“... não há entre vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de família prestigiosa. Mas o que é loucura no mundo, Deus escolheu para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é...” (1Cor 1,26b,28)

A missão que nos é confiada e a qual somos todos chamados é para “que todas as pessoas tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10) e para perceber que “toda criação geme pela redenção” (Rm 8). Por isso, a missão começa onde há mais vulnerabilidade e necessidade. Esse parece ser o mandato do Evangelho, de ir a todo mundo e fazer as pessoas experimentarem o amor misericordioso de Jesus, o Cristo. Esse é o sentido do mandato no evangelho de Mateus, capítulo 28.

A missão é de Deus, é Palavra (“dabar, logos”) de Deus, ou seja presença forte e vida de libertação e práticas políticas que buscam a vida. Nós somente participamos por vocação e escolha. O testemunho das escrituras nos mostra muito claramente que Jesus nos ensinou que a missão não consiste tanto no que dizemos, mas no que fazemos. "Pelos seus frutos os conhecereis" (Mt 7,16). "Nem todo aquele que me diz "Senhor, Senhor" entrará no reino dos céus, mas aqueles que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus" (Mt 7,21). As Igrejas apostólicas destacaram esta característica fundamental da vida cristã: "Sejam praticantes da Palavra" (Tiago 1,22). Tudo que não seja conforme a estes princípios é um pseudo-evangelho, o trágico engano de uma "fé estéril".

A missão é a ação de Cristo, e a ação de Cristo é uma ação de amor, de paixão que transforma. O amor é o elemento central da missão. O amor é transgressor e gratuito, leva a gente para fora da gente mesmo. "E se tivesse a profecia e entendesse todos os mistérios e toda a ciência, e se tivesse toda a fé, de tal maneira que transladasse os montes, e não tiver amor, nada sou" (1Cor 13,2).

O Evangelho nos disse que Jesus começou proclamando uma mensagem sobre seu reino, o centro mesmo dessa mensagem não está finalmente no que Ele disse, se não no que Ele foi e fez. A proclamação é sua cruz e sua ressurreição. É o amor que derramou em abundância em sua vida e em sua morte o que valida, vivifica e fortalece as palavras que pronunciou. Este é o ato evangelizador definitivo.

A missão consiste essencialmente em viver a vida cristã com Jesus, sentindo-nos solidários de toda a humanidade. A missão é a tarefa de fazer fermentar o conjunto da criação de Deus, a comunidade humana. O conteúdo desta ação é a vida do Reino, quer dizer, fazer efetiva a realidade do Senhorio de Cristo na vida do mundo.

Quando celebramos a “missa” (do latim “missio”/missão) estamos cumprindo o mandato de Jesus: “Façam isso em memória de mim”. Mas o que é esse “ISTO”? O que é para fazer mesmo? Fazer ISTO é fazer o que ele fez. A Ceia é a celebração (o ponto alto, um sumário) da vida dele, de suas práticas, de suas transgressões, conflitos, ternuras, presenças, falas, posturas. Por isso, a missa é tão importante para nossa estrutura de fé. Não por razões somente estéticas. Não, o culto não basta e nem é o mais “agradável a Deus”, basta revisitar a tradição profética. O culto, a missa, é para ao mesmo tempo regozijar-se pelo cumprimento e pela fidelidade ao caminho, mas também para lembrar criticamente que nosso espírito (nossa espiritualidade) pode estar precisando de rumo, de norte, de horizonte.

Penso que podemos sempre nos regozijar pelo trabalho da Pastoral da Criança que vai onde muita gente não chega, partilhar uma palavra (a vida, a comida, o cuidado com as pessoas, com o meio ambiente, com a integralidade das pessoas) que transforma quem leva a palavra e quem recebe a mesma. Todos somos transformados pela missão e pelo Espírito de Deus que nos empurra para esses lugares e para essas pessoas, para ver seus sorrisos e suas vidas serem cuidadas, do jeito que Deus cuida da gente.

Paulo Ueti

Assessor da Pastoral da Criança