Dicas 24 - Círculos bíblicos
Da Coordenação Nacional da Pastoral da CriançaAs Coordenaçoes Paroquiais, de Áreas, Diocesanas e Estaduais
Julho de 2003 - nº 24
O CEBI - Centro de Estudos Bíblicos, através do Frei Carlos Mesters e Francisco Orofino, está elaborando Círculos Bíblicos para que os líderes da Pastoral da Criança possam aprofundar temas bíblicos que aparecem no Guia do Líder e no dia-a-dia no trabalho da Pastoral da Criança.
Serão 40 Círculos Bíblicos a serem publicados no Jornal da Pastoral da Criança a partir de setembro de 2003. Assim, os líderes poderão recortar os textos, preparar suas apostilas e utilizar nos encontros para aprofundar conhecimentos bíblicos ligados à prática como líder da Pastoral da Criança.
Os Círculos Bíblicos não vão substituir os encontros bíblicos que são feitos em várias dioceses. Eles serão utilizados conforme a necessidade e planejamento local dos líderes da Pastoral da Criança, podendo atender também as famílias acompanhadas pela Pastoral da Criança.
Para realizar os Círculos Bíblicos os grupos podem se encontrar nas casas das pessoas, na comunidade, no início de uma reunião de líderes como espiritualidade e tantos outros momentos. O importante é que o Círculo Bíblico seja preparado com a dedicação que as pessoas da Pastoral da Criança sempre dedicam a Palavra de Deus.
ROTEIRO DOS CÍRCULOS BÍBLICOS
Cada Círculo Bíblico segue o método VER, JULGAR, AGIR, AVALIAR e CELEBRAR, como estamos acostumados a fazer nas Pequenas Rodas de Conversa.
Também acompanha um texto com explicações para o grupo perceber melhor a ligação da Bíblia com a Vida e uma "Ajuda" para o grupo entender melhor a sociedade daquela época, como as comunidades resolviam seus problemas com a saúde, criança, o parto etc.
Estão sendo elaborados 40 Círculos Bíblicos, subdivididos em 4 blocos. Para conhecer mais sobre os Círculos Bíblicos, além deste Dicas, temos o artigo na sessão APRENDENDO MAIS do Jornal da Pastoral da Criança de edição n.º 82 e o programa de Rádio Viva a Vida nº 614, veiculado na semana entre 07 e 12 de julho de 2003.
O Primeiro Bloco: Aprendendo com Jesus, que começará a ser publicado no Jornal da Pastoral da Criança em setembro, foi escolhido pelo fato de que em todo o trabalho da Pastoral da Criança, Jesus sempre será o Mestre a ser imitado.
Jesus começou anunciar o seu Reino assumindo um trabalho com os marginalizados. De maneira especial, Jesus começa a valorizar as crianças. Na época de Jesus, uma criança não contava, era uma pessoa de segunda categoria. As crianças não podiam participar da vida em sociedade, logo, não freqüentavam nem o templo, nem as sinagogas.
As crianças simbolizavam o que há de mais fraco e desprezado numa sociedade. Mas Jesus, fazendo a opção pelos pobres, abençoa, acolhe, toca e chama as crianças. Valorizando sua fraqueza, as crianças são para Ele, exemplo de entrega e de confiança em Deus. Aprender com Jesus a trabalhar e a defender a vida das crianças é trabalhar pelo Reino de Deus. Devemos defender o que há de mais frágil e, por isso mesmo, mais divino, que é a vida das crianças.
DINÂMICA E MÉTODO DOS ENCONTROS
Nestes encontros adotamos a seguinte dinâmica. Em primeiro lugar, vamos refletir com base na Bíblia os problemas enfrentados no cotidiano da vida. Vamos ler a Bíblia a partir da nossa luta diária. Enfim, vamos partir de nossa Realidade.
Em segundo lugar, esta leitura deve ser feita em conjunto, através da partilha de opiniões dentro do nosso grupo de trabalho, reunindo as pessoas engajadas na Pastoral da Criança. É importante trazer para a leitura a vida em Comunidade. Um círculo bíblico é antes de tudo um ato de fé, uma prática de leitura orante, uma atividade comunitária.
Em terceiro lugar, esta leitura deve ser profundamente obediente ao Texto bíblico. Ou seja, a leitura comunitária respeita o texto, sem agredi-lo. Nossa comunidade deve colocar-se na escuta do que Deus tem a nos dizer hoje. Esta obediência se traduz na disposição de mudar, sempre que a Palavra nos convida a fazê-lo.
Esta prática de leitura orante, ao mesmo tempo tão simples e tão profunda, é fiel à mais antiga tradição das igrejas cristãs e imita de perto os passos seguidos por Jesus quando interpretava as Escrituras para os dois discípulos no caminho que levava a Emaús (Lc 24, 13-35). A leitura bíblica feita nestes encontros segue estes mesmos passos.
1º Passo: PARTIR DA REALIDADE (Lc 24,13-24) - VER
O texto de Lucas mostra Jesus encontrando dois amigos numa situação de fuga, de medo e de descrença. Estavam fugindo de Jerusalém, da comunidade. Sabemos que um deles se chama Cléofas. Não sabemos o nome do outro. Mas como o texto evangélico nos informa que Cléofas era casado e que sua mulher se chamava Maria (Jo 19,25), podemos deduzir que estamos diante de um casal de discípulos: Cléofas e Maria.
