Em Tempos de Covid-19: Como Conversar com as Crianças Sobre os Nossos Sentimentos
O mundo todo já viveu um período de intensas preocupações em relação à Covid-19, e embora a pandemia tenha chegado ao fim, os efeitos emocionais e as lições deixadas por esse período ainda permanecem. As notícias sobre o vírus, a quantidade de casos, internações e óbitos, causaram uma grande onda de apreensão e medo na população. Como adultos, enfrentamos o medo de adoecer, de perder entes queridos, e até mesmo a incerteza de como proteger nossos filhos. Essas emoções são naturais, mas a maneira como lidamos com elas é fundamental, especialmente quando se trata de nossos filhos.
Reconhecendo o Medo e a Ansiedade
Ao longo da pandemia, a maior lição foi a de que, como adultos, sentimos medo e insegurança. Isso é perfeitamente normal e precisamos reconhecer esses sentimentos para poder lidar com eles de forma saudável. No entanto, é importante que entendamos que, embora o medo seja uma reação legítima, não podemos deixar que ele controle nossas ações. A ansiedade e o desespero aumentam o medo, o que pode afetar nossa capacidade de tomar decisões e ainda influenciar negativamente as crianças ao nosso redor.
Mesmo após a pandemia, o medo pode ainda existir, em menor intensidade, mas deve ser controlado. O mais importante é enfrentar essa emoção com serenidade e sabedoria, seguindo as orientações das autoridades sanitárias, e mantendo a calma ao lidar com os desafios que surgem.
O Impacto do Medo nas Crianças
As crianças são extremamente sensíveis ao que acontece ao seu redor. Elas percebem os sentimentos e as emoções dos adultos, mesmo quando não falamos diretamente sobre eles. Mesmo as crianças muito pequenas, de 2 ou 3 anos, podem sentir quando estamos ansiosos, com medo ou inseguros, e isso as deixa ainda mais vulneráveis. A pandemia mudou profundamente o cotidiano delas: o afastamento social, a falta de contato com amigos e familiares, e a ausência das atividades escolares presenciais geraram um sentimento de insegurança que precisa ser abordado.
Agora, com a volta gradativa de algumas atividades presenciais, as crianças precisam de apoio emocional para lidar com a transição. Mesmo com a pandemia controlada, é essencial que os adultos continuem a dar a devida atenção à saúde emocional das crianças.
Conversando com as Crianças Sobre o Medo
A segunda ação fundamental para lidar com o medo é conversar com as crianças. Precisamos ser honestos sobre o que estamos sentindo, mas também ouvi-las. Ao fazermos isso, mostramos que é normal ter medos, e que é saudável falar sobre eles. Para que as crianças se sintam seguras e compreendam o que estão vivendo, precisamos dar o exemplo. Isso significa não apenas orientá-las sobre como se proteger (lavar as mãos, manter a distância, usar máscara, etc.), mas também compartilhar com elas nossos próprios sentimentos, como o medo, a insegurança e, até mesmo, a esperança de que, com o tempo, as coisas irão melhorar.
Ao falar sobre nossos sentimentos e ouvir o que elas estão sentindo, criamos um ambiente de confiança, onde as crianças podem expressar suas emoções e se sentir mais seguras. Não devemos esconder as dificuldades, pois as crianças acabam percebendo as mudanças e, muitas vezes, interpretam as situações de maneira confusa ou até mesmo assustadora. É melhor estar junto delas, explicar a situação de forma clara e adequada à idade delas, e apoiar suas emoções de forma empática.
Como Abordar a Situação de Forma Honesta
Explicar às crianças o que está acontecendo e como estamos lidando com a situação diminui a ansiedade delas. Quando não explicamos a realidade de maneira clara e honesta, as crianças acabam criando suas próprias interpretações, que podem ser muito mais assustadoras ou confusas do que a realidade. A honestidade é um ponto-chave, mas também é importante falar com elas de forma simples e acessível, para que possam entender sem sobrecarregá-las.
Por exemplo, não basta apenas dizer “estamos todos bem”. Precisamos explicar que, apesar de termos que tomar cuidados extras, tudo isso faz parte de um esforço coletivo para ficarmos seguros. Mostrar às crianças como estamos colaborando com os outros para manter todos protegidos é uma maneira eficaz de lidar com o medo, ao mesmo tempo em que ensinamos valores de solidariedade e responsabilidade.
Exemplo de Coragem e Solidariedade
A terceira ação é mostrar pelo nosso próprio exemplo que o medo pode ser enfrentado com coragem. Ao enfrentarmos a situação com serenidade, as crianças aprendem que, apesar das dificuldades, podemos seguir em frente, ajudando uns aos outros. A colaboração e a solidariedade são valores que devem ser transmitidos, especialmente nesse momento de mudanças.
Embora o medo seja natural, o mais importante é como reagimos a ele. Se, como adultos, mostrarmos que estamos enfrentando a situação de forma responsável, isso ajudará as crianças a se sentirem mais seguras e preparadas para lidar com seus próprios sentimentos.
A Importância de Ouvir as Crianças
É fundamental ouvir o que as crianças têm a dizer. Cada criança percebe a situação de maneira diferente, dependendo da sua faixa etária e do seu nível de compreensão. Uma criança de 5 anos pode entender a situação de maneira muito diferente de uma criança de 12 anos. Portanto, precisamos estar atentos ao que elas sentem, ao que elas pensam sobre a situação, e ajudá-las a processar essas emoções.
A comunicação com as crianças não deve ser apenas sobre os fatos (o que está acontecendo com a doença, como ela se transmite, etc.), mas também sobre os sentimentos. Podemos perguntar o que elas acham da situação, o que as preocupa, e se elas têm medo de algo. Isso ajuda a reduzir a ansiedade e a construir um espaço seguro para que elas compartilhem suas próprias preocupações.
Evitar a Ansiedade Desnecessária
Por fim, é importante lembrar que a ansiedade é contagiante. Se os adultos se sentirem muito ansiosos ou desesperados, isso pode passar para as crianças, que ficam preocupadas com a saúde e o bem-estar dos adultos. Mesmo que estejamos preocupados, devemos demonstrar calma, porque essa serenidade ajuda as crianças a se sentirem mais seguras.
A chave para lidar com o medo, tanto para nós quanto para as crianças, é enfrentar essa emoção com coragem, e agir em colaboração com as outras pessoas ao nosso redor. Assim, mostramos às crianças não apenas como lidar com os desafios, mas também como se apoiar mutuamente em tempos difíceis.
O Ministério da Saúde preparou uma cartilha que ajuda bastante no momento de conversar com as crianças sobre o coronavírus. Você pode baixá-la aqui.
*Texto adaptado com base nas orientações de Elizabeth Tunes
Elizabeth Tunes possui graduação em Psicologia pela Universidade de Brasília, mestrado e doutorado em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é pesquisadora associada da Universidade de Brasília e professora do Centro Universitário de Brasília. Sua atividade de pesquisa focaliza, principalmente, os seguintes temas: conhecimento científico e conhecimento escolar, relação professor-aluno, aprendizagem e desenvolvimento, desenvolvimento psicológico atípico e deficiência mental, processos de escolarização e o significado social da escola.
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