo e-Guia do Líder 2025 da Pastoral da Criança, que passou a incluir um tópico específico sobre o tema. A recomendação da Pastoral é clara: quanto menor o tempo de exposição a telas, melhor para a criança.
Essa orientação é reforçada pelos líderes voluntários nas Visitas Domiciliares, nas Celebrações da Vida e na ação de Brinquedos e Brincadeiras. A substituição do comportamento sedentário diante das telas por interações com a família, brincadeiras ao ar livre e refeições sem distrações digitais é fundamental para o desenvolvimento integral da criança.
Neste Tema da Semana, você confere a entrevista com a pediatra e líder da Pastoral da Criança Dra. Ana Lea Clementino, que traz explicações claras e atualizadas sobre como o uso de dispositivos digitais pode afetar o desenvolvimento infantil e dá orientações práticas para as famílias cuidarem da saúde das crianças desde cedo.
Dra. Ana Lea Clementino, Pediatra
ENTREVISTA COM: Dra. Ana Lea Clementino, Pediatra. Ela atua também como líder da Pastoral da Criança em Londrina, Paraná.
Existe uma recomendação sobre o uso de telas por crianças? A partir de quanto tempo de tela a criança já pode ter problemas?
DRA. ANA LEA: Estudos já mostram que, a partir de 30 minutos de tela sem pausa, qualquer cérebro sofre — inclusive o do adulto, mas principalmente o da criança, que ainda está em desenvolvimento. As recomendações oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Sociedade Brasileira de Pediatria são: zero tela até os dois anos; uma hora de tela dos dois aos cinco anos; duas horas de cinco a dez anos; e três horas de dez a dezoito anos. E sempre com a supervisão de um adulto.
E hoje, como é o uso que as crianças têm feito? As famílias têm respeitado essas orientações?
DRA. ANA LEA: A maioria das famílias não segue as orientações, e as justificativas geralmente são: porque não sabiam, não tinham informação, achavam que desenhos animados ou vídeos promovidos como educativos não fazem mal, ou porque precisam trabalhar e dar conta dos afazeres domésticos — então, precisam distrair a criança de alguma maneira. O problema é que, embora as justificativas dos pais sejam genuínas e compreensíveis, elas não mudam o fato de que nossas crianças estão expostas às telas muito além do tolerável, sofrendo as consequências dessa exposição de formas que os pais, muitas vezes, não percebem — mas que vão se refletir, de alguma forma, hoje ou no futuro: seja no desenvolvimento, no comportamento, na aprendizagem ou nos aspectos socioemocionais dessa criança.
Programa de rádio Viva a Vida – 1766 – 28/07/2025 – Uso de telas e desenvolvimento infantil
Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra
Dra. Ana, na sua experiência como pediatra, a senhora considera que as crianças têm apresentado mais problemas relacionados ao uso excessivo de telas?
DRA. ANA LEA: Com certeza. Nunca se viu antes tantas crianças com atrasos no desenvolvimento, principalmente da linguagem, mas também no desenvolvimento emocional, motor e social. Nunca se viram tantos diagnósticos presuntivos de transtorno de déficit de atenção, transtorno opositivo desafiador, autismo. E eu digo “presuntivos” porque, em alguns casos, esses diagnósticos não se confirmam e, com a retirada das telas, algumas crianças passam a se desenvolver e apresentam melhora no comportamento — tanto no que diz respeito à atenção quanto à hiperatividade e à agressividade.
O aumento de casos de ansiedade, fobias, transtornos alimentares como bulimia e anorexia, sem falar nas dificuldades escolares, também é impressionante. Para vocês terem uma ideia, nos últimos anos tivemos um aumento de mais de 50% nos diagnósticos de TDAH. Nos Estados Unidos, o número de suicídios entre meninas de 15 a 19 anos dobrou entre 2007 e 2015. No Brasil, os atendimentos de jovens com depressão no SUS aumentaram 115%. Um estudo da USP, de 2020, mostrou que uma em cada quatro crianças sofria de ansiedade ou depressão.
Na minha opinião, e na de muitos especialistas, esses dados não são mera coincidência. Eles estão diretamente relacionados à introdução do digital e das redes sociais de forma desordenada e ilimitada no seio das famílias.
Existe algum manual que informe e oriente as famílias sobre o uso de telas?
DRA. ANA LEA: Existe, sim. Recentemente, o governo federal lançou, em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria e outros especialistas no assunto, um guia especificamente sobre o uso de dispositivos digitais por crianças e adolescentes. Esse guia tem por finalidade garantir a proteção das crianças e adolescentes no ambiente virtual, e já está disponível para consulta.
A publicação também traz recomendações que os pais e toda a sociedade deveriam conhecer para tornar o uso do digital mais seguro. Então, vale a pena baixar esse material e conhecer o conteúdo.
Leia a entrevista na íntegra
1766 – 28/07/2025 – Uso de telas e desenvolvimento infantil (.PDF)
3º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
“Saúde e Bem-Estar”
Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
4º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
“Educação de qualidade.
Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
Dra. Zilda
“Quando você ensina as mães e famílias a cuidarem melhor dos filhos, você está construindo um mundo melhor, mais justo e fraterno para essas crianças.”
Papa Leão XIV
“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele.”
(Provérbios 22,6)