Vivemos hoje um processo que se chama “aceleração da história” e que os bispos da V Conferência de Aparecida preferiram chamar de “mudança de época”. Realmente, mais do que uma época de mudanças, vivemos uma mudança de época. As mudanças são rápidas e profundas e não é possível mais prever o que vai acontecer. Na verdade, a previsão do futuro era coisa de “adivinhos”, mais tarde se tornou objeto de estudiosos chamados de “futurólogos” e agora escapam do poder de previsão humana. O que vai acontecer amanhã? Só Deus sabe.
O Papa propõe para a Igreja uma nova evangelização. Os bispos latino-americanos falam de uma missão intercontinental. Mas, o que vem a ser isto ? O que a Igreja quer ? Não se trata de, como dizem alguns, do medo de “perder” católicos para as seitas. Trata-se de chegar ao homem. De anunciar a ele uma mensagem de esperança, de fé e de solidariedade. Fazê-lo entender que os horizontes não são tão sombrios. E que, na pior das hipóteses, ainda há uma luz no fim do túnel.
No meu tempo de criança eu imaginava que, se caminhasse um pouquinho mais, na direção do horizonte, poderia colocar as mãos nas nuvens. Ali estaria o limite do mundo. O meu mundo terminava ali. Mais ou menos como os judeus pensavam que debaixo da terra estava o “sheol” (o inferno) e que em cima estava o céu. Por isso, se diz, no Credo: subiu aos céus, desceu aos infernos.
Antigamente, o médico recebia o diploma e ia clinicar na cidadezinha. O diploma valia para a vida toda. O mesmo acontecia com o padre. Era ordenado e ia para a paróquia do interior e ali permanecia por anos a fio. Hoje, se não se atualiza, ele fica para trás. Já se fala até de carimbar o diploma dos profissionais com um carimbo: “produto perecível”. Em pouco tempo estará vencido o seu prazo, se não for continuamente atualizado.
A Igreja precisa acertar o passo. Precisamos rever nossos métodos de evangelização, de catequese, nossa maneira de chegar ao povo, sobretudo os mais humildes. Precisamos, depois de tantos anos da Conferência de Medellín, rever a nossa opção pelos pobres, para que ela não se torne somente uma opção, mas uma busca. Buscar o pobre, como o pastor busca a ovelha perdida.
A escola ainda está no giz, quando o computador já é unanimidade. Todo mundo tem computador. A Igreja, também, ainda está no giz, isto é, no ontem, quando o hoje já é amanhã. Precisa “colocar-se em dia”, como desejava João XXIII. Perita em humanidade, a Igreja não pode se esquecer de que “o caminho da Igreja é o homem” (João Paulo II).
Mas, como anunciar Jesus Cristo ao homem do nosso tempo que, quase sempre, não tem tempo? Como anunciar Jesus Cristo a um mundo onde “a má notícia é que Deus não existe e a boa é que não necessitamos dele?” É um grande desafio!
É preciso seguir amadurecendo a escolha pessoal da fé, sem que isso signifique sua privatização.