Poemas

A poesia, do grego “ποίησις”, poiesis, algo que se faz ou se cria, é uma forma de arte na qual a linguagem é usada por suas qualidades estéticas e evocativas além de, ou em lugar de, seu significado aparente.
Ler poesia para as crianças e os jovens lhes proporciona qualidades criativas, artísticas e emocionais de uma maneira que às vezes os livros de contos não conseguem transmitir. O ritmo e a rima oferecem um contexto confortável no qual as crianças podem prever quais serão as novas linhas do poema.
Graças a seu ritmo tranquilizador, expressam uma segurança que é essencial para desenvolver a paz e a tranquilidade interior.
Os poemas contribuem para ampliar o significado literal das palavras e evocam respostas emocionais à fantasia ou à realidade. A utilização da ambiguidade, do simbolismo ou da ironia faz com que o poema fique aberto a múltiplas interpretações e, portanto, estimula a criatividade da criança e sua capacidade de buscar diferentes possibilidades.
Os poemas traçam linhas de oposição e absorção, de rejeição e acolhida, de dar e tomar, que colocam a mente frente a contradições que somente têm sentido no contexto do mundo criado pelo poema.
Isso melhora a capacidade das crianças de compreender a realidade a partir de perspectivas diferentes, por mais contraditória que essa realidade possa ser.
É possível perceber a poesia como uma conversa única e contínua, um tipo de conto em cadeia que se refere tanto à natureza da poesia quanto à própria vida da pessoa.
Tendo se visto refletida em um poema, a criança pode começar a descobrir as maravilhas do mundo e o poder da poesia. Um poema pode ser memorizado ou cantado, ou transportado momentaneamente em um pequeno compartimento da mente e do coração.
Os poemas podem ser utilizados antes, durante ou depois de atividades de introspecção, ou para introduzir um momento de reflexão e silêncio antes de iniciar o programa.

Crianças

Não há que desesperar dos homens.
Temos ainda - arca de surpresas - os meninos,
e é proibido antecipar a sorte.
Degustam bem-aventurados um naco de melancia,
acomodam-se numa caixa de biscoitos,
aderem ao Carnaval.
Seus olhos profundos indagam:
- Que fazes por mim?
Não sabemos responder - mas os meninos continuam,
esperança de todos os dias, promessas de humanidade.

(Carlos Drummond de Andrade)

DIVISORIA

 

 

 

De todos os modos

As pessoas são irracionais,
inconsequentes e egoístas,
ame-as de todos os modos.
Se fizer o bem, te acusarão de ter
obscuros motivos egoístas,
faça o bem de todos os modos.
Se tiver sucesso e ganhar amigos falsos
e inimigos verdadeiros,
lute de todos os modos.
O bem que fizer hoje
será esquecido amanhã,
faça o bem de todos os modos.
A sinceridade e a franqueza
te fazem vulnerável,
seja sincero de todos os modos.
O que demorou anos para construir
pode ser destruído em uma noite,
construa de todos os modos.
Alguém que necessite ajuda de verdade
pode te atacar se o ajudar,
ajude-o de todos os modos.
Dê ao mundo o melhor que tens
e te golpearão apesar disso,
dê ao mundo o melhor que tens de todos os modos.
Deus conhece nossas debilidades,
e nos ama de todos os modos.

(De um cartaz no muro de Shishu Bhavan, a Casa Infantil de Calcutá.)

DIVISORIA

 

 

 

Canto do fogo do povo bantu

Fogo que contemplam os homens à noite,
Na noite profunda.
Fogo que ardes sem queimar, que brilhas sem arder.
Fogo que voas sem corpo.
Fogo sem coração, que não conheces
lar nem tens cabana.
Fogo transparente de palmeiras:
um homem te invoca sem medo.
Fogo dos feiticeiros, teu pai onde está?
Tua mãe onde está?
Quem te alimentou?
És teu pai e tua mãe.
passas e não deixas rastros.
A lenha seca não te engendra,
não tens por filhas as cinzas.
Morres e não morres.
A alma errante se transforma em ti,
e ninguém o sabe.
Fogo dos feiticeiros,
Espírito das águas inferiores
e dos ares superiores.
Fogo que brilhas,
vagalume que iluminas o pântano.
Pássaro sem asas, coisa sem corpo,
Espírito da Força do Fogo.
Escuta minha voz:
um homem te invoca
sem medo.

(Fivee Martínez, extraído de Rogelio (Seleção) Poesía Anónima Africana)

DIVISORIA

 

 

 

Augusto Cury

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha
vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e
períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

DIVISORIA

 

 

 

 

Augusto Cury

Desejo que você
Não tenha medo da vida, tenha medo de não vivê-la.
Não há céu sem tempestades, nem caminhos sem acidentes.
Só é digno do pódio quem usa as derrotas para alcançá-lo.
Só é digno da sabedoria quem usa as lágrimas para irrigá-la.
Os frágeis usam a força; os fortes, a inteligência.
Seja um sonhador, mas una seus sonhos com disciplina,
Pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas.
Seja um debatedor de ideias. Lute pelo que você ama.

