Paz não é algo que se dá ou que se conquista Paz é algo que se alimenta e compartilha. Por isso, Jesus disse que “a Paz esteja com vocês”. A paz precisa ser reconhecida e é uma realidade a ser constantemente construída no mundo. Já sabemos que a paz não é ausência de guerra ou de violência. Paz para nossa tradição é igual a justiça. Paz evoca uma realidade de equilíbrio e de busca de plenitude. Vamos ler o Salmo 85 (84): Justiça e paz se abraçarão!
Vivemos em uma sociedade onde a violência está praticamente institucionalizada e pouco conversada. Os índices de violência doméstica, especialmente envolvendo mulheres, crianças e idosos são altos e alarmantes. Jovens negros são as pessoas que mais estão sendo assassinadas em nosso país. A desigualdade no Brasil é altíssima e desafiadora. Apesar de sermos a sexta economia no mundo, estamos ainda com um fosso entre pobres e ricos.
O Relatório da Organização das Nações Unidas (Pnud), divulgado em julho de 2011, aponta o Brasil como o terceiro pior índice de desigualdade no mundo. Quanto à distância entre pobres e ricos, nosso país empata com o Equador e só fica atrás de Bolívia, Haiti, Madagáscar, Camarões, Tailândia e África do Sul.
Aqui temos uma das piores distribuições de renda do planeta. Entre os 15 países com maior diferença entre ricos e pobres, 10 se encontram na América Latina e Caribe. Mulheres (que recebem salários menores que os homens), negros e indígenas são os mais afetados pela desigualdade social. No Brasil, apenas 5,1% dos brancos sobrevivem com o equivalente a 30 dólares por mês (cerca de R$ 54,00) O percentual sobe para 10,6% em relação a índios e negros.
Para a tradição bíblica do “shalom” e da “paz que Jesus nos deixou” essa realidade não combina. A paz está, como o reino de Deus, para ser descoberta, revelada, compartilhada e construída. Nossa vida, nossos corpos, nossa pastoral, nossas palavras e nosso testemunho no mundo são os canais de Deus para que a Paz Esteja Com Todos Vocês. “Eis que vos deixo a Paz, a Minha Paz”, disse Jesus. Como compartilhar essa paz que “já está no meio de nós”?
O trabalho da Pastoral da Criança é um testemunho de que a paz é possível. Cuidado, carinho e transformação da realidade são possíveis quando a gente se junta e “vai” ao encontro de quem mais precisa de nossa presença e palavra, gesto e desprendimento.
Muito ainda precisa ser feito, mas é importante celebrar o que temos e já fazemos. Claro que é necessário mais envolvimento da sociedade e das Igrejas na defesa dos direitos humanos, na educação para paz e na construção de uma cultura de paz, perdão, festa e alegria. A comunidade deve ser esse espaço seguro e de exemplo de paz, compreensão e compromisso com a vida do planeta e das pessoas mais vulneráveis. No nosso trabalho e nas nossas catequeses estamos educando jovens, crianças e adultos para a paz? Estamos compartilhando palavras que esfriam a violência e conduzem à justiça e à ternura? Que palavras vocês estão compartilhando no seu trabalho?
Paulo Ueti
Assessor da Pastoral da Criança