Líder, como você, a maioria da população brasileira diz que a saúde é a sua principal preocupação no dia a dia. Nas eleições, o assunto é tratado como o primeiro da lista. E o que dizem os candidatos é um discurso que se repete em cada eleição: "vou trabalhar para a população ter mais saúde"; "vou defender o Sistema Único de Saúde (SUS) para todos".
Muitos políticos eleitos dizem que são a favor do SUS, mas na hora de decidirsobremaisrecursos,maisfiscalizaçãoemaistrabalhosdeprevenção no SUS, as desculpas, e até mesmo a covardia, revelam as preferências de quem governa o país. Poucos políticos utilizam os serviços dos SUS. E o exemplo vem dos políticos federais, que usam hospitais privados de São Paulo para se tratar. Uma amiga escreveu sobre esse assunto com o título "O SUS de palanque". O texto chama a atenção para as juras de amor pelo SUS dos políticos. Mas eles não revelam que quem paga os custos da campanha são os grupos que nem sempre são a favor do SUS para todos.
Há quem defenda que os candidatos nas eleições deveriam assumir o compromisso de optar pelo SUS na hora de usar os serviços de saúde para si e a sua família. Seria como dizer que eles deveriam optar pelo mesmo serviço que eles pretendem oferecer para a população. É claro que em resposta, surgem desculpas, tais como: o SUS não consegue atender a todos; e que é preciso respeitar os políticos que têm condições de ter atendimento particular.
Qual é a saída então? Um ato democrático forte poderia ser o critério de votar em candidato que durante a ocupação do cargo público, além de ficha limpa, colaborou para construir o SUS. Caso a pontuação seja negativa, ou seja, se no seu mandato não contribuiu para aumentar os recursos, a qualidade dos serviços e a fiscalização do SUS, perde o voto. Isso deixaria muito político de fora.
A Igreja recentemente realizou dois movimentos de peso para a saúde. A Campanha da Fraternidade de 2012, sobre a saúde pública, e a coleta de mais de 800 mil assinaturas de apoio ao Projeto de Lei Saúde Mais Dez. A iniciativa popular pede a destinação de 10% das receitas correntes brutas da União para a Saúde Pública. No total, esse Projeto recebeu mais de 2 milhões de assinaturas. O governo e a maioria dos políticos do Congresso Nacional em Brasília não deram valor ao que o povo escreveu no Projeto de Lei de iniciativa popular que mais recebeu apoio na história. Após meses, a resposta foi a mesma de sempre: não temos dinheiro para aumentar os recursos da saúde. Será que estes políticos merecem ser reconduzidos ao poder?
"Os cidadãos, disse o Papa Francisco, não podem se desinteressar da política e dizer não tenho nada a ver com isso, eles governam... Ao invés, eu sou responsável pelo seu governo e devo dar o melhor de mim para que eles governem bem e participar da política dentro das minhas possibilidades. A política – afirma a Doutrina Social da Igreja – é uma das formas mais altas de caridade, porque serve ao bem comum. Eu não posso lavar minhas mãos. Todos devemos oferecer algo!"
Ao longo das últimas 4 eleições, a Pastoral da Criança promoveu o documento "Convocação aos Candidatos". Chegou a hora de cobrar os resultados. Caso for preciso, a população poderá renovar drasticamente os nomes de quem hoje está no poder e não foi capaz de dar respostas para as necessidades do povo brasileiro. A cada pessoa desejo sabedoria na hora de votar.
Clóvis Boufleur
Gestor de Relações Institucionais da Pastoral da Criança