No dia 27 de fevereiro, viajava no metrô de Roma. Na minha frente uma mãe africana com a sua criança estava chorando; a criança acariciava a mãe na intenção, imagino eu, de consolá-la! No entanto, eu me questionava: o que poderia fazer por ela? Na minha cabeça ressoavam as palavras que o Papa Francisco disse aos bispos brasileiros durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro: "precisamos de uma Igreja que não tenha medo de entrar na noite das pessoas que sofrem... precisamos de uma Igreja capaz de fazer companhia, de ir além da simples escuta; uma Igreja que acompanhe o caminho, pondo-se em viagem com as pessoas...". Passaram-se poucos minutos e chegou a estação onde devia parar. Não tive tempo para fazer nada. Apenas fiquei com o questionamento.
Naquele dia, porém, eu tinha uma audiência com o Papa, junto com outros bispos do Movimento dos Focolares, e me dirigi apressadamente ao Vaticano. O Papa, no seu discurso, lembrou as palavras de João Paulo II, o nosso Santo: "Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande
desafio que nos espera no milênio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo". E comentava Francisco: "Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão é deveras fundamental para a eficácia de qualquer compromisso na evangelização, porque revela o desejo profundo do Pai: que todos sejam seus filhos e vivam como irmãos; revela a vontade do coração de Cristo: que todos sejam um; revela o dinamismo do Espírito Santo, a sua força de atração livre e libertadora".
Olhando para os graves problemas da humanidade, sabemos todos que não temos individualmente condições de aliviar todas as dores, enxugar as lágrimas, ajudar os doentes, visitar as periferias, etc. Mas devemos ter consciência de que somos Igreja: a nossa Igreja é a casa da comunhão que presta serviços, através das suas pastorais, aos excluídos da sociedade; sabemos também que ao longo da história surgiram santos e santas que, vivendo intensamente o Evangelho, dedicaram a sua vida aos mais pobres deixando obras que, ao longo dos séculos, foram o sinal do amor e da misericórdia de Deus para toda a humanidade. Basta pensar na caridade de Madre Teresa de Calcutá! Nós somos membros de uma Igreja que sempre foi uma escola de comunhão através dos seus ensinamentos. Basta lembrar o que está escrito no documento do Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, que afirma: "As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração... A Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história".
Quando penso na Pastoral da Criança e nas intuições da sua fundadora, Dra. Zilda Arns, posso contemplar a ação generosa de milhares de voluntários que aliviam o sofrimento de muitas crianças e suas mães: e vejo nisto a ação da Igreja que enxuga as lágrimas dos mais pobres.
Quando estou na Fazenda da Esperança e encontro muitos jovens que recuperam o sentido da vida, não apenas libertando-se da droga, mas de muitos outros vícios, posso confirmar que o Evangelho de Jesus que a Igreja leva ao mundo é verdadeiramente fonte de cura e de libertação.
Quando vivo e divulgo a Campanha da Fraternidade em que a CNBB convida os católicos e as pessoas de boa vontade a colocar-se do lado das vítimas do tráfico humano, denunciando os criminosos que exploram os mais fracos, eu agradeço a Deus porque a minha Igreja Católica é sensível ao sofrimento de qualquer pessoa humana. E sei que nesta luta tem milhares de religiosas engajadas no projeto da CRB "Rede um grito pela vida": é uma expressão da Igreja que está atenta às necessidades dos filhos de Deus. E quando nestes dias de euforia pela Copa do Mundo há muitas pessoas exploradas de muitas formas pelo turismo sexual, a Igreja nos convida a "Jogar pela vida".
Poderia continuar elencando muitas outras ações que a Igreja Católica desenvolve no mundo inteiro: a minha alegria é poder dizer "eu faço parte desta Igreja". Não posso resolver tudo, mas vivo a comunhão com todos, compartilhando os frutos e resultados das ações evangelizadoras e caritativas de milhares de grupos, pastorais e movimentos. A Igreja é um corpo e cada membro desenvolve a sua missão: se você pode dizer que está contribuindo para que a Igreja seja uma casa e uma escola de comunhão você está aquecendo os corações das pessoas que, no meio dos desafios da vida, buscam a felicidade.
Servir por amor, servir por primeiro, servir porque Cristo está presente em todos os irmãos e irmãs que passam ao meu lado: isso será sempre fonte de paz e de alegria!
Dom Bernardino Marchió Bispo da Diocese de Caruaru, Pernambuco