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Como Conversar com as Crianças Sobre a Morte de um Familiar
A perda de um ente querido é uma das situações mais difíceis que uma família pode enfrentar. Mesmo após o fim da pandemia de Covid-19, muitas famílias ainda estão lidando com as consequências emocionais e a perda de membros importantes. Falar sobre a morte é um desafio, principalmente quando se trata de crianças, que precisam ser cuidadosa e respeitosamente informadas. Aqui estão algumas orientações, adaptadas para o contexto atual, para ajudar a lidar com essa situação de maneira sensível e apropriada.
PASSO 1: PREPARE-SE PARA A CONVERSA
É natural sentir que falar sobre a morte com as crianças é algo muito difícil. A vontade de proteger os pequenos é compreensível, mas esconder a realidade pode gerar mais confusão e ansiedade. Se possível, converse com outro adulto de confiança para se organizar e ter apoio antes de falar com as crianças. Isso ajudará a garantir que você se sinta mais preparado para abordar o assunto.
Algumas dicas úteis:
- Reserve um tempo para escutar e entender o que as crianças já sabem sobre a situação. Muitas vezes, nós, adultos, antecipamos as reações e preocupações das crianças baseadas em nossas próprias emoções.
- Mantenha o foco no que as crianças precisam saber naquele momento. O que é importante é que elas entendam o que está acontecendo, de forma clara e adaptada à sua idade.
- Lembre-se de que até crianças muito pequenas, com menos de 2 anos, podem perceber que algo está diferente em casa, então, elas precisam de explicações adequadas.
PASSO 2: PREPARE A INFORMAÇÃO
Antes de falar com as crianças, é importante pensar no que elas já sabem sobre doenças, morte e o que aconteceu. Por mais que estejam em casa e muitas vezes com pouco contato com o mundo exterior, elas vão perceber as mudanças e a agitação emocional à sua volta.
Prepare-se para dar as notícias de maneira direta, mas com cuidado. Se houver outros adultos em casa, converse com eles primeiro para que todos estejam alinhados e a comunicação com as crianças seja consistente e serena.
PASSO 3: PREPARE O AMBIENTE
Escolha um lugar tranquilo e confortável para a conversa, onde todos se sintam à vontade. Dependendo da idade das crianças, pode ser melhor contar a notícia para todas juntas ou, se necessário, para algumas delas separadamente, para evitar que crianças mais novas se distraiam.
Se alguma criança tem um brinquedo ou objeto de estimação que a ajude a se sentir segura, ofereça esse objeto durante a conversa.
PASSO 4: COMEÇANDO A CONVERSA
Convide as crianças para uma conversa de forma calma, pedindo que parem o que estão fazendo e venham até você. Diga que precisa de um momento para falar sobre algo importante.
Fale devagar e com clareza, evitando pressa ou falar demais de uma vez. A dor e o nervosismo podem nos fazer falar rapidamente, mas é fundamental dar espaço para as crianças absorverem o que estão ouvindo.
Exemplo:
“Você pode vir aqui, sentar ao meu lado? Eu preciso falar com você sobre algo importante.”
“O médico acabou de me ligar para contar que [nome] morreu.”
PASSO 5: EXPLIQUE O QUE ACONTECEU
A explicação precisa ser clara e honesta. Evite eufemismos como "dormir", "viajou" ou "foi morar no céu", pois as crianças pequenas podem confundir essas expressões e pensar que a pessoa pode voltar.
Explique de maneira simples, como:
“[Nome] estava muito doente, e o corpo dele parou de funcionar. Ele morreu, e não vai voltar.”
Para crianças mais velhas, você pode dar mais detalhes, como:
“[Nome] estava com uma infecção grave e, apesar de todos os cuidados dos médicos, não conseguimos impedir que ele morresse.”
Dê uma pausa após informar sobre a morte. Isso ajuda as crianças a processarem o que acabaram de ouvir.
PASSO 6: LIDANDO COM AS REAÇÕES DAS CRIANÇAS
As reações das crianças podem variar bastante. Algumas podem chorar, outras ficar em silêncio, ou até mesmo negar a realidade da situação. É importante validar essas reações, deixando claro que é normal sentir tristeza, raiva, ou confusão.
Exemplos de respostas para as reações das crianças:
- Se a criança chorar ou gritar: "Eu sei que é muito triste e difícil de entender agora. Eu estou aqui com você."
- Se a criança disser que não acredita ou que isso não é verdade: "Eu sei que é difícil, mas é a verdade. Estou aqui para conversar sobre tudo o que você está sentindo."
- Se a criança ficar muito quieta ou distante: "Sei que isso é muito difícil de entender. Está tudo bem em ficar em silêncio, mas sempre que quiser conversar, estou aqui."
PASSO 7: SE PREPARANDO PARA AS PERGUNTAS DAS CRIANÇAS
As crianças, naturalmente, terão perguntas sobre a morte. Estar preparado para as perguntas mais comuns pode ajudar a lidar com a situação de maneira mais tranquila.
Algumas perguntas típicas e como responder:
- O que causou a morte?
"A pessoa estava doente, e seu corpo não conseguiu lutar contra a doença. Não foi culpa de ninguém." - Eu ou outras pessoas vão morrer também?
"Muitas pessoas ficam doentes, mas estamos tomando cuidado para que todos fiquem bem. Estamos seguindo as orientações para nos proteger." - Por que isso aconteceu?
"Às vezes as pessoas ficam doentes e, infelizmente, não conseguimos curá-las a tempo. Isso não é culpa de ninguém."
Ao responder, lembre-se de adaptar as respostas para a idade e a compreensão de cada criança.
PASSO 8: FINALIZANDO A CONVERSA
Após a conversa, tente tranquilizar as crianças, lembrando-lhes que estão sendo amadas e cuidadas. É importante também que elas saibam que podem sempre voltar a conversar sobre o assunto sempre que precisarem.
Exemplos de como encerrar:
- “Sei que isso é muito triste agora, mas quero que saiba que estou aqui com você. Juntos vamos passar por isso.”
- “Você tem alguém com quem possa conversar quando se sentir triste, além de mim?”
Prepare-se para revisitar o tema em outras ocasiões, principalmente com as crianças mais novas, que podem precisar de mais tempo para processar e entender a situação.
PASSO 9: CUIDANDO DE VOCÊ TAMBÉM
Por último, lembre-se de cuidar de si mesmo. Falar sobre a morte de um ente querido é emocionalmente desgastante, e é importante que você tenha o apoio de amigos ou familiares. Se sentir que precisa de ajuda, não hesite em procurar um profissional para lhe dar o suporte necessário.
Essas conversas são difíceis, mas também são uma oportunidade de ajudar as crianças a entenderem a morte de forma honesta e cuidadosa, fortalecendo o vínculo familiar e ajudando-as a lidar com a dor de forma mais saudável.
- Conecte-se com outras pessoas, grupos e organizações que podem ajudar a apoiar você e sua família
Fonte: Dr Louise Dalton, Dr Elizabeth Rapa, Helena Channon-Wells, Dr Virginia Davies, Dr Carolina Coll and Prof Alan Stein. June 2020. Disponível em: www.psych.ox.ac.uk/research/covid_comms_support.
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