“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.
(João 10,10)
Continua urgente e necessário fazer missão. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10,10). Esta foi a missão de Jesus: que venha o Reino de Deus e que se faça sua vontade na terra (Marcos 1,1-15). Essa é ainda a sua e a nossa missão; é o que Cristo está fazendo através do Espírito Santo e nós somos chamados a tomar parte nesta obra de Deus: conduzindo a vida e restaurando a vida quebrada, violentada e vulnerável.
Para realizar esse sacro-ofício (trabalho santo) e mostrarmos o caminho (a verdade e a vida), assim como para que a humanidade pudesse participar nela, o Verbo se fez carne e habitou entre nós (João 1,14). Essencialmente, esta é a forma de descrever o conteúdo e o método da missão. Agora sim, é preciso perguntar-se: o que significa isto?
O testemunho das escrituras nos mostra muito claramente que Jesus nos ensinou que a missão não consiste tanto no que dizemos, mas no que fazemos. “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus 7,16). “Nem todo aquele que me diz “Senhor, Senhor” entrará no reino dos céus, mas aqueles que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mateus 7,21). A Igreja apostólica destacou esta característica fundamental da vida cristã: “Sejam praticantes da Palavra” (Tiago 1,22).
A missão é a ação de Cristo e a ação de Cristo é uma ação de amor que transforma. O amor é o elemento central da missão. “E se tivesse a profecia e entendesse todos os mistérios e toda a ciência, e se tivesse toda a fé, de tal maneira que transladasse os montes, e não tiver amor, nada sou” (1 Cor 13,2). A missão não é levar Cristo a nenhum lugar, ele já estava antes de nós, mas ajudar o povo a reconhecer que essa possibilidade de amor, não violência, convivência terna e fraterna é possível e está acontecendo. É uma questão de opção de vida.
O mandato do Novo Testamento de proclamar o Evangelho deve entender-se no contexto da prática desta verdade. Quando Paulo disse que havia sido enviado a “pregar o Evangelho” (1 Cor 1,17), fala a partir de sua experiência e prática de levar a cruz e de caminhar ao lado de Jesus.
Toda leitura bíblica que fazemos, rituais litúrgicos e práticas pastorais, precisam ser instrumentos para acabar com a violência, a desigualdade e a fome em nossos contextos. E a maneira, não só o conteúdo, é reveladora de nossos desejos e projetos. Devemos fazer de um jeito não violento, um jeito que se preocupa com as pessoas e a natureza e que tenha resultados libertadores.
Nossa missão inclui construir círculos de paz e reconciliação para “que o mundo creia” no amor de Deus através de Jesus e do cristianismo. Toda religião tem como coração o amor, a paz e a reconciliação (por isso chamamos re-ligare/religião). O cristianismo não pode fugir desse mandato de Jesus de amar incondicionalmente, encontrar meios para inclusive amar e orar pelos inimigos e pelos que produzem o mal.
Este ano, especialmente, há uma preocupação maior pela realidade, que é próxima a nós, do tráfico humano e da escravidão moderna. Os dados são alarmantes e muito precisa ser feito para impedir que isso continue. É uma ofensa a Deus e ao mundo permitir que esse crime e pecado continue acontecendo. O Papa Francisco, junto com outras igrejas e organizações internacionais, está tomando liderança em um grupo de trabalho para tratar dessas questões. Precisamos ficar atentos e de olhos abertos. Para qualquer tipo de violência, o silencio precisa ser rompido. Lembram aqueles três macaquinhos: não vejo, não falo, não escuto? Isso precisa mudar. Eu vejo, eu escuto, eu falo. “Ai de mim se eu me calar” (Jr 1).
Abre Senhor os meus lábios e minha boca cantará louvores (Salmo 51,17). Que Deus nos fortaleça e nos dê força e voz suficientes para continuar lutando contra toda e qualquer tipo de violência e ameaça contra a vida plena que Ele nos oferece.
Paulo Ueti
Assessor da Pastoral da Criança