Paulo Coelho

Todos nós já tivemos, de uma maneira ou de outra, experiências difíceis na vida. Isto faz parte de
nossa viagem por esta Terra – e embora muitas vezes pensemos que “as coisas podiam ter
acontecido de outra maneira”, o fato é que não podemos mudar nosso passado.
Por outro lado, é uma mentira pensar que tudo que nos acontece tem o seu lado bom; existem
coisas que deixam marcas muito difíceis de superar, feridas que sangram muito.
Como, então, nos livrarmos de nossas experiências amargas?
Só existe uma maneira: vivendo o presente. Entendendo que, embora não possamos mudar o
passado, podemos mudar a próxima hora, o que acontecerá durante à tarde, as decisões a serem
tomadas antes de dormir.
Como diz o velho provérbio hippie: “hoje é o primeiro dia do resto da minha vida”.

Saber Viver

Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar

(Autoria desconhecida)

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Da comensalidade

Shibumi é uma palavra japonesa difícil de traduzir. Meu mestre a utilizou certa vez para descrever
um jantar simples, mas delicioso, que comemos numa aldeia francesa.
- Os japoneses usam esta palavra para a sua arquitetura - disse ele. Significa a total simplicidade,
de repente quebrada por um arranjo floral, um vaso decorado, um detalhe que enfeita todo o ambi-
ente. Por causa disto, a beleza das casas japonesas - aparentemente vazias - é muito mais sofisti-
cada que a das casas ocidentais, sempre cheias de pratarias, objetos, quadros, confusão visual.
“Um bom guerreiro da luz precisa ter shibumi; simplifica sua vida, mas mantém o detalhe, a
elegância, e a delicadeza”.

(Paulo Coelho)

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Das perguntas

Postado por Paulo Coelho em 20 de janeiro de 2009 às 00:08

Sempre estamos muito ocupados em procurar respostas que consideramos importantes para
compreender o sentido da vida. É muito mais importante viver plenamente, e deixar que o próprio
tempo se encarregue de nos revelar os segredos de nossa existência. Se estamos ocupados de-
mais em encontrar um sentido, não deixamos a natureza atuar, e nos tornamos incapazes de ler
os sinais de Deus.
Em um remoto bar da Espanha, perto de uma cidade chamada Obite, existe um cartaz escrito por
seu dono:
“Justamente quando consegui encontrar todas as respostas mudaram todas as perguntas”.

Cada um com seu destino

Um samurai, conhecido por todos pela sua nobreza e honestidade, veio visitar um monge Zen em
busca de conselhos. Entretanto, assim que entrou no templo onde o mestre rezava, sentiu-se
inferior, e concluiu que, apesar de toda a sua vida lutando por justiça e paz, não tinha sequer
chegado perto ao estado de graça do homem que tinha à sua frente.
– Por que estou me sentindo tão inferior? – perguntou, assim que o monge acabou de rezar. – Já
enfrentei a morte muitas vezes, defendi os mais fracos, sei que não tenho nada do que me enver-
gonhar. Entretanto, ao vê-lo meditando, senti que minha vida não tinha a menor importância.
– Espere. Assim que eu tiver atendido todos que me procurarem hoje, eu lhe darei a resposta.
Durante o dia inteiro o samurai ficou sentado no jardim do templo, olhando as pessoas entrarem e
saírem em busca de conselhos. Viu como o monge atendia a todos com a mesma paciência e o
mesmo sorriso luminoso em seu rosto. Mas o seu estado de ânimo ficava cada vez pior, pois tinha
nascido para agir, não para esperar.
De noite, quando todos já haviam partido, ele insistiu:
– Agora o senhor pode me ensinar?
O mestre pediu que entrasse, e conduziu-o até o seu quarto. A lua cheia brilhava no céu, e todo o
ambiente inspirava uma profunda tranquilidade.
– Está vendo esta lua, como é linda? Ela vai cruzar todo o firmamento, e amanhã o sol tornará de
novo a brilhar. Só que a luz do sol é muito mais forte, e consegue mostrar os detalhes da paisagem
que temos à nossa frente: árvores, montanhas, nuvens. Tenho contemplado os dois durante anos,
e nunca escutei a lua dizendo:por que não tenho o mesmo brilho do sol?Será que sou inferior a ele?
– Claro que não – respondeu o samurai. – Lua e sol são coisas diferentes, e cada um tem sua
própria beleza. Não podemos comparar os dois.
– Então, você sabe a resposta. Somos duas pessoas diferentes, cada qual lutando à sua maneira
por aquilo que acredita, e fazendo o possível para tornar este mundo melhor; o resto são
apenas aparências.

(Paulo Coelho)

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Quem Morre?

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos
trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com
quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre
os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos
olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca
o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite, pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça
em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto
que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito
maior que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um
estágio esplêndido de felicidade.

(Martha Medeiros)

A rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

(Vinícius de Moraes)

DIVISORIA

 

 

 

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

(Vinicius de Moraes)