Você conhece alguma criança que tenha muito medo do escuro, de ficar sozinha, do bicho papão ou outra lenda da região em que mora? Por ser uma época de muitas descobertas, na infância é normal que os pequenos levem um tempo para assimilar determinadas informações e sintam medo do que não conhecem ou ainda não compreendem. 


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Pedro Alexandre Neto e o filho Miguel

Chuva forte, acompanhada de ruídos e descargas elétricas, é um exemplo de acontecimento que pode gerar receio e até mesmo pânico. Em Poços de Caldas (MG), há uma família que encontrou uma maneira lúdica para amenizar esse medo da criança.

História passada de geração a geração

“Meu filho de 2 anos e 9 meses morria de medo de raios e trovões. Toda vez que chovia, a gente enfrentava o maior desespero dele em casa. Até que um dia, eu peguei ele no colo e disse: 'Miguel, olha o Papai do Céu tirando fotos!' - referindo-se aos relâmpagos. Hoje, quando começa a armar chuva, ele pergunta: 'Papai, o Papai do Céu vai tirar foto hoje?'. Com isso, o medo da chuva foi embora. Em se tratando de trovão, dizemos a ele que o Papai do Céu está trocando a cama Dele de lugar, por isso ele a arrasta, fazendo barulho”.

O depoimento é de Pedro Alexandre Neto, que está na Pastoral da Criança há 8 anos e atualmente exerce a missão de coordenador na Diocese de Guaxupé. “Essa história é passada de geração em geração na minha família: minha avó passou para minha mãe, minha mãe passou para mim e agora eu estou passando para o Miguel”, conta.

Fatores que desencadeiam medos

Jonildo Souza Gloria – que colabora com a Pastoral da Criança como líder e comunicador voluntário desde 1999, em Ilhéus (BA) – também já se deparou com situações de temores infantis. Uma das mais comuns em sua região é a lenda da “loira do banheiro”, partilhada entre colegas de escola. Sobre como lidar com a criança amedrontada, Jonildo orienta: “Explicando-lhe e relatando outras lendas urbanas. Mas, sobretudo, ouvindo-a sobre o que leva a acreditar e a faz ter medo”. 

Dra. Zilda

“Estamos vencendo na medida em que perseveramos no amor”.

Papa Francisco

“Não devemos ter medo da bondade e da ternura”.

Maria Lourdes Vidigal Bazoni – coordenadora da Pastoral da Criança em nível paroquial, em Porecatu (PR) – lembra de um desses aspectos que podem ser a origem dos medos exagerados e que precisa ser analisado. “Crianças que sofrem violência psicológica de adulto precisam de maior atenção em seu comportamento. E quase 80% dos casos tem muitas sequelas na fase adulta”, alerta.

Por isso, é muito importante sempre conversar com as crianças, para identificar quando os temores estão de acordo com a fase que estão vivendo ou se existem fatores externos os desencadeando, dificultando o desenvolvimento infantil e a convivência com outras pessoas. Nestes casos, além de investigar a causa do medo, muitas vezes, é necessário o auxílio de um profissional.

Temor dissolvido com amor

Para os líderes da Pastoral da Criança, fica a reflexão: será que esse tema também está sendo observado durante as visitas domiciliares? Os pais estão atentos aos receios das crianças, dando atenção ou apenas desconsiderando as queixas por acreditarem que se trata de imaginação? Será que existem outros exemplos como a história contata pelo coordenador Pedro Neto, que se apliquem a outros medos e possam ser passados adiante?

Aos poucos, com paciência e conversa, os medos vão diminuindo. “Temos que primeiro tentar descobrir a causa. E, depois, trabalhar com os familiares e ajudar a criança com muito amor e carinho”, sintetiza Iracema Posser da Cruz Silva, coordenadora na Arquidiocese de Passo Fundo (RS).

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Foto: Poços de Caldas - MG

Foto: David Castillo Dominici