O projeto de vida de Maria Aparecida Menezes de Paula (Mariinha) foi alterado em 1998 depois de um trágico acidente que a deixou paraplégica. Demorou para aceitar a realidade e começar a lutar. Aproximou-se mais da Igreja. E sua vida tomou novo rumo quando foi convidada para participar da Pastoral da Criança. Como líder, visitou famílias durante dois anos. Depois passou a coordenadora paroquial.
Mãe de dois filhos, dona de casa, consultora de vendas, capacitadora do Guia do Líder e membro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Serrana (SP). Nada impede Mariinha de desempenhar tantas atividades e com muita energia e satisfação. “Quando nos colocamos ao serviço do próximo, não vai evitar que tenhamos problemas, mas o fardo se torna mais leve”, diz Mariinha.
Em 2011, Mariinha, com 35 anos, falou um pouco sobre sua vida. Nasceu em 17 de novembro de 1976, em Casa Branca, no interior de São Paulo. Nos primeiros anos de vida, a família muda-se para Serrana onde ela cresce numa fazenda. Estuda e se forma no Magistério porque sempre gostou de criança e achava que seu caminho era este. Planejava fazer faculdade.
Mas aos 19 anos conhece e se apaixona por Julio Cesar. Casam-se, mudam-se para Guairá na mesma região de Serrana. Em 1998 Mariinha tem sua filha Adrielly. O casal vive em harmonia na Fazenda Rosário. Programa de final de semana é visitar a família em outra cidade.
Esse era o programa para o dia 16 de agosto de 1998. Rodovia Anhanguera, meio-dia, pista esburacada, um terrível acidente. A filha de 7 meses de idade foi salva por milagre porque foi atirada na pista da rodovia. O marido Julio nada sofreu de grave. Mas aí iria começar o drama de Mariinha. Quebrou a coluna, houve lesão medular entre a T10 e T11, trincou uma vértebra da cervical, quebrou costela, perfurou o pulmão...... Mais tarde o médico confirmou que Mariinha, aos 21 anos, tinha ficado paraplégica.
Demorou para aceitar e começar a lutar. Ficou trancada em casa por mais de um ano. Achava que saia e todos ficavam olhando para ela e não gostava nada disso. A mãe, pessoa de muita fé e coragem levou-a para conversar com padre Aryclenes, também psicólogo em Serrana que disse a frase que não saiu de sua cabeça: “Essa cadeira de rodas é a sua melhor amiga”.
Três anos depois do acidente, Mariinha deixa a casa da mãe e volta para sua casa, agora em Sertãozinho disposta a vencer todas as barreiras para levar uma vida normal: casa, filha, fisioterapia etc. Aprende e tira a carteira de motorista.
Em 2004 perde o pai e todos na família sofrem. Mariinha sente a necessidade de se aproximar mais da igreja. E se sente tocada pelo apelo de padre Marcelo Pereira que convida a comunidade para formar uma equipe da Pastoral da Criança. Sentiu-se chamada por Deus. Sua vida tomou novo rumo. Ela diz: “só assim podia ver o que Deus estava esperando de mim”.
Fez as capacitações para ser líder da Pastoral e durante dois anos fez visitas domiciliares a famílias nas comunidades pobres. Em janeiro de 2009 foi indicada para ser Coordenadora Paroquial da Pastoral da Criança.
Em 2007 decidiu ter mais um filho. Com todos os cuidados o filho Miguel nasceu em 2008. Mãe paraplégica cuidando de bebê. Mais um desafio. E assim foi.
Mariinha e Julio estão juntos há 15 anos, tem os filhos Adrielly com 13 e Miguel com 3 anos. Passaram por problemas, têm dificuldades, mas sempre perseverantes. “Quando nos colocamos a serviço do próximo, não vai evitar que tenhamos problemas, mas o fardo se torna mais leve”, diz. “Hoje não tenho tempo para nada, mas arrumo tempo para tudo.”
Ela conta: “sou dona de casa, faço hidro e fisioterapia todos os dias, participo de encontro de casais de outra paróquia, mas jamais deixo o compromisso com a Pastoral da Criança. Sou consultora da Natura, capacitadora do Guia de Líder (treinamento de voluntários da Pastoral) e membro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Serrana”.
Hoje ela diz que “deficiente é aquele que não consegue andar em direção daqueles que mais precisam de sua ajuda. Deficiente não. Eficiente especial”.
Junho, de 2011.