A morte na cruz tinha matado neles a esperança. Então Jesus se aproxima e começa a caminhar com eles. Participa da conversa, provocando e escutando. Pergunta: "De que vocês estão falando?". A ideologia dominante, a religião oficial, a doutrina há tanto tempo transmitida sem vivência, impedia-os de enxergar e de desenvolver uma consciência crítica. Eles já não conseguiam perceber algo novo nos últimos acontecimentos. E diziam: "Nós esperávamos que ele fosse o libertador, mas..." (Lc 24,21).
O texto nos mostra o primeiro passo de um encontro bíblico: aproximar-se das pessoas e abrir espaço para o diálogo, escutar a realidade da vida delas, os problemas que invadem o cotidiano e que, por vezes, dificultam a fé em Jesus.
É importante saber fazer as perguntas certas para que elas desabafem suas angústias e suas frustrações. Perguntas que ajudem a olhar a realidade com um olhar mais crítico. Saber entender a Realidade é o primeiro passo para enfrentá-la e superá-la.
2º Passo: USAR A BÍBLIA PARA ILUMINAR A REALIDADE (Lc 24,25-27) - JULGAR
Na conversa com os discípulos, Jesus usa a Bíblia. Não para dar uma aula, nem para transmitir informações. Mas para iluminar o problema que fazia aquele casal sofrer. O texto serve para clarear a situação pela qual eles estavam passando naquele momento. Jesus buscava situá-los dentro do projeto de Deus para mostrar que a história não tinha escapado das mãos de Deus, por mais que os fatos contrariassem esta impressão.
O segundo passo é este: com a ajuda da Bíblia, transformar os fatos que nos parecem sinais de cruz e de morte em sinais de vida e de esperança. Tudo aquilo que nos impede de caminhar é capaz de transformar-se em força e luz para a caminhada.
3º Passo: CELEBRAR E PARTILHAR NA COMUNIDADE (Lc 24,28-32) - CELEBRAR
A Bíblia por si mesma não abre os olhos das pessoas. Mas faz arder o coração! (Lc 24,32). O que abre os olhos e faz aquele casal perceber a presença de Jesus foi a atitude deles em acolher aquele desconhecido e convidá-lo para a refeição. É a partilha, tanto a partilha que Jesus faz da Palavra quanto a partilha do pão oferecido por Cléofas e Maria, que os levou a descobrir a presença do Ressuscitado no meio deles.
No momento em que é reconhecido, Jesus desaparece. Sua presença física não é mais necessária! Agora Cléofas e Maria experimentam a ressurreição, a vida nova que os faz renascer e caminhar em comunidade. Concretiza-se assim a palavra do próprio Jesus: "Onde dois ou mais estiverem reunidos, eu estou no meio deles!" (Mt 18,24).
O terceiro passo é este: saber criar um ambiente orante de fé, de fraternidade e de partilha onde possa atuar o Espírito Santo. É o Espírito que nos faz entender o verdadeiro sentido das palavras de Jesus e descobrir que o Ressuscitado está no meio de nós.
4º Passo: RESSUSCITAR E VOLTAR PARA JERUSALÉM (Lc 24,33-35) - AGIR
Agora tudo mudou! Eles mesmos ressuscitaram! O casal cria coragem e faz o caminho de volta. Voltam para Jerusalém, para a comunidade. Voltam para a cidade onde continuam ativas as forças da morte que mataram Jesus. Mas também para o lugar onde agora se manifestam as forças da vida nova! Uma vida nova que se concretiza na partilha da experiência de ressurreição. Onde antes havia medo, agora existe coragem! Onde antes havia fuga, agora existe retorno e disponibilidade.
A mudança fez nascer a esperança em vez de desespero, consciência crítica em vez de fatalismo frente ao poder, liberdade em vez de opressão! Enfim: VIDA em vez de morte! Eles, que antes estavam presos à má notícia da morte de Jesus, agora trazem uma Boa Nova: Jesus ressuscitou!
O quarto passo é este: experimentar a presença viva de Jesus e do seu Espírito presente no meio de nós. É ele que abre nossos olhos sobre a Bíblia e sobre sua própria ressurreição e nos leva a partilhar a experiência de Ressurreição com os irmãos e as irmãs de outras comunidades e mesmo de outras igrejas cristãs. O objetivo desta leitura bíblica é escutar Deus que nos fala hoje!
Esta prática de Jesus, das comunidades, das igrejas cristãs e dos pobres nos oferece uma dinâmica e um método que vamos adotar nestes círculos bíblicos voltados para o espiritualidade das pessoas engajadas na Pastoral da Criança.
Como discípulas e discípulos de Jesus, vamos caminhar com ele na estrada de Emaús. No roteiro dos nossos encontros seguiremos os mesmos passos do encontro entre Jesus, Cléofas e Maria na estrada de Emaús.
Comecem a colecionar os artigos da sessão Aprendendo Mais do Jornal da Pastoral da Criança e as publicações dos círculos bíblicos!!!
BOM TRABALHO A TODOS!!!