Durante a Quaresma somos convidadas/os a compartilhar e não a dar o que sobra, orar, o que significa entrar em sintonia com Deus e a comunidade, e não fazer lista de pedidos ou agradecimentos simplesmente, e a jejuar, que é identificar-se com as pessoas que sofrem e são mais vulneráveis, e não somente deixar de comer ou fazer “economia doméstica” (deixar de comprar/consumir algo durante a Quaresma). O pedido do Evangelho é que amemos aos irmãos, porque só assim demonstramos que amamos a Deus (Jo 15 e 1Jo).
Neste tempo somos chamadas/os a “permanecer” (Jo 15) no amor de Deus, porque somos chamadas/os filhas/os de Deus. É uma responsabilidade e não um privilégio essa filiação. É uma exigência de se dar conta de que não há mais servos ou senhores. Jesus não é “senhor/dono” ele é nosso amigo (Jo 15). Vale a pena meditar bastante este capítulo 15 do Evangelho de João.
A Quaresma, neste ano, nos ajuda a refletir mais sobre as juventudes e suas realidades, e como tudo isso afeta a toda a sociedade, e questiona as Igrejas em suas práticas ou omissões. A partir desse tempo de penitência, o Espírito de Deus nos congrega e nos inspira para, junto com Jesus, caminhar para a cruz, sabendo que o sofrimento é parte integrante, mas com a certeza de que não estamos sozinhas/os e de que juntas/os o peso é menor e o resultado mais alegre: ressurreição. A certeza de que a vida sempre tem a última palavra e é a que deve ser protegida e cuidada. Penso que as lideranças da Pastoral da Criança, conscientes ou não disso, expressam dia-a-dia a beleza e a loucura de um Deus que morre e ressuscita para que “a alegria seja plena” (Jo15).
A Ressurreição de Cristo é um chamado a comprometer-se cada vez mais com a vida, contra a opressão, discriminação e qualquer ato, pensamento, silêncio ou omissão que desumanize alguém. É exigência de escutar: a natureza, as pessoas, as crianças, as vítimas, nosso coração e corpo. É força e energia para seguir, mesmo contra todos os sinais de morte. Mesmo no vale das sombras Deus nos acompanha para que encontremos um jeito de enxergar. Experimentem. Quando estamos no escuro, se “permanecemos” (Jo 15) a escuridão vai se dispersando e a gente consegue enxergar. Nossos outros sentidos ficam mais aguçados e a gente começa a utilizá-los. A Ressurreição nos impele a isso, vamos aprender a dar todo nosso corpo para que a escuridão e o sofrimento (nosso, das outras pessoas e do planeta) sejam abrandados, esfriados. A Ressurreição de Cristo é frescor contra a violência e a morte, contra a intolerância e a incapacidade de perdoar e seguir a vida.
Oremos para que Cristo Ressuscitado seja nossa força e nossa esperança, seja nosso grande irmão que nos ajuda a passar por lugares difíceis, que nos acompanha no quarto escuro e nos provoca a mover-se na vida.
“Ó, tu que salvas o corpo da morte
E a alma das trevas:
Recebe o louvor que te ofereço
Do fundo deste corpo sacrificado, mas vivo.
Permite que esta carne corruptível te seja santa;
Que meu canto tímido te seja agradável.
E habitarei os teus altares para sempre;
Pois sou toda/o seu, de corpo, espírito e alma. Amém !”
(Luiz Carlos Ramos, cf Rm 12,1-2)