O Evangelho de Mateus guarda uma memória muito importante do movimento de Jesus: “Estavam ali muitas mulheres, observando de longe; eram as que vinham seguindo a Jesus desde a Galiléia, para o servirem como diáconas.”(Mt 27,55). O apóstolo Paulo cita várias mulheres importantes no serviço da comunidade, em Romanos 16. Defende o direito delas de manter-se no ministério da profecia sem a necessidade de véu (1Cor 11,2-16), retoma a fórmula batismal, que foi sendo esquecida até hoje em muitas igrejas, de que “não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos são UM em Cristo Jesus” (Gl 3,26-28).

Parece que, quando o evangelho foi escrito, havia um conflito pela presença de mulheres no serviço (ministério diaconal) na comunidade. Por isso a comunidade de Mateus teve que trazer com muita força essa memória de que mulheres seguiam Jesus desde a Galiléia, do mesmo jeito que os homens o seguia. O interessante é que o evangelho (nenhum) menciona que Jesus “chamou” a elas de maneira especial. Parece que elas entenderam que aquele camponês chamado Jesus era alguém especial e iria fazer alguma diferença no mundo delas. Elas entenderam desde sempre. Como Maria, que atenta e com presença firme sempre esteve ao lado dele, como discípula e cuidadora.

No trabalho pastoral das nossas Igrejas acontece o mesmo. As mulheres atendem ao chamado desde o coração, muitos homens precisam do ouvido para isso. Elas sentem e se “movem de compaixão” em direção ao serviço na comunidade de atendimento aos mais vulneráveis da nossa sociedade. Elas “escutam com o coração” o chamado e o clamor dos que precisam de ajuda, atenção e cuidado. E elas assumem o compromisso de fazer isso, do mesmo jeito que Jesus fez: com diligência, desapegadamente e com caminho terno e eterno. Ajudam e são ajudadas. Mudam a vida de muita gente e também são transformadas no caminho.

As mulheres na memória das primeiras comunidades foram lembradas como exemplos de persistência no caminho e como exemplo de entendimento do projeto de Deus. Ao contrário dos apóstolos, elas são exemplos de discipulado e de fidelidade no caminho, de compreensão e de comprometimento com o caminho de cruz e de misericórdia feito por Jesus.

Maria, mãe de Deus e de Jesus, é apresentada nos evangelhos como figura dessas mulheres. Corajosa, com bravura, com energia para seguir Jesus e seu movimento onde quer que fosse, com força e persistência para enfrentar a noite de vigília aos pés da cruz, conforme Jo 19 (enquanto os homens fugiam, mentiam, se escondiam da “verdade”). A sua casa provavelmente foi a sede de uma importante comunidade cristã (conforme Atos dos Apóstolos 1 e 2). Ela certamente foi uma importante ministra da palavra e da alegria (Jo 2).

Nesse sentido, os evangelhos, a BOA Nova, conclama a todas/os nós para continuar no serviço e na profecia como ela mesmo o fez: convido todas e todos vocês a todos os dias pela tarde orar com ela o texto que está no Evangelho de Lucas 1, 47-55.

 

Paulo Ueti

Assessor da Pastoral da Criança