Foto: Paróquia São João Batista – Paranhos (MS)
A maioria dos adultos provavelmente já escutou de algum amigo, familiar, educador físico, médico ou nutricionista que para melhorar o seu estado de saúde é fundamental a prática de atividade física. No entanto, o raciocínio que algumas pessoas não fazem é de que as crianças de 0 a 4 anos de idade também devem se exercitar diariamente. Inclusive, o tempo diário recomendado para essa faixa etária é maior, quando comparado às crianças em idade escolar e aos adultos. A recomendação atual é de 180 minutos ou pelo 3 horas de atividades por dia.
Isso quer dizer que essas crianças precisam fazer algum tipo de esporte, artes marciais ou dança? Com certeza não! É nesse ponto que podemos perceber a grande diferença. Para as crianças pequenas, as atividades rotineiras de brinquedos e brincadeiras são tudo o que elas precisam. Brincar é uma necessidade para o desenvolvimento da criança e um direito. Para elas, isso é tão natural quanto respirar. Os adultos só precisam cuidar para que a criança realmente tenha tempo e oportunidade para brincar livremente e em ambientes seguros.
Prevenção da obesidade infantil e outras doenças
Na medida em que essas crianças vão crescendo, aí sim podem ser incluídas outras práticas de atividades físicas, desde que adequadas para a idade e que a criança faça por prazer, e não como uma exigência dos pais. A prática esportiva oferece inúmeras opções, como futebol, basquete, vôlei, natação, atletismo, ciclismo, tênis, artes marciais, patinação, skate…Alguma delas há de se encaixar com o perfil da criança. Se o interesse tiver mais relacionado ao lado artístico, por exemplo, também existem vários tipos de dança que podem proporcionar movimentação e divertimento.
Saiba mais: Atividade física ideal para cada idade da criança
Além de ser uma forma de gastar energia e combater a obesidade infantil, a prática de exercícios físicos oferece muitos outros benefícios para as crianças. São eles: crescimento e desenvolvimento saudável; melhor autoestima; ossos, músculos e articulações mais fortes; melhor postura e equilíbrio; um coração mais forte; faixa de peso saudável; melhor interação social com os amigos; aprendizado de novas habilidades enquanto se diverte; melhor foco e concentração durante as aulas. Benefícios tanto para o corpo, quanto para a mente.
Dr. Cesar Gomes Victora – pesquisador, professor da Universidade Federal de Pelotas e parceiro da Pastoral da Criança – explica que a origem da obesidade pode estar já no período de gestação e início da vida. Por isso, são tão importantes os cuidados durante os primeiros mil dias da criança. Confira um trecho da fala do Dr. Cesar, em entrevista a Ricardo Zorzetto, da Revista Fapesp:
Como cuidar da criança nos mil dias?
A primeira coisa é investir para que a mulher comece uma gestação saudável. Que não seja subnutrida, nem obesa, nem tenha diabetes. Durante a gestação, é preciso oferecer pré-natal de qualidade. No Brasil o número de atendimentos pré-natal é grande, mas a qualidade é baixa. Não é preciso alta tecnologia. Tem de fazer os exames básicos, orientar a nutrição. Após o parto, precisa orientar a mãe a amamentar nos primeiros seis meses de vida, sem dar mais nada, e tentar seguir amamentando até os dois anos. Só a partir dos seis meses, entrar com alimentos com alto valor de proteína e nutrientes. É nessa fase que a criança desenvolve mais o cérebro, o fígado, o pâncreas, órgãos que podem causar problemas na idade adulta. A partir de dois anos, o desafio é evitar que a criança engorde. Nossos resultados mostram que o ganho de peso rápido no início da vida se transforma em ossos, músculos e vísceras, como fígado e cérebro. Depois de dois anos, se transforma em gordura.
E essa gordura leva a problemas…
A pior combinação é ser subnutrido no começo da vida e obeso depois. A criança que é subnutrida no útero, nasce com baixo peso e tem um déficit de altura nos dois primeiros anos de vida, seu organismo fica programado para ser pequeno e, depois, não tolera uma dieta como a que temos, com alimentos gordurosos e ultracalóricos. O Brasil está numa fase crítica. Os adultos de 30 anos são as crianças que cresceram quando havia desnutrição e subnutrição. Agora enfrentam um ambiente obesogênico, com pouca atividade física e abundância de comida. Achei um equívoco o Fome Zero. Fome no Brasil, se existir, é em bolsões. Todos têm o que comer, mas comem as coisas erradas, porque são baratas.