Junho é mês de festas e de muita alegria em nosso país. É tempo de celebrar João, o Batista. João foi um homem muito importante para a tradição cristã. Ele é o precursor do Messias Servo Sofredor e também acabou se tornando o patrono da vida monástica no cristianismo.
Junho é também o mês dos jogos da Copa do Mundo, que tem sido objeto de discussão e debate desde que foi anunciada que seria em nosso país. Apesar de sermos o "país do futebol", precisamos reconhecer que há ainda muita pobreza, segregação e desigualdades que impedem que a maioria da população tenha acesso aos benefícios que as construções e o evento da Copa possam oferecer. Neste tempo, então, é o momento oportuno (Kairós) para refletir sobre o significado da profecia em nossos tempos. É muito importante recordar que os evangelhos fazem questão de colocar Jesus na tradição de João, o Batista. Ele é profeta, vive como um e os evangelhos mostram sua atuação como sendo perturbadora para a ordem estabelecida. Ele tem seguidores e prega a conversão dos pecados.
Conversão é um movimento fundamental para nossa espiritualidade. Converter-se significa mudar de caminho e de mentalidade. Nem sempre conseguimos fazer isso sozinhos. Por isso, precisamos de ajuda. Quando alguém na comunidade peca, ou seja, faz algo de errado (erra o objetivo para o qual Deus o escolheu), precisamos ajudar essa pessoa a voltar para o caminho. Infelizmente, às vezes, as pessoas da comunidade passam a discriminar a pessoa e em muitos lugares quem comete pecado é excluído de quase tudo. Na tradição cristã aprendemos diferente. Quando alguém está num caminho que não condiz com o caminho de Jesus, a gente tem que fazer como o pastor que foi atrás da ovelha que tinha saído do rebanho e a trouxe de volta.
Nossa missão é ir caminhar junto e JUNTOS voltar para o caminho. Excluir alguém porque pecou não é o jeito de Jesus. Quando o filho mais novo daquela parábola do capítulo 15 de Lucas volta, aquele que tinha desperdiçado todo o dinheiro da herança, o pai caminha em direção a ele (a palavra grega pode ser traduzida por "caminha com") para acolhê-lo e trazê-lo de volta para o convívio da comunidade, onde ele pode aprender a viver bem de novo.
Quero compartilhar uma história que li há algum tempo: Há uma "tribo" africana que tem um costume muito bonito. Quando alguém faz algo prejudicial e errado, eles levam a pessoa para o centro da aldeia e toda a tribo vem e o rodeia. Durante dois dias, eles vão dizer ao homem todas as coisas boas que ele já fez. A tribo acredita que cada ser humano vem ao mundo como um ser bom. Cada um de nós deseja segurança, amor, paz, felicidade. Mas, às vezes, na busca dessas coisas, as pessoas cometem erros. A comunidade enxerga aqueles erros como um grito de socorro. Eles se unem, então, para erguê-lo, para reconectá-lo com sua verdadeira natureza, para lembrá-lo quem ele realmente é, até que ele se lembre totalmente da verdade da qual ele tinha se desconectado temporariamente: "Eu sou bom". Sawabona Shikoba! SAWABONA, é um cumprimento usado na África do Sul e quer dizer: "Eu te respeito, eu te valorizo. Você é importante pra mim". Em resposta, as pessoas dizem SHIKOBA, que é: "Então, eu existo pra você"
O movimento profético de João, o Batista, queria trazer o povo e a religião de Jesus de volta para o caminho da misericórdia e da justiça. As pessoas religiosas e os líderes da religião daquela época haviam se esquecido disso e eram cúmplices do império que matava, maltratava o povo. Por isso, quando João, o Batista, com suas palavras e com sua prática, incomodou o governador local, ele acabou morto. A religião deve fazer com que as pessoas tenham respiros de vida e não de morte. Não se deve matar e excluir em nome da religião. A religião é para produzir paz, convivência e fraternidade. Não é para condenar, mas para salvar e trazer as pessoas de volta ao caminho de Jesus: vida e vida em abundância. Vale a pena pensar nisso. Em vez de moralismos estéreis e imperialistas, sejamos vozes mais pacificadoras e amorosas para o povo e para nós mesmos que gememos por um mundo novo.
Paulo Ueti
Assessor da Pastoral da Criança