Só o amor permanece. Com Tereza D’Avila cantamos e meditamos: “Nada te perturbe, nada te amedronte, tudo passa, a paciência tudo alcança. A quem tem Deus nada falta, só Deus Basta”. E Deus é amor e paixão incondicionais. O profeta Oséias chega a dizer que a ingratidão só faz inflamar o amor de Deus pelo seu povo (Os 11,1-9). São Paulo diz que nada, NADA, pode separar a gente do amor de Cristo. Mesmo traído e mal entendido pelos seus, Jesus amou até o fim. E, desafiadoramente, nos chama a amar os inimigos e orar por eles.

 

O novo ano civil que começa (o nosso cristão já começou em dezembro passado) apresenta desafios para a Igreja, sob a liderança de Francisco, e para o Brasil sob a liderança do governo eleito em 2014. Janeiro é o mês em que muitas Igrejas celebram a Família, todas as formas dela, a Epifania (o Natal para as Igrejas orientais) e o Batismo de Jesus (mergulho no seu ministério de paixão e devoção pela vida do povo e para a glória de Deus). É o mês dedicado para a Paz e Reconciliação.

Ano passado vivemos um tempo de eleições. Tempo de exercitar a democracia e sonhar tempos novos. Mas em 2014 foi também tempo de intolerância, violência, preconceito e divisões. Nos debates, nas propagandas políticas e, principalmente, na mídia social, muitas palavras de ódio surgiram, inclusive de gente cristã, companheiras de caminhada. Muito triste ouvir de gente que optou por Cristo palavras de preconceito. Muito triste ouvir de gente que optou por Jesus, compaixão eterna e infinita, frases duras e de desprezo por essa ou aquela classe social.

Felipe foi chamado por um anjo (Atos 8) para ir encontrar alguém na estrada. O anjo não disse porque nem quem era a pessoa. E ele foi. Confiou no chamado e colocou-se no caminho. Caminho é uma palavra e um lugar muito importante na tradição cristã. E ele encontrou um eunuco, alguém importante do Reino da Etiópia (África). O etíope estava voltando de Jerusalém, ele tinha ido para alguma peregrinação religiosa, tinha ido “adorar”. Ele parou e Felipe e ele puderam se encontrar. O etíope estava lendo a Bíblia, um texto do profeta Isaías, e os dois passaram a conversar. O chamado de Deus e a sua palavra que encontramos na Bíblia são para promover caminhadas de encontro, fraternura e diálogo. A religião e a palavra da religião devem ser para unir, juntar, congregar, não para excluir e separar. A leitura bíblica que os dois fizeram juntos os ajudou a mudar. O caminho, a disposição para o diálogo, a capacidade de perguntar fez com que algo acontecesse nos dois.

Que desejos estamos cultivando em nossos corações e espalhando pelo nosso trabalho? Que caminhos Deus nos chama a seguir? Tenho confiança que estamos entendendo que nossa missão, que na verdade é a missão de Deus, é juntar gente, promover espaços de saúde e de comunidade, estimular o diálogo e ajudar as pessoas a perceberam a glória de Deus em suas vidas e na sua comunidade. Deus vem primeiro e vem com amor. Não deveríamos responder com ódio ou preconceito. Encontros como o do etíope e o de Felipe nos inspiram a continuar lendo a Bíblia juntos, para que Deus nos transforme e nos fortaleça no caminho.

Convido vocês a, nesse início de ano, orarem pela paz e pela reconciliação. Vamos orar pela unidade, pela relação, pela tolerância. Vamos trabalhar para que a revelação de Deus em Jesus seja reconhecida, não somente vista ou falada. Voltem ao texto dos Atos dos Apóstolos capítulo 8 e vamos viajar com Felipe e o eunuco. Vamos fazer mais companheiras e companheiros na caminhada. Vamos tomar iniciativas de relações. Que Deus nos ilumine e nos faça pessoas mais aconchegantes.

Paulo Ueti
Assessor da Pastoral da Criança