A vida tem ritmo, cadência, cores e sabores. Esses elementos marcam distinções, diferenças e são sinais de algo mais importante, que é o movimento dinâmico e sempre em transformação no qual todos nós e a natureza estamos envolvidos, somos parte, porque Deus assim desejou ardentemente.
Desejo ardente é a palavra que Jesus usa quando se dirige às suas discípulas e discípulos na Páscoa. Ele deseja ardentemente comer a Páscoa com elas e eles. Nada a ver com coelhos e chocolates, mas é alimento que transforma a vida. Que bom! É para alimentar, dar forma e energia à vida, envolver com cheiros e provocar os paladares nossos de cada dia. Páscoa é sempre a certeza de que a vida pode ser melhor e pode ser mais vida, mesmo com a dor e sofrimento fazendo parte dela. A Páscoa é a memória de caminhada, de gente que sonhou e não deixou ninguém roubar esse sonho. É coisa de gente teimosa e romântica, vendo coisas onde parece que não existem. Mas sabe o que? Existe. Insistindo, conseguimos reconhecer. Às vezes, estamos tão acostumados com algo que esse algo perde o sentido. É preciso que o coração arda de novo, como ardeu no casal de Emaús (Lc 24,13-35).
Esse tempo pascal é tempo de lutar pela vida e vida em abundância. A Igreja nos convoca cotidianamente para sermos parábola do Reino; estar do lado e defender os mais empobrecidos e caminhar junto com eles para que a vida prevaleça. Fazemos isso compartilhando nosso tempo, nosso dinheiro, nosso conhecimento, mas sobretudo compartilhando nossos sonhos e desejos que nos movem de bairro em bairro, de reunião em reunião, para que políticas públicas sejam realidades nos lugares mais longínquos desse país, para que atendam as pessoas que normalmente ninguém vê ou escuta.
Nosso planeta está sofrendo e o povo com ele, obviamente. Esse ano, na campanha da quaresma, somos convidados a prestar atenção em acesso aos serviços básicos para o povo. Acesso à higiene, acesso à sistemas públicos de água e saneamento condizentes com a dignidade e divindade pertencente ao ser humano. E em nosso país isso é direito garantido em lei. Quem sabe disso, quem briga por isso? Por que em nossas comunidades somos tão acomodados com isso? Por que ainda achamos que políticas públicas são favores de alguém?
O tempo pascal nos lembra que somos responsáveis pelo bem comum (isso chama-se política com P maiúsculo). Quando a opressão e o descaso existem Deus desce, faz acordar e fortalece o povo para caminhar para uma terra melhor, provocar mudanças e produzir alternativas para todo mundo. Caminhar pelo deserto foi um tempo de aprendizagem e de transformações. Aprendemos a exigir participação e não tolerar a monarquia ou a decisão de uma pessoa só. Lembrem-se da história do sogro de Moisés dando-lhe conselhos no capítulo 18 do Êxodo. Aprendemos a tomar o que é necessário, lutar contra a concentração de renda, de comida, de terra e de poder e a exigir tempo de descanso, uma vez por semana. Lembrem-se da história do Maná do deserto, no capítulo 16 do Êxodo.
E, acima de tudo, aprendemos que Deus se faz presente na história contra qualquer opressão e descaso para com o povo. Convido vocês para terminarmos essa conversa orando o salmo 146 (145).
Paulo Ueti
Assessor da Pastoral da Criança