Ao escrever sobre a Pastoral da Criança, não posso deixar de mencionar os 25 anos da Pastoral da Criança na Diocese de Piracicaba. Cresceu e expandiu-se por 13 municípios dos 15 que compreende a Diocese. Quem a faz crescer é o amor pela criança inspirado nas palavras de Jesus Cristo (Lc 9,48): “Quem acolhe uma criança, a mim acolhe”. Foi dessas palavras de vida que se originou a Pastoral da Criança no Brasil, em 1983. Palavras orientadoras da sua evangélica Missão. A criança, somente recebendo acolhimento, será a esperança do futuro. O acolhimento expressa-se no amor. O testemunho da Pastoral da Criança tem sido mostrar que o amor às crianças nunca pode ser abstrato e apenas sentimental. É necessariamente concreto, comprometido e prático.
Quem soube ensinar esse amor pela criança foi a Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral da Criança. Médica pediatra e sanitarista com experiência em saúde pública, ao ser incentivada a assumir esse novo trabalho pelo seu irmão, o Cardeal Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo, reconheceu que “estava sendo chamada por Deus para uma grande missão”. Como é próprio de uma pessoa carismática, teve de imediato a intuição de como deveria ser esse seu trabalho com as crianças, dizendo que “não bastava ensinar as mães a usarem o soro oral. Seria preciso, também, ensiná-las sobre a importância do pré-natal, aleitamento materno, vacinação, desenvolvimento integral das crianças, relações humanas, afim de que elas soubessem e fossem estimuladas a cuidar melhor de seus filhos” para que “crescessem em sabedoria e graça”, como ocorreu ao Menino Jesus, em Nazaré, junto a Maria e José, seus pais (Lc 2,40).
Servir a criança é enfrentar qualquer realidade a ser superada, sim, mas com as regras do amor e os olhos no futuro, procurando vencer as dificuldades do presente. Minha intenção aqui é fazer ver o que a Pastoral da Criança significa, pedagogicamente, no desenvolvimento integral da criança de zero a seis anos: acolhe crianças pobres nos bairros onde vivem sempre acompanhadas por suas mães, sem tirá-las de sua companhia; ajuda as mães a dar às suas crianças condições mínimas de bem estar que o amor materno deseja dar sem poder dar porque não dispõe delas para dar.
O Reino de Deus é onde se vive a justiça, a fraternidade, a paz. Quando quiseram impedir as crianças de se aproximarem dele, Jesus Cristo logo interpelou com certa indignação: “Deixai as crianças virem a mim” (Mc 10,14). Somente quem for capaz de atitude como esta, tem condição de acolhê-las. Em seguida, “Jesus abençoou-as pondo a mão sobre elas”. Não há criança que não tenha sobre ela a bênção de Deus. Apresentou-as, ainda, como espelho do Reino de Deus por sua candura, pequenez, fragilidade e beleza interior.
Os líderes comunitários da Pastoral da Criança, no desempenho de sua missão cristã, testemunham o amor de Jesus Cristo pelas crianças, imitando o seu gesto acolhedor: “Deixai as crianças virem a mim”.
Dom Eduardo Koaik
Bispo Emérito de Piracicaba