Na base da tradição monástica está o desejo de “buscar o Senhor”. Os mosteiros eram chamados por São Bento de ‘Escola de serviço do Senhor’ (Prólogo RB n. 45). O mosteiro, do mesmo modo que a comunidade, é o lugar onde desenvolvemos nossa capacidade de “escutar o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap 2,7) para que sejamos colaboradores da Obra Divina no intuito de “fazer nova todas as coisas”. Com isso, podemos nos levantar da tristeza e do desespero, com ardor no coração e coragem de sair da gente mesmo e encontrar irmãs e irmãos que, pelo Espirito de Deus, são bálsamo de cura e dínamo do Reino.
No mês de junho, celebramos a festa de São João, o Batista. Ele é o “patrono” da vida monástica. Ele é o símbolo e a mensagem de que o caminho (o jeito, o método) é tão importante quanto a chegada, o objetivo, o resultado. Por isso, ele é a voz que clama no deserto. Mesmo no meio do perigo de morrer, no silêncio barulhento, há uma voz que clama e a qual somos chamadas/os a ouvir. Somos chamadas/os a sermos UM, como Jesus e o Pai são UM. UM (monos – monge) é a nossa vocação – Deus nos chama para sermos UM, inteiros, integrais.
As parábolas e os relatos de curas e milagres foram guardados na memória das comunidades para não deixar esquecer (contar uma VERDADE) de que o ministério de Jesus, e portanto da comunidade cristã, é cuidar e deixar-se cuidar. A comunidade é o lugar privilegiado da cura, da sanação e do perdão. Ali encontramos (ou deveríamos encontrar) colo, alento e lugar de treino para novas relações que conectam a gente e que nos fazem seguir adiante na vida, mesmo com o sofrimento de cada dia. A comunidade deve ser o lugar onde gente sem rumo e sem alento encontre paz e motivo de continuar a caminhada.
Muitas das histórias contadas nos Evangelhos tem por objetivo ajudar as pessoas a superarem suas frustrações, seus medos e sua autoimagem de pecadoras excluídas, fruto de uma interpretação exclusivista e diabólica (que divide) da religião. As vezes parece que o pecado e a culpa têm mais poder que a graça e a misericórdia de Deus que Jesus veio revelar.
As imagens que criamos ou que criaram para a gente de Deus e da humanidade, muitas vezes, nos levam ao desespero (ficamos sem esperança). Nossos passos ficam lentos e nossos olhos embaçados e somos impedidos de enxergar a realidade e entender a revelação. Como o casal de Emaús, Cleofas e sua esposa Maria, no caminho fugindo de Jerusalém, decepcionados, tristes, cabisbaixos e nervosos. Eles queriam um rei que fosse forte e dominador. Eles queriam (estavam acostumados) com o “poder sobre” e não puderam compreender que a força está no “poder com”.
Continua na próxima edição.