Desejaria que esse artigo fosse escrito por nossa querida e saudosa Dra. Zilda nessa festividade dos 30 anos da Pastoral da Criança. Certamente, ela evocaria a solidariedade como mola propulsora que fez a Pastoral da Criança ser acolhida, aceita, espalhada pelo mundo, porque construída com base na multiplicação do saber e do conhecimento, a fim de que chegasse às famílias mais pobres e necessitadas.
Queremos continuar sendo porta-voz dessa herança portadora de vida desde sua concepção: a Palavra de vida de Mc. 6, em que o milagre se faz com a partilha.
É um Jubileu, uma comemoração especial. É um momento forte de rendermos graças a Deus por tantas crianças saudáveis, graças ao empenho de nossos líderes, homens e mulheres corajosos que descobriram que servir o próximo é servir o próprio Cristo.
Cada uma das pessoas que compõem a Pastoral procura dar o máximo de si. Esta dedicação pessoal, quando se junta a dos outros, forma uma força muito grande que tem transformado muitas comunidades por este Brasil afora.
Segundo depoimentos da Dra. Zilda, o nascer da Pastoral da Criança superou muitas barreiras, pois implantar uma história de Fé e Vida exigiu muita generosidade por parte das pessoas comprometidas e voluntárias.
Poderiamos dizer que o desafio inicial foi a luta pela superação da mortalidade infantil. A cada mil crianças nascidas vivas morriam 127. Mas graças ao trabalho de milhares de mãos, esta realidade em pouco tempo foi modificada. Hoje, a árvore estendeu seus ramos para todo o Brasil e para mais de 20 países.
Mas Dom Geraldo Majella Agnelo e Dra. Zilda Arns tinham certeza de que o Espírito Santo seria o grande motivador dessa Pastoral e que os líderes comunitários seriam pessoas que estariam aprendendo as ações básicas e ensinando às mães como combater as causas da mortalidade infantil, que seria reduzida pela utilização do soro caseiro, pela amamentação, com a vigilância nutricional, vacinas e também com os cuidados com a gestação de qualidade e parto humanizado.
Muitos desafios foram enfrentados nesse momento, sobretudo para promover a prevenção no Sistema de Saúde. Houve necessidade de se esclarecer de que o que estava em jogo era a multiplicação do saber e o combate à desnutrição, realizando-se uma educação participativa, na qual as mães seriam o sujeito desse processo. Não se pretendia de forma alguma ocupar um espaço que era próprio da esfera pública.
Graças às primeiras sementes lançadas em terreno bom e fértil é que hoje podemos comemorar os trinta anos de existência. Esta comemoração se deve a milhares de pessoas que não medem esforços e sacrifícios para que a Pastoral chegue lá onde a vida ainda se encontra mais fragilizada.
Seria muito bom se tivéssemos anotado tudo isso em um grande jornal para não esquecer de agradecer a ninguém. Os operários da primeira hora, da segunda, da terceira e assim por diante. Podemos nos perguntar a quanto tempo o Senhor nos chamou para fazer parte da sua vinha? Mas isso não é importante. O mais importante e significativo é que hoje estamos fazendo a nossa parte nessa linda Igreja que é decididamente missionária e que está a serviço dos mais pobres.
Muitas histórias de sucesso, muitas mãos, muita luta, muitas visitas, muitas celebrações e, porque não falar, muitas vidas salvas por mãos de pessoas tão generosas.
Trinta anos, há muito que comemorar. Aprendemos muito, somos testemunhas de muita transformação, ajudamos e fomos muito ajudados. Lembro do testemunho de uma líder: “foi a melhor faculdade que fiz. Graças ao trabalho da Pastoral, hoje sou alguém, sou reconhecida como pessoa”. Se eu pudesse registrar tudo o que me falam... “Irmã, saio de casa para fazer as visitas, apesar de as vezes sentir que nem todos compreendem o que eu faço, meu coração diz que eu preciso fazer”. Quantas coisas bonitas...
Vamos continuar, pois ainda temos outros desafios. Chegar a todas as comunidades, aumentar o número de líderes, acompanhar mais gestantes. Vamos continuar apostando naquilo que está dando certo.
Um abraço e meus parabéns a todos vocês que já fizeram, estão fazendo e vão fazer parte de missão. Que o Bom Deus possa derramar muitas bênçãos na vida de cada um de vocês.
Irmã Vera Lúcia Altoé
Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança - Congregacão Imaculada Conceição de Castres - CIC • Irmãs Azuis
Este artigo foi publicado na edição 199 do Jornal da Pastoral da Criança / Agosto de 2013