Vou começar dizendo que é comum que as crianças sejam ativas, elas pulam, gritam, choram, correm, cantam e caem, entre muitos outros comportamentos ativos e impulsivos que são apresentados por crianças típicas no decorrer de seu desenvolvimento. Por isso é de extrema importância distinguir a verdadeira hiperatividade de tais comportamentos. Agora vamos falar sobre hiperatividade.
O que é hiperatividade?
A hiperatividade é um dos componentes mais conhecidos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A criança hiperativa mostra um excesso de comportamentos em relação às outras crianças da mesma idade, além da dificuldade em manter a concentração, impulsividade e agitação. A hiperatividade pode se manifestar por sintomas de inquietação, nervosismo, instabilidade emocional e movimentos excessivos em que as crianças apresentam dificuldade em brincar muito tempo com um mesmo jogo, estão sempre correndo, pulando e saltitando ao invés de andarem, vivem perdendo materiais escolares, mudam rapidamente de uma atividade para outra, costumam comer e/ou assistir televisão em pé e/ou andando de um lado para o outro, esbarram nas pessoas ou nos móveis, tropeçando, caindo e se machucando, apresentam dificuldade em lidar com as frustrações, não assistem a um filme inteiro, não ficam sentadas por um longo período, se distraem facilmente por qualquer estímulo e tendem a expressar suas emoções com maior intensidade, independente do tipo de emoção.
É comum em um diálogo a criança hiperativa não saber esperar e responder às perguntas antes que a outra pessoa conclua sua ideia, a fala é compulsiva e pode ser desorganizada pela “ansiedade de falar”. O sono da criança hiperativa costuma ser agitado, falam e giram o corpo na cama, podendo tremer e balançar a perna para dormir. Além disso, são crianças que possuem necessidade de agir rapidamente e não possuem autocontrole. Todos estes comportamentos com frequência são acompanhados de uma dificuldade de concentração, principalmente durante as aulas, leituras, realização de atividades escolares e domésticas e até mesmo para brincar de maneira mais calma com os colegas.
Os sintomas da hiperatividade se tornam mais visíveis durante a tarde e a noite, quando as tarefas aumentam o nível de exigência e complexidade, quando a informação ou tarefa são pouco interessantes ou estimulantes e em situações que exigem um comportamento mais controlado durante um espaço de tempo, como em um jantar, reunião, aula, entre outros.
A hiperatividade pode ocorrer em diferentes graus de intensidade, com sintomas que variam de leves a graves. Pode afetar crianças, adolescentes e até mesmo alguns adultos, embora seja mais comum encontrar meninos hiperativos.
Tipos de hiperatividade
Predominantemente desatento: dificuldade de prestar a atenção e manter a concentração por períodos de tempo a assuntos que são pouco interessantes para a pessoa.
Predominantemente hiperativo e impulsivo: dificuldade em se manter tranquilo no mesmo local quando a tarefa ou conversa que estão a ouvir não é interessante para a pessoa. Outro aspecto é a dificuldade em parar para pensar/analisar as consequências da ação que está prestes a iniciar.
Combinado desatento + hiperativo: é o mais comum dos três tipos de hiperatividade. A pessoa é desatenta, hiperativa e impulsiva.
Causas da hiperatividade
É importante que as causas da hiperatividade sejam identificadas de forma correta, pois a ausência de um diagnóstico diferencial pode levar a tratamentos inadequados. Especialistas acreditam que as causas mais comuns são de ordem genética em interação direta com fatores ambientais.
Em crianças, podem existir as seguintes causas de hiperatividade:
- Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
- Uso de álcool, tabaco, substâncias psicoativas pela mãe durante a gestação
- Complicações na gestação, como injúria fetal, lesão cerebral
- Parto prematuro e baixo peso do bebê
- Complicações no parto, como hipóxia, partos prolongados e traumáticos ao bebê
- Mãe sob estresse contínuo, mãe mal nutrida ou desnutrida
- Ambiente familiar desorganizado, caótico e desestruturado
- Maus tratos e abuso
- Problemas situacionais, como crises familiares (luto, separação parental e outras) levando a quadros de hiperatividade reativa
- Transtornos de aprendizagem
- Deficiência intelectual
- Doenças invasivas do neurodesenvolvimento, como o autismo
- Doenças genéticas e outras doenças, como pós-encefalites virais, entre outras
Já entre os adultos, as causas mais comuns para hiperatividade são:
- Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
- Outros transtornos psiquiátricos como, por exemplo, transtorno bipolar
- Outros transtornos fisiológicos, como hipertireoidismo e fecromocitoma
- Doenças cérebrovasculares e outras do doenças do sistema nervoso central
- Intoxicação por chumbo, mercúrio e outros metais pesados
- Uso em excesso de medicamentos psicoestimulantes, drogas (cocaína), cafeína, tabaco
- Síndrome de abstinência de drogas
- Exposição a pesticidas e/ou adubos agrícolas e a produtos químicos
- Exposição a produtos domésticos com princípio ativo muito forte como diluente, amoníaco ou vernizes
- Meio familiar caótico, desorganizado e dinâmica agressiva
- Distúrbios emocionais, instabilidade no emprego e nos relacionamentos
Diagnóstico
O diagnóstico antes dos 4 ou 5 anos raramente é feito, pois o comportamento das crianças desta idade é muito variável e a atenção não é tão exigida quanto a atenção de crianças maiores. É importante ressaltar que mesmo assim, algumas crianças desenvolvem o transtorno em uma idade muito precoce.
