“Faça tudo o que ele vos disser”. Esse foi o pedido de Maria, mãe de Jesus para os diáconos nas bodas de Caná, para a qual ela, Jesus e os discípulos dele haviam sido convidados. O mês de Maio, costumeiramente, é dedicado às mulheres e, especialmente, a mulheres que desejam algum dia celebrar bodas, as noivas. Prefiro pensar que são mulheres que querem dar testemunho de que entregar-se a uma relação amorosa ainda vale a pena e precisa ser celebrado. Por isso, o pedido de Maria para que os diáconos façam o que Jesus disser que é pra fazer.
Maria aqui é apresentada como modelo de liderança atenta às necessidades do povo (falta vinho) e com habilidades de coordenação, rapidamente encontra meios de fazer com que a festa continue. O texto de João, mal traduzido, nos lembra também um outro ministério importante na comunidade. O ministério do diaconato. As nossas traduções têm a palavra “servos” ou “serventes”, mas na verdade João está mencionando os diáconos que também devem estar atentos para as necessidades do povo e fazer (não falar) o que Jesus pedir pra fazer. Maria aqui é apresentada como uma mulher que quer garantir que o mundo das relações permaneça. É necessário vinho, alegria, verdades (in vino veritas - no vinho a verdade), atenção e permanência. A vida da comunidade é uma vida baseada nas relações que conseguimos estabelecer. Por isso, somos pessoas religiosas, não porque louvamos a Deus e vamos a missa ou temos devoções, mas porque insistimos em manter relações uns com os outros, umas com as outras. Isso é religião. Religião vem da palavra “re-ligare”, reconectar, manter as relações vivas.
Olho para essa Maria, a do Evangelho, e encontro muita similaridade com as mulheres e homens da Pastoral da Criança espalhados por aí. Pessoas que querem garantir que a festa (a vida) não acabe por falta de vinho (saúde, moradia, atendimento, atenção, carinho, presença). E para isso precisamos todos e todas fazer “o que ele disser”. Não somos convidados para louvar a Deus esquecendo as necessidades do povo. O louvor que Maria e esses diáconos prestam ao Senhor é manter a festa, ou seja, manter a vida. Estar atentos ao povo significa estar atentos para as necessidades do povo e estar presente ali para “fazer o que Ele disser”: eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância.
Recentemente, li um artigo do Pe. Zezinho, que imagino que muitos de vocês conhecem. Ele lembra que “de cada 20 canções de louvor cantadas nos templos católicos e evangélicos, 19 falam e cantam o louvor! A solidariedade, a compaixão e a família raramente são celebradas nos templos. Os casais, pais e filhos, noivos, pobres e enfermos e a justiça social nunca são cantados… Os cristãos desistiram de cantar a solidariedade e a compaixão! Vão na direção oposta dos profetas libertadores. Apenas abordam a libertação do coração pecador. Fome, violência, separações de famílias, crianças abandonadas, adolescentes sem acesso à educação, corrupção, não se canta e não se exorta! Os profetas não fugiam destes temas! Os cantores cristãos dos últimos 30 anos optaram por não tocar nestes temas! Família, ecumenismo, solidariedade, temas sociais, violência contra as mães, pais e filhos, enfermos, libertação, ecologia, nada disso é cantado, como se a Igreja só pudesse evangelizar com cantos de louvor!”
Essa é a Maria, mulher, mãe e membro ativo da comunidade. Essa é a festa, a boda, o noivado. Estar disposto a entregar-se para continuar o ministério de Jesus, transformar água em vinho, falta em abundância, tristeza em alegria. Esse é o louvor, o glória, ao qual somos chamadas e chamados: servir o povo em suas necessidades, não permitir que a morte vença.
Que a graça de Deus nos acompanhe sempre nesse ministério diaconal que mulheres e homens da Pastoral da Criança continuem atendendo o povo, construindo comunidade e fortalecendo uma espiritualidade que liberta e vence a morte e a tribulação. Convido vocês a lerem nesse mês nas comunidades todo o capítulo 8 da Carta de Paulo aos Romanos.
Paulo Ueti • Assessor da Pastoral da Criança