“Deus nos criou como pessoas únicas e, por isso, pensamos e agimos de maneira diferente uns dos outros. Somos iguais e diferentes ao mesmo tempo, como as folhas que pertencem a uma mesma árvore”.
Ser diferente tem sido um peso na vida de muita gente. Costumeiramente somos ensinadas/os que “ser diferente” não é algo muito bom e pode causar problemas e sofrimento. Grande parte da nossa educação, explícita ou implícita, nos empurra para sermos “normais”, para nos encaixar, para sermos iguais aos outros. Com isso, vamos perdendo nossas particularidades, nossas culturas e nosso ser interior fica prejudicado no seu desenvolvimento próprio.
Ser diferente é dom e graça de Deus, que devem ser abraçados com alegria e júbilo. A diferença nos identifica e nos movimenta. E nos dignifica também. As coisas e realidades que se apresentam homogêneas são, na maioria das vezes, violentas e opressoras. O diferente não é contrário, é só diferente, particular, único, às vezes.
A casa de Deus (o templo) depois do Exílio da Babilônia deve ser chamado “casa de oração para todos os povos”. A tentativa de ter uma só língua e um só jeito de viver em Babel foi gravemente desaprovada por Deus que “confundiu todas as línguas”, porque “queriam ser como deuses”. Nas profecias de Amós há um alerta bem grande para os que pensam que só um povo é o povo eleito: “Vocês, israelitas, não são para mim melhores do que os etíopes”, declara o Senhor. “Eu tirei Israel do Egito, os filisteus de Caftor e os arameus de Quir” (Amós 9,7). Cristo mesmo é comparado ao corpo em 1Cor 12 e Rom 12 (diverso, em colaboração e destinado a mudanças sempre). Em Pentecostes, todas as pessoas, desde suas próprias culturas e idiomas, puderam entender a mensagem de Jesus e comprometer-se.
É importante pensar nisso, porque quando queremos tudo igual e do mesmo jeito, nos tornamos pessoas violentas e egoístas. Atuamos e vivemos para nós mesmos e não para o outro. Estamos no mês em que comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. Num país onde o racismo, a homofobia e a violência contra mulheres e meninas possui índices tão altos, precisamos, como gente de fé, nos comprometer para acalmar essa violência sistêmica e quase naturalizada. Também nas comunidades cristãs de diferentes tradições há uma tentativa muito forte de um só jeito de celebrar e ser Igreja. Precisamos advogar pelo direito à diferença, sem perder o rumo do discipulado e da missão.
Também os apóstolos de Jesus caíram na tentação de achar que só quem pertencia ao grupo deles poderia fazer milagres. Grande engano. Jesus vai lembrá-los, e a nós também, que há gente fora de nossos círculos fazendo coisas muito boas e ajudando para que a violência, a fome e o desespero físico, mental e espiritual das pessoas (e da natureza) acabem.
Neste mês, vamos especialmente orar e atuar para que o racismo, que é sistêmico em nosso país, acabe. O Evangelho nos chama para a unidade na diversidade, para a convivência terna e fraterna e para a jornada cotidiana no caminho de parecermos cada vez mais com Jesus, o Cristo.
Paulo Ueti
Assessor da Pastoral da Criança