Todo o diagnóstico é fundamentalmente clínico, realizado por profissionais que conheçam profundamente o assunto e que descartem outras doenças e transtornos, para então indicar o melhor tratamento. A participação dos pais e professores neste processo é de extrema importância, pois são eles que irão trazer as informações detalhadas da criança, seu histórico de vida desde a concepção, até a análise do histórico de vida dos pais, irmãos e familiares biológicos, incluindo todos os dados do histórico patológico pregresso, análise do histórico e ambiente escolar, social e dinâmica do sistema familiar. Em alguns casos são pedidos exames de sangue, radiológicos, tomografia ou eletroencefalograma e avaliações específicas (oftalmologista, fonoaudiólogo, neuropsicólogo, otorrinolaringologista, psicólogo).
É importante lembrar que a hiperatividade é caracterizada pela combinação de inquietude e falta de atenção em um nível impróprio para a idade da criança, ou seja, sempre que houver uma hiperatividade persistente, junto a quadros desatencionais, de impulsividade e que levem a rejeição social e queda no rendimento escolar, é a hora de buscar um profissional.
Lidando com a hiperatividade
Conviver com uma criança hiperativa não é uma tarefa fácil, pois elas não cooperam, não respondem ao que é ensinado, vivem derrubando as coisas, não param quietas e estão sempre em movimento. Porém é essencial que pais e professores compreendam tais comportamentos como uma dificuldade e não como um comportamento desafiador ou desobediente. A criança hiperativa não se comporta desta maneira porque deseja e sim pelo fato de não possuir habilidades necessárias para se comportar da maneira esperada.
Dicas para os pais
- Estabelecer regras que sejam claras e seguidas por todos. Lembre-se que os pais atuam como modelos para os filhos.
- Repetir a mesma instrução várias vezes sem perder a paciência
- Elogie, elogie e elogie. Não espere pelo comportamento perfeito, valorize os pequenos acertos e conquistas da criança.
- Limitar o número de brinquedos disponíveis para evitar a distração.
- Oferecer carinho e atenção para o seu filho.
Dicas para os educadores
- Evite colocar o aluno hiperativo nos cantos da sala, para evitar que se distraiam com outros estímulos. Eles devem ficar nas primeiras carteiras das fileiras do centro da classe, e de costas para ela.
- Utilize uma rotina clara e previsível, crianças hiperativas têm dificuldade em se ajustar a mudanças de rotina.
- Deixe-os pertos de fontes de luz para que possam enxergar bem.
- Não fale de costas, mantenha sempre o contato visual.
- Intercale as atividade de alto e baixo interesse durante o dia, em vez de concentrar o mesmo tipo de tarefa em um só período.
- Utilize frases claras e curtas e peça para que o aluno repita ordens e instruções, certificando-se de que ele entendeu.
- Permita movimentos na sala de aula. Peça ao aluno para buscar materiais, apagar o quadro, recolher trabalhos. Assim ele pode sair da sala quando estiver mais agitado e recuperar o autocontrole.
- Esteja sempre em contato com os pais. Anote no caderno da criança as tarefas escolares, mande bilhetes diários ou semanais e peça aos responsáveis que leiam as anotações.
- Procure elogiar e incentivar o que o aluno tem de bom e quando for bem sucedido em suas atividades. Isso ajuda a elevar sua autoestima.
- Crianças hiperativas produzem melhor em salas pequenas.
- Proporcione um ambiente acolhedor, demonstrando calor e contato físico de maneira adequada e, se possível, fazer os colegas também terem a mesma atitude.
- Nunca provoque constrangimento ou menospreze o aluno.
- Proporcione trabalho de aprendizagem em grupos pequenos e favoreça oportunidades sociais.
- Adapte suas expectativas quanto ao aluno, levando em consideração suas inabilidades decorrentes da hiperatividade.
- Estabeleça regras claras e objetivas.
- Desenvolva atividades físicas para toda a turma, como exercícios de alongamento.
- Desenvolva métodos variados utilizando apelos sensoriais para ensinar a criança (auditivo, visual, tato).
- Permaneça em comunicação constante com o psicólogo e orientador da escola. Eles são as melhores ligações entre escola, pais e médicos.
Paola Borges da Costa - Psicóloga CRP 08/16053
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