Estamos no tempo da Quaresma. É o tempo de preparo para celebrar a Páscoa do Senhor, a Páscoa do povo. É tempo de catecumenato também. Nas Igrejas antigas esse era o período em que as pessoas se preparavam para o Batismo, para fazer parte de uma nova família, agora em Cristo e não mais a partir dos laços de sangue. Grande desafio assumir a comunidade cristã.
Espera e escuta são duas atitudes fundamentais, principalmente neste período. Essas atitudes provocam conversão: mudança de mentalidade e de atitudes. Na Quaresma somos convidados a uma meditação profunda sobre o significado da Cruz de Cristo. Somos convidados a “ter os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (cf. Carta aos Filipenses) e a ter fé COMO Jesus, não EM Jesus (cf. Carta aos Efésios). Os Evangelhos, que vieram depois das cartas de Paulo, nos oferecem o modelo e o método (caminho) que é fazer O QUE e COMO Jesus fez. Na Campanha da Fraternidade deste ano somos convidadas a tomar mais atenção para a realidade (não é um tema) do tráfico de pessoas. Nossos sistemas transformaram pessoas em coisas que geram lucro. E muitas vezes transformaram pessoas em coisas insensíveis e desapercebidas das realidades que as rodeiam. A fé no Deus da Vida não permite que haja silêncio diante dessa realidade. Como canta o poeta “é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”.
SAIBA MAIS
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Conforme declaração de Frei Xavier Plassat e Francisco Alan Santos Lima, um Estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), no início de junho de 2012, propõe uma estimativa global do número de vítimas do “tráfico humano”, conceito que inclui o tráfico para trabalho forçado e o tráfico para exploração sexual. Em que pese o desafio de apreender um crime praticado na clandestinidade, a Organização Internacional do Trabalho estima esse número em 20,9 milhões, sendo 1,8 milhões somente nos países da América Latina e Caribe: uma prevalência de 3,1 por mil, acima da média global. Do total mundial, a exploração laboral representa 78% (sendo 14,2 Mi pela economia privada e 2,2 Mi pelo Estado) e a exploração sexual, 22% (4,5 Mi); 74% das vítimas são adultos e 26%, crianças; 55% são mulheres, 45% homens; em 44% dos casos, essa exploração se dá no decorrer de uma migração, seja dentro do próprio país (15%) seja para fora do país (29%), percentagens que, no caso da exploração sexual, são bem diferenciados: 19% no país e 74% fora. Bem conhecido no campo brasileiro sob a figura do “gato”, o chamado aliciamento é um mecanismo encontrado sob todas as latitudes, tendo entre suas vítimas pessoas afetadas por uma ou várias características de vulnerabilidade da qual se aproveitam os traficantes”.
Do jeito que Deus ESCUTOU o clamor do povo e DESCEU para libertar, depois enviou os profetas para ajudar o povo a permanecer no caminho e por fim seu filho amado para nos prover de modelo e de coragem, nós estamos inundados de amor que nos impulsiona para publicar nossa indignação e nossa denúncia a essa negação da dignidade de pessoa.
Somos imagem e semelhança de Deus, todas e todos nós somos, não somente alguns ou algumas. Por meio da fé nos tornamos a mesma família. O que acontece com um acontece com todos. Se alguém no corpo de Cristo está ferido, vulnerável, machucado ou traficado, todos nós estamos. Se alguém se alegra, rejubila, todos nós nos alegramos e rejubilamos. Esse é o corpo místico de Cristo que nos une a todos e todas e nos compromete a todas e todos.
A Pastoral da Criança dá esse testemunho de dedicação, carinho, cuidado e despojamento no dia a dia. Que esse modelo, baseado em Jesus, o Cristo, possa servir de chamamento nesta Quaresma para a situação em que vivemos e possamos continuar fazendo algo para mudar isso.