Confira o discurso da Irmã Vera Lúcia Altoé, Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança, por ocasião do recebimento do Prêmio Dom Luís Fernandes.


Prêmio D. Luís Fernando

Quero agradecer ao Governo do Estado do Espírito Santo, na pessoa de Sua Excelência, Sr. Paulo César Hartung, pela entrega honrosa do Prêmio D. Luís Fernandes, indicado pela comissão dos amigos de D. Luís Fernandes, atualemnte presidida pelo excelentíssimo Sr. Dep. Claudio Verezza, e conferido à Dra Zilda Arns Neumann, Fundadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa e pelas inúmeras ações em benefício da socidade e da Igreja.

Sinto-me honrada em receber o "Prêmio D. Luis" concedido a nossa querida e saudosa Dra. Zilda (in memoriam). Tenho a certeza de que este seria o mesmo sentimento dela.

Um prêmio que une essas duas personagens que fizeram história em nosso país:
D. Luís implantou as mudanças do Concílio Vaticano II na Igreja de Vitória e foi para o interior com as religiosas implantando os Concilhinhos. Uma ação que deu visibilidade e fez da Igreja de Vitória uma referência no país e fora dele; Dra Zilda fez a grande revolução pela vida ao fundar a Pastoral da Criança, como um jeito da Igreja estar presente e salvando vidas entre as comunidades mais pobres e necessitadas do país, tornando-se uma referência não só no país, mas em nível mundial.

D. Luís Fernandes, com as mudanças que implantou na Igreja de Vitória, criou um novo rosto de Igreja, deu um rumo diferente à Igreja do Brasil. Dra Zilda, através das ações de saúde, nutrição, educação e cidadania mudou o rumo da vida de milhares de crianças e famílias acompanhadas pela Pastoral da Criança no Brasil e nos países onde a Pastoral da Criança está implantada.

D. Luís gestou as CEBs com D. Helder, D. Paulo Evaristo Arns, D. Pedro Casaldáliga, acreditou nos leigos, realizou os primeiros intereclesiais na Igreja de Vitória e incentivou a continuidade deles; Dra Zilda gestou no silêncio da oração e na reflexão da Palavra de Deus, a metodologia da Pastoral da Criança que está baseada na multiplicação dos pães e dos peixes. Nessa fé e acreditando na bondade de coração das pessoas, convocou religiosas e líderes para, com ela, servirem os pobres como voluntários e com eles construiu esta grande missão da Pastoral da Criança em favor da vida.

D. Luís Fernandes participou como membro ativo de várias comissões na Igreja do Brasil e da América Latina. Dra Zilda também fez parte de várias comissões seja em nível estadual e nacional na área da Saúde e como fundadora da Pastoral da Criança, realizando sua missão como mãe e como cidadã. Essa participação ativa nos meios sociais, através da Pastoral da Criança, foi reconhecida nos mais diversos setores da sociedade através de inúmeros prêmios recebidos, como este que recebe hoje e que tanto a honra, assim como à Pastoral da Criança.

O trabalho dessas duas ilustres personagens foi marcado pela luta em favor dos mais pobres. D. Luís despertou consciências para a justiça, para a solidariedade e para a redução das desigualdades sociais. Dra Zilda, através das ações simples da Pastoral da Criança, ajudou a milhões de famílias no Brasil e no mundo a conhecer seus direitos como cidadã, a terem vida mais digna e despertou a solidariedade de milhares de líderes que se envolveram nessa grande pastoral da Igreja. Hoje eles são 260 mil líderes voluntários, que atendem a ... crianças no Brasil, nos lugares mais pobres... fazendo visitas domiciliares, ensinando a fazer o soro caseiro, a utilizar uma alimentação saudável, tirando assim as crianças da desnutrição, ajudando no processo educativo das famílias para diminuir a violência familiar.

D. Luis Fernandes deu realce à figura da mulher, quer na Igreja, quer na sociedade. Dra Zilda alavancou uma legião de líderes – em sua maioria mulheres – em quem depositou a confiança para levar adiante essa missão de partilhar o conhecimento e a solidariedade fraterna. Mulheres que hoje, no Brasil e nos 19 países de 3 continentes: América Latina (Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Panamá, peru, República Dominicana, Uruguai, Venezuela ), Ásia (Filipinas e Timor leste) e África (Angola, Guiné Bissau, Guiné). onde a Pastoral da Criança está implantada, continuam fazendo parte desse grupo numeroso de pessoas que encontram o sentido de sua vida no trabalho voluntário junto às comunidades mais pobres e distantes.

Fico feliz porque esse prêmio carrega em si a marca de quem luta em defesa da vida e por uma sociedade na qual todos tenham oportunidades, uma sociedade mais humana , com menos desigualdades sociais e com um olhar preferencial para os empobrecidos como foi o olhar de Jesus. Nos últimos anos de sua vida, seu olhar atento buscou uma forma de resgatar a dignidade das pessoas idosas. Para isso fundou a Pastoral da Pessoa Idosa.

Uma grande coincidência que parece ser uma providência divina: hoje celebramos o aniversário de D. Luis Fernando, motivo da entrega desse prmio, a esta mulher que completaria seus 76 anos amanhã, dia 25 de agosto, não fosse o triste fenômeno do terremoto de 12 de janeiro que lhe tirou a vida como a de milhares de haitianos. Fato que perpetua a presença de Dra Zilda entre os pobres mais pobres, a quem dedicou sua vida.

Que D. Luís e Dra Zilda, do espaço no qual se encontram agora, em Deus, olhem por nós que continuamos a missão que eles iniciaram, que eles nos dêem a audácia e a coragem para que nos mantenhamos firmes em nossas lutas, com o coração e olhar atentos àqueles que necessitam de nossas ações.

Minha gratidão, a gratidão da família e de toda a Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa a sua Excelência, Governador Paulo Hartung e ao Excelentíssimo Sr.Deputado Claudio Verezza pela oportunidade tão honrosa de receber este Prêmio D. Luís Fernandes, prêmio tão significativo entregue à Dra Zilda Arns Neumann.

Agradeço à comissão do Prêmio D. Luis Fernandes, os amigos que ele deixou e que continuam perpetuando sua luta e reconhecimento, as pessoas que hoje participam dessa homenagem, particularmente às líderes da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, as lideranças da Igreja de Vitória, e a toda a Igreja do Brasil que tem um capixaba, D. Geraldo lírio Rocha, como presidente da CNBB.

A todos o meu Muito Obrigada. Que D. Luis Fernando e Dra Zilda, lá do céu, nos abençoem e nos acompanhem em nossa missão.


Irmã Vera Lúcia Altoé

